«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Revisitando Jesus

Uma linguagem nova para a Boa Nova de Jesus

Claudia Fanti
Adista.it (Itália)
04-01-2018

Uma coisa é clara: 
sobre Jesus de Nazaré, nunca se cansará de falar. E de escrever
JOHN SHELBY SPONG
Bispo Episcopal Anglicano emérito
Teólogo

Porque, se as religiões podem estar em crise, o extraordinário modelo de humanidade que representa a figura de Jesus, em vez disso, está mais vivo e atual do que nunca, como mostram dois livros sobre Jesus, recém-lançados na Itália, escritos respectivamente por John Shelby Spong e Roger Lenaers: o primeiro, do bispo emérito da Igreja Episcopal, intitulado La nascita di Gesù tra miti e ipotesi [O nascimento de Jesus, entre mitos e hipóteses], editado por Ferdinando Sudati e publicado pela editora Massari (192 páginas); o segundo, do jesuíta belga, intitulado Gesù di Nazaret. Uomo come noi? [Jesus de Nazaré. Homem como nós?], publicado pela Gabrielli Editori (144 páginas), com um prefácio também de Sudati.

Ambos têm em comum a exigência de reformular a Boa Nova de Jesus com palavras e conceitos adequados ao novo mundo em que vivemos, na consciência de que, se não o fizermos, não conseguiremos mais apresentar essa boa notícia a ninguém.

Porque, como destaca Sudati na introdução do livro de Spong, é o próprio conhecimento científico moderno, “integralmente globalizado e compartilhado pela primeira vez na história do mundo”, que impõe a passagem para um novo modelo epistemológico, obrigando a “repensar toda a herança do passado, também sobretudo a religiosa”.

Na realidade, continua Sudati, se é verdade que a religião, “tendo que ver com o sagrado, isto é, com realidades e conceitos inefáveis”, não pode, de modo algum, prescindir da linguagem simbólica, o problema que hoje se coloca aos crentes “não é tanto se livrar dos mitos, mas sim de não levá-los ao pé da letra”, reconhecendo-os por aquilo que são, ou seja, como instrumentos interpretativos que permanecem válidos enquanto a cultura não encontra “algo melhor”.
ROGER LENAERS
Padre e teólogo jesuíta belga

E isso é ainda mais evidente no caso dos relatos sobre o nascimento de Jesus contidos nos Evangelhos de Mateus e de Lucas, que os apresentam “de uma maneira muito diferente, com dados até mesmo irreconciliáveis”: em nível de protagonistas – Mateus, como judeu e homem do seu tempo, põe em primeiro plano José, chefe da família e garantia da descendência davídica de Jesus; Lucas, menos adentrado na cultura judaica, dá a máxima ênfase a Maria; de genealogias – que coincidem apenas em dois ou três nomes e parecem ser, em todo o caso, genealogias ideais ou simbólicas; de data e local de nascimento – para Mateus, no ano 5 ou 6 a.C., sob Herodes, o Grande, em uma casa em Belém, onde parece que José e Maria já habitavam; para Lucas, no ano 6 ou 7 d.C., na época do censo do governador Públio Sulpício Quirino, em um alojamento improvisado (mas, para ambos, para o nascimento em Belém está em função da atribuição a Jesus da descendência davídica); assim como existem diferenças significativas em relação aos magos, à perseguição de Herodes e à fuga para o Egito.

Histórias que certamente não foram escritas como relatos históricos ou como artigos de crônica, mas cujo propósito, ao contrário, é o de nos oferecer uma mensagem de fé em Jesus. De fato, é claro que, como ressalta Spong, “as estrelas não sulcam o céu com uma lentidão tal que homens sábios possam manter o ritmo com elas”, nem os anjos “irrompem do céu da meia-noite para cantar aos pastores das colinas”; assim como “as virgens não concebem, exceto nos mitos”, e “um homem não leva a sua esposa, que está grávida de uma criança, a fazer 94 milhas de Nazaré até Belém no dorso de um asno, de modo que o Messias esperado possa nascer na cidade de Davi”.

E se alguém, como sugere Sudati, poderia “lamentar mesmo que apenas – mas não é pouco – o atentado à poesia do Natal”, o livro de Spong oferece a oportunidade para “adquirir um conhecimento histórico melhor da figura de Jesus”, convidando a não se privar da inspiração poética, mas renunciando a “assumir mitos e lendas como história”.

Afinal – como explica Spong, respondendo a uma das cartas publicadas na coluna semanal do seu site (clique aqui), intitulada Question & Answer Email, ou seja, “Perguntas e respostas via e-mail” – uma vez esclarecido que os autores dos relatos de Natal “não pensavam que as coisas que eles escreviam eram um relato histórico literal”, mas “estavam interpretando o significado que haviam encontrado em Jesus”, nada proíbe de “manter a fantasia separada da história e, depois, entrar na fantasia festiva e desfrutá-la”: “Sonhe a paz sobre a terra e a boa vontade entre os homens e as mulheres – escreve ao seu leitor – e depois se dedique a dar vida a essa visão. Desse modo, você entenderá as intenções dos escritores dos Evangelhos”.

Não apenas “um homem como nós”

O novo paradigma cultural ao qual deve ser remetido o livro de Spong também é aquele em que se move o volume de Lenaers, que, como ressalta Sudati no prefácio, já no título, apresenta “a interrogação mais séria e até mesmo inquietante que um crente pode ouvir ressoar a seu respeito: aquela sobre a sua divindade”.

O livro do jesuíta não se propõe a se colocar nas pegadas do Jesus histórico, porque, explica Lenaers, “seria um esforço desperdiçado”, já que aquilo que sabemos dele deriva substancialmente de quatro livretos escritos entre os anos 70 e 100 depois do seu nascimento, após diversas décadas de tradição oral, “por seguidores desconhecidos, de caráter vagamente biográfico, mas sem serem verdadeiras biografias”.

Mas ele visa a “libertar a nossa mensagem de fé sobre Jesus da mitologia que, desde tempos imemoriáveis, se teceu sobre ele e que impede que os homens e as mulheres da modernidade tenham acesso à sua figura inspiradora”. Um desafio nada insignificante, considerando-se que, como observa Lenaers, “as lideranças da Igreja não têm problemas em crer em um Jesus mítico, Deus em forma humana, e menos ainda os fiéis”.

No entanto, especifica o jesuíta, “dizer adeus ao Jesus mitológico é apenas a metade do percurso”. Porque “a mitologia tecida pouco a pouco sobre a pessoa de Jesus”, no fundo, nada mais é do que a representação pré-moderna “daquela profunda plenitude que os fiéis da época percebiam nele e à qual, na modernidade – uma época que pensa e fala de um modo totalmente diferente –, devemos dar voz de um modo muito diferente”.

E é assim que, no seu livro, Lenaers se propõe a desnudar Jesus das vestes mitológicas com as quais ele foi revestido na época pré-moderna, de modo que a sua mensagem possa continuar falando aos homens e às mulheres da modernidade.

Assim, por exemplo, convidando a abandonar o “construto meramente mitológico” do sacrifício expiatório – que só tem sentido se estivermos lidando com “um Moloch irado e ávido, do qual é preciso comprar a graça com presentes, de preferência de tipo sangrento” – e a entender Deus como “o amor que dá vida a todas as coisas”, o jesuíta belga evidencia que o pecado não pode parecer nada mais do que “a recusa de nos deixar guiar pelo amor e, portanto, por Deus”, e que “a resposta certa a essa rejeição culpada” não pode vir da punição e da expiação, mas apenas da conversão interior.

Não é por acaso, explica Lenaers, que a parábola do filho pródigo, de fato, não fala de punições e expiações:A única coisa que Deus deseja, evidentemente, é que nos convertamos. Assim que o filho culpado se converte, tem fim todo sofrimento”.

Uma conversão que somente Deus, “amor original e criador”, pode fazer, comunicando-se através de Jesus e tornando-se visível no seu agir e no seu falar. Isto é, Jesus “só vive o amor, e como Deus infundiu em nós o desejo de viver e, portanto, de amar, na figura de Jesus, reconhecemos aquilo que a nossa natureza busca às apalpadelas”. Portanto, “voltando-nos para ele e assumindo o seu caminho, realiza-se em nós a conversão que salva”.

Nesse sentido, o livro de Lenaers se distingue das biografias modernas sobre Jesus, que fazem dele, com razão, um homem como nós – em vez de “um Deus-homem mitológico” –, mas que olham para ele também como um homem “do nosso mesmo tipo humano provisório”. O que, para o teólogo belga, “Jesus não foi”.

Porque, conclui o autor, ao mesmo tempo, ele “não era apenas um homem como nós”: como indicam as imagens usadas pelos evangelistas na tentativa de “transmitir a dimensão do mistério que se sentia presente nele”, Jesus “falava e agia demonstrando uma intimidade tão intensa com o mistério original que chamamos de Deus, em comparação com o nível médio dos seres humanos, a ponto de se tornar inatingível para nós”.

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão original, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 10 de janeiro de 2018 – Internet: clique aqui.

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