Haverá uma hipercatástrofe humana?
Aquecimento global e imigração
Gilles Lapouge
Caso a temperatura suba, como
preveem alguns, os migrantes
se multiplicarão
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Imigrantes africanos sendo resgatados pela marinha italiana ao atravessarem o Mar Mediterrâneo |
E se a temperatura subir 4,5 graus até o final deste século, como preveem
alguns meteorologistas, o que seria dos migrantes? Bem, eles se multiplicariam.
Um trabalho da Columbia University com base em dezenas
de estatísticas cruzadas mostra que a
temperatura do globo tem um efeito automático sobre os fluxos migratórios.
O número que garantiria a estabilidade é de 20 graus. Mas caso a temperatura
suba acima desse número médio, ou diminua, é seguida de movimentos
populacionais. Esses movimentos serão
muito mais violentos e devastadores no caso de um aumento de temperatura do que
na redução.
Pesquisadores da Columbia
tomam o exemplo de um aumento de 4,5 graus: os pedidos de asilo passariam de 188% daqui até 2.100. Isso
significa que a Europa receberia 680 mil casos a mais por ano do que no período
de 2.000 a 2.014.
Ou, um dia desses, nós
poderíamos tomar consciência da devastação
que o fluxo de migrantes representa para a Europa:
a) a União Europeia ameaçada de paralisia ou divisão,
b) a revolta dos países do Leste (Hungria, Polônia,
República Checa, Eslováquia e Áustria atual) que rejeitam a entrada dos que
pedem asilo ou, mais radicalmente, erguendo muros “contra migrantes” nas suas
fronteiras, e
c) a Grã-Bretanha optando por deixar a União Europeia
pelo Brexit,
d) Madame Merkel contestada em toda sua onipotência
porque acolheu generosamente, delirantemente, em 2015, 1 milhão de migrantes.
e) E em todos os lugares o retorno das ideologias populistas, entre fascismo e nazismo.
A verdade é que a entrada de
migrantes já fragilizou todos os países da Europa e corre o risco de fazer
explodir a União Europeia. O que
acontecerá se o número de pedidos de asilo aumentar em 188%, como afirma o
estudo da Columbia?
a) Revoltas, motins, movimentos extremistas?
b) Massacres de migrantes?
c) O Mar Mediterrâneo como um vasto cemitério?
d) Ruínas?
e) Massacres de migrantes por grupos de justiceiros?
f) Uma nova Idade Média?
g) As religiões tornando-se alucinadas?
h) Crises alimentares?
i) Isso sem falar das áreas costeiras dos países europeus
já ameaçadas pelas águas em ascensão.
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Mais de 100 mil refugiados e imigrantes entraram na Europa nos seis primeiros meses de 2017 Foto: Manu Brabo/AP |
O perigo bate nas portas desta época. Mais algumas décadas e a Europa enfrentará um dos
mais misteriosos desafios de sua história. A menos que os planos desenvolvidos
nas conferências climáticas não tragam resultados e o calor não passe do
aumento de 2% até 2.100. Mas quem acredita nessa promessa, depois que o líder
mundial entre os poluidores, Donald Trump, recebe com escárnio e resmungos os
alarmes dos cientistas?
Desde já, um dos escudos que
a Europa pensava encontrar para combater a proliferação de migrantes, tornou-se
irrelevante. Os governos fazem uma clara
diferença entre “bons imigrantes” e “maus imigrantes”. Os “bons” são os “políticos”, aqueles que
deixam o Oriente ou a África porque provavelmente morrerão lá. Os “maus imigrantes” são aqueles que vão à
Europa para viver melhor do que em seu país de origem.
Na realidade, essa distinção é incerta: homens que
enfrentam morte, afogamento e tormento, por dois anos, três anos, para serem
tratados como cães, seriam eles “caprichosos”, trapaceiros que mal e mal fazem uma “caminhada saudável”?
Em 2.015, 3.700 pessoas
morreram atravessando o Mar Mediterrâneo. Eles foram “bons afogados”
(políticos) ou “maus afogados” (econômicos)?
Segundo o especialista
europeu François Gemenne, “metade da
população africana obtém a parte fundamental da sua renda na agricultura de subsistência”.
Ela é muito vulnerável às mudanças climáticas. Em outras palavras, aqueles que são chamados de migrantes
“econômicos” são igualmente migrantes “climáticos”.
A distinção entre “bons migrantes” e “maus migrantes”
perderia então o pouco de razão que afirma ter.
Devemos esperar que a
revelação da universidade nova-iorquina, desses dados assustadores, tenha um
efeito benéfico e leve um pouco de juízo ao cérebro ou ao coração encarquilhado
dos políticos? François Gemenne responde: “essa situação tem dois gumes. Pode
conduzir à ação ou, pelo contrário, assustar os governos e levá-los a
fortificar suas fronteiras”.
Traduzido
do francês por Claudia Bozzo.
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