«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Não ao exorcismo mágico. Sim, à bênção espiritual

Juan Masiá Clavel*
 
PAPA FRANCISCO
Concedendo a bênção
Rita (nome fictício para resguardar a privacidade): Uma pergunta, padre, o senhor crê no diabo?
Pe. Juan: Por que me pergunta isso, Rita?
Rita: É que necessito encontrar um padre que acredite no diabo para que me possa fazer um exorcismo, e me livre destas convulsões que me dão e desta fúria que vem a mim por quebrar coisas e ficar com raiva da minha família e me faz querer machucar as pessoas. Minha mãe me disse que se deve fazer um exorcismo, que estou possuída por Satanás. Porém, meu pai, que é de outro país e não é católico, disse que eu devo ir é ao médico, que isto é enfermidade mental. Uma vez fui a um padre pedir-lhe que me desse água benta, mas ele disse-me que não deveria acreditar em bobagens. Por isso eu pergunto isso ao senhor.
Pe. Juan: Sim, compreendo, porém você se dá conta, filha, que me está fazendo três perguntas distintas ao mesmo tempo. Vamos por partes. Você perguntou-me três coisas:
1. Perguntou-me se existe o diabo e se eu creio que ele exista.
2. Perguntou-me se eu lhe posso exorcizar.
3. Perguntou-me se eu posso ajudar-lhe a curar-se porque está sofrendo muito. Não foi assim?

Rita: Sim, padre, então o que me diz?
Pe. Juan: Comecemos pela terceira pergunta. Se lhe ajuda que eu fale com você para me contar o que está acontecendo com você, e orarmos juntos para que Deus a ajude a se livrar do mal (como dizemos em nosso Pai Nosso, "livrai-nos do mal"), estou à sua disposição para o que puder lhe ajudar. Vamos rezar juntos com fé e confiança em que o poder de Deus é mais forte que qualquer poder maligno que nos atormente (o mesmo vale se esse poder maligno é um diabo ou é o lado obscuro de cada um de nós). O importante é crer no poder de Deus, e no poder que Deus pôs dentro de nós para que nos curemos. Por isso, Jesus dizia, quando curava uma pessoa: «tua fé no poder de Deus é o que te curou».
Rita: Bom, é alguma coisa, padre, porém...
Pe. Juan: Já sei, a segunda pergunta, você quer é um exorcismo.
Rita: Sim.
Pe. Juan: Veja só, eu não posso fazer-lhe um exorcismo como magia para expulsar fora de você um diabo que lhe tenha possuído. O que posso, sim, lhe fazer é algo muito melhor e mais eficaz, que é da parte de Deus: a bênção, melhor dizendo, rezar junto com você para que Deus lhe bendiga. Para isso, o que é necessário é que você e eu creiamos, que tenhamos fé no poder de Deus.
Rita: E o senhor me dará essa bênção com água benta e com a arma da cruz?
Pe. Juan: Sim, porém a água não é magia, mas um símbolo precioso da bênção e da vida que Deus quer derramar sobre você como no batismo. E a cruz não é um amuleto nem uma arma para matar demônios, mas o sinal de Cristo crucificado e vivo para sempre, que lhe quer dar a vida. E a bênção não é como se eu dissesse «abracadabra», a bênção é uma oração e uma ação de graças, um remédio de Deus para seu corpo e seu espírito, um derramar sobre você de graça, paz e alegria.
Rita: Então, bendiga-me, padre. E posso vir também outro dia, pois pode me acabar o efeito?
Pe. Juan: Pode vir sempre que quiser. Porém, saiba que isto não é como a bateria do celular, que se deve recarregar. A energia da bênção de Deus, ele lhe está dando continuamente, o próprio Deus lhe está recarregando a bateria a cada momento. A bênção que lhe dou agora é um sinal de que essa bênção é Deus quem lhe está dando sempre. Assim, levanta o coração a ele quando estiver bem para dar-lhe graças e quando está mal para pedir-lhe ajuda e pode estar certa de que você o tem sempre ao seu lado para abençoar-lhe.
Rita: Bem, estou indo mais tranquila.
Pe. Juan: E não necessita que falemos da pergunta que restou, aquela se existe o diabo e se este padre crê ou não crê no demônio?
Rita: Bom, o certo é que por curiosidade... além disso, outro dia disseram pelo rádio que o Papa Francisco disse que o diabo existe e não sei o que pensar depois do que o senhor me disse...
Pe. Juan: Isso podemos esclarecer, veja, justamente na reunião de catequese, após a missa de hoje, vamos ler e comentar uma carta muito boa que acaba de escrever o Papa sobre a importância de viver bendizendo a Deus que nos bendiz e de descobrir a santidade na vida cotidiana. Pega, lhe dou a página que explica o que disse o papa sobre o poder de Deus mais forte que o poder do mal, seja um diabo ou não.
JUAN MASIÁ CLAVEL
Teólogo, Bioético e Presbítero Jesuíta espanhol
(Transcrevo o resumo da catequese sobre o final do Pai Nosso:
Livra-nos do mal e de todo o maligno)

PONTOS DA CATEQUESE SOBRE O PODER MALIGNO
1. Diz que o poder diabólico se expressa em um ser pessoal, porém não que o diabo seja um deus maligno. Não se pode dizer que o diabo seja um deus maligno ou uma divindade do mal combatida em igualdade de condições com o Deus bom. Quando a influência de outras religiões dualistas penetrou na cultura popular do povo do Antigo Testamento, houve necessidade de dizer ao povo que acreditava no Deus único que nem anjos nem demônios podem ser divindades, mas criaturas, por isso se simbolizou o poder diabólico como «anjo caído».
2. O Papa não afirma o fenômeno da possessão demoníaca. Pelo contrário, diz que «O diabo não necessita possuir-nos. Envenena-nos com o ódio, com a tristeza, com a inveja, com os vícios» [Papa Francisco. Gaudete et Exsultate, n. 161].
3. Mais que perguntar-se se existe, teríamos que perguntar quantas vezes todos e cada um de nós, ao deixar-se levar pelo seu lado obscuro, expressou o poder diabólico em sua vida.
4. Deve-se dizer que o diabo, mais que «um ser» é toda uma legião (como se insinua no Evangelho Segundo Mateus 5,9: meu nome é legião, porque somos muitos. Meus muitos «eus», os do meu lado obscuro, o do meu eu enganado, arrastado, seduzido, perdido... todos esses são os demônios, expressão na forma de seres pessoais (não de divindades malignas) do poder do mal, que pode e deve ser vencido pelo poder divino.
5. O Papa não recomenda exorcismos de magia contra Satanás, mas a bênção espiritual dos sacramentos. Para o combate, diz, temos as armas poderosas que o Senhor nos dá: a que se expressa na oração, a meditação da Palavra de Deus, a celebração da Missa, a adoração eucarística, a reconciliação sacramental, as obras de caridade, a vida comunitária, o compromisso missionário [n. 162].
6. O principal em toda essa parte final da carta do Papa não é a questão de se existe ou não o diabo, mas o tema do discernimento em nossa vida, de se atuamos de acordo com o BOM ESPÍRITO ou o MAL ESPÍRITO dentro de nós.
* JUAN MASIÁ CLAVEL é padre jesuíta, Professor de Ética na Universidade de Sophia (Tóquio) desde 1970, ex-Diretor da Cátedra de Bioética da Universidade Pontifícia Comillas, Assessor da Associação de Doutores Católicos do Japão, Conselheiro da Associação de Bioética do Japão, Pesquisador da Associação de Médicos Católicos do Japão. Centro de Estudos sobre a Paz da Seção Japonesa da Conferência Mundial das Religiões pela Paz (WCRP), Colaborador do Centro Social "Pedro Claver", da Companhia de Jesus em Tóquio.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: Religión Digital – Blog Juan Masiá/Iglesia cartólica – 14/04/2018 – 14h03 (Horário Centro Europeu) – Internet: clique aqui.

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