«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Eleições 2018 – tudo velho, tudo na mesma!

João Domingos

Não há novidade entre os candidatos. Os “novos” preferiram ficar fora
 
A velha polarização entre candidatos do PT versus PSDB poderá ser repetir,
novamente, nestas eleições de 2018 - Será o "sujo falando do mal lavado!"
As convenções partidárias mal começaram, o candidato favorito está preso e inelegível [por enquanto...], a novela da definição dos vices encontra-se em sua fase mais aguda. Mas, diante do quadro que se apresenta neste instante na política brasileira, pode-se dizer que a tendência da disputa presidencial é um repeteco da final PT versus PSDB.

Arriscar a previsão com base em quê? Em pelo menos três dados atuais. O primeiro deles é que Geraldo Alckmin conseguiu reunir em torno de si o conjunto partidário dos sonhos de qualquer candidato que pense em ganhar competitividade. Os partidos que compõem o Centrão juntaram-se a PSD, PTB, PV, PPS e ao PSDB de Alckmin. Juntos, eles vão garantir cerca de 42,5% do tempo de propaganda na TV para o tucano.

Pelo tempo de propaganda que Alckmin terá, é possível dizer – com risco de erro, é claro, pois nem a política nem a cabeça do eleitor são ciência exata – que o candidato tucano tem certa vantagem sobre os concorrentes. De acordo com projeção do Estadão Dados:
* Alckmin terá nos 35 dias de propaganda nada menos do que 318 inserções de 30 segundos cada, ou 9 por dia, na programação normal das emissoras abertas;
* o candidato do PT contará com 122 inserções, 3,5 por dia;
* Ciro Gomes, 40 inserções, 1,1 por dia;
* Marina Silva (Rede), 20 inserções, 0,6 por dia;
* Álvaro Dias (Podemos), 18 inserções, 0,5 por dia; e
* Jair Bolsonaro (PSL), 14 inserções, 0,4 por dia,
para ficar nos candidatos mais bem situados nas pesquisas.

As inserções são muito mais importantes do que o horário eleitoral propriamente dito. Elas entram durante a programação normal. No horário eleitoral às vezes o eleitor vai fazer um lanche.

Pesquisa do Ibope identificou a TV como fonte de informação de cerca de 70% dos brasileiros. Não há como negar a importância dela na campanha. Leve-se em conta ainda que o Brasil tem cerca de 206 milhões de habitantes. Destes, 130 milhões (63% da população, segundo a última Pnad) pertencem às classes C, D e E, em que também está o maior acesso à TV aberta. É um público gigantesco e decisivo.

O segundo dado a ser destacado é que todas as pesquisas feitas nos últimos meses mostram Lula na frente. No Nordeste, em quase todos os Estados, o petista alcança mais do que 50% dos votos. Como o PT conseguiu êxito em sua estratégia de manter o nome de Lula vivo, e identificado ao partido, se ele não puder ser candidato, o que é quase certo, não há dúvidas de que transferirá muitos votos para o herdeiro. Não se pode esquecer ainda que o PT terá 3,5 inserções por dia na TV, mesmo que não faça aliança com nenhum outro partido, e que a militância petista costuma arrastar votos atrás de si, principalmente na reta final da campanha.

O terceiro ponto que chama a atenção é que Jair Bolsonaro, que aparece na frente nos cenários sem Lula, está no mesmo patamar, em torno de 20% das intenções de voto, desde o início do ano. Sem tempo de TV, com um mote de campanha que parece já ter conquistado o eleitor que deveria conquistar, não há nenhum indicativo hoje de que o candidato do PSL possa mudar esse quadro.

Deve ser observado ainda que, mesmo com o País virado de cabeça para baixo com o impeachment de Dilma Rousseff e por operações como a Lava Jato, que levaram políticos e empresários poderosos para a cadeia – um deles, Lula –, nenhum novo apareceu na política brasileira. Os esperados candidatos outsiders [fora esquema] não vingaram. Os que apareceram – Luciano Huck, Joaquim Barbosa, Roberto Justus – preferiram ouvir o conselho de suas famílias e evitar a política.

Desse modo, a eleição de 2018 está sendo feita com o que se tinha, o antigo. Então, só para lembrar que neste ano teve Copa do Mundo, a decisão poderá ser de novo o velho Fla x Flu da política.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política – Sábado, 28 de julho de 2018 – 03h00 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui.

E o candidato de Lula?

Haddad, o educador

Demétrio Magnoli
Doutor em geografia humana pela USP

O que é um Bolsonaro desarmado perto de um Ortega armado?
FERNANDO HADDAD - PT/SP

Calculadamente, Fernando Haddad posiciona-se para assumir a condição de avatar de Lula na campanha presidencial. Na entrevista concedida à Folha de S. Paulo (23/7), celebra o líder onipresente (“as pessoas sentem Lula”) e fala da economia como se nada de especialmente relevante tivesse acontecido no governo Dilma.

Mas, sobretudo, critica Alckmin por ter o aval do centrão (“o que tem de mais fisiológico no país, um atraso”), exibe o PT como farol da “modernidade” e afirma que os empresários “precisam ser educados para a democracia”. Arrogância é pouco. O potencial avatar envereda pelo caminho do autoritarismo, vestindo-o com uma fantasia iluminista.

O centrão, certamente fisiológico e atrasado, ofereceu sustentação aos dois mandatos de Lula e, até as vésperas do impeachment, ao governo Dilma.
[Que moral o PT tem para falar de aliança com o Centrão?]
GERALDO ALCKMIN - no centro, ao microfone
recebe apoio o tal "Centrão", conjunto de partidos menores, mas muito influentes no Congresso

Foto: Ailton de Freitas / O Globo

Lula e seu candidato a prefeito paulistano, um certo Haddad, peregrinaram à Canossa de Maluf, trocando a humilhante foto do abraço pelo apoio eleitoral. Antes de “educar” os empresários, Haddad precisa educar-nos a todos na arte de apagar a história recente.

“Modernidade” versus “atraso”. A polaridade inspirou a primeira sociologia brasileira, até que se compreendessem os mecanismos pelos quais o atraso se moderniza e, por essa via, se reitera. A história do PT ilustra, melhor que tudo, o processo.

De um Lula a outro, no trajeto de São Bernardo ao Planalto, o Brasil aprendeu com quantos mensalões se faz uma maioria parlamentar e com quantos petrolões se assina um pacto com as empreiteiras. Haddad precisa reeducar-se a si mesmo fora do pensamento dualista.

O apoio de parcela do empresariado a Bolsonaro provoca a santa indignação de Haddad. Mas qual é a surpresa na informação de que não poucos empresários transitam de um amor louco pelo lulismo para uma arrebatadora paixão pelo bolsonarismo?

O mesmo empresário que escolhia vendar seus próprios olhos para capturar as rendas fáceis presenteadas pelo BNDES de Mantega[1] está disposto a conservar sua cegueira política voluntária para coletar as 30 moedas que a farra ultraliberal de Paulo Guedes[2] promete distribuir.

Não sei qual seria o método pedagógico de Haddad para “educar” os empresários, mas nenhum é mais eficaz do que o utilizado pelo governo Lula, “o mais responsável de todos os governos da história”, com figuras como Marcelo Odebrecht e Eike Batista.

De fato, o “Estado mínimo” de Bolsonaro e seu guru econômico[3] não combinam com a democracia. Os eleitores bolsonaristas, empresários ou outros, talvez não compreendam isso — ou, talvez, simplesmente não gostem da democracia.

Mas a ambição de um partido de “educar” a sociedade expõe sua alma autoritária. Mussolini queria educar os italianos. Fidel Castro almejava educar os cubanos. Pol Pot resolveu educar os cambojanos. Já os partidos democráticos nutrem esperanças mais modestas: como admitem que não são portadores da verdade histórica, e que podem estar errados, desejam apenas persuadir os eleitores.

“Devem ser educados para a democracia.” Haddad usa a palavra “democracia” para expressar sua repulsa a Bolsonaro. Nisso, tem razão. Mas o que é um Bolsonaro desarmado diante de um Ortega armado?

Nosso “clown” da extrema direita [Bolsonaro] mata imaginariamente seus adversários, sonhando restaurar a ditadura que perdeu os dentes quando ele não passava de um mero cadete. Já Ortega[4], a quem o PT oferece o mesmo apoio incondicional que presta a Maduro, mata realmente, dia sim e dia também, sustentando seu poder à base de selvagem repressão.

A jornalista Catia Seabra esqueceu-se de confrontar Haddad com perguntas sobre a Nicarágua ou a Venezuela. Deixou-me curioso. Por que o partido que representa a “modernidade” e fala em nome da “democracia” defende fanaticamente os governos Ortega e Maduro?

Por que Haddad não se ocupa, antes de tudo, em educar o próprio PT? Quem educa o educador?

NOTAS

[1] Guido Mantega foi ministro da Fazenda (2006-2011) e ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão do Governo Lula (1 de janeiro de 2003
até 18 de novembro de 2004). Foi o ministro da Fazenda no primeiro Governo Dilma Rousseff (2011-2015), sucedido no cargo pelo ex-secretário do tesouro. É formado em economia pela Universidade de São Paulo, com doutorado e especialização em sociologia. Foi professor de economia no curso de mestrado e doutorado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, de 1982 a 1987. É professor licenciado da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas. Foi assessor de Paul Singer na Secretaria Municipal de Planejamento de São Paulo durante a administração da prefeita Luiza Erundina (1989-1992). Como ex-membro do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), teve o prefácio de seu primeiro livro, Acumulação Monopolista e Crise no Brasil, assinado por Fernando Henrique Cardoso. Seu livro com José Márcio Rego Conversas com Economistas Brasileiros II teve prefácio do economista Luiz Gonzaga Belluzzo.
[2] Paulo Guedes é um dos fundadores do Banco Pactual e também fundador e sócio majoritário do grupo BR Investimentos, hoje parte da Bozano Investimentos. Economista com Doutorado em economia pela Universidade de Chicago, considerada uma referência do pensamento econômico liberal, Guedes também já foi integrante do conselho de administração de diversas companhias, como PDG Realty, Localiza e Anima Educação. Guedes também fundou o Instituto Millenium, um 'think tank' que dissemina o pensamento econômico liberal, e foi professor de macroeconomia na PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), na FGV (Fundação Getúlio Vargas) e no IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) e também já foi sócio majoritário do Ibmec (atualmente chamado de Insper). Está altamente cotado para ser o Ministro da Fazenda de um pretenso governo de Bolsonaro.
[3] – O economista Paulo Guedes, conferir a nota anterior.
[4] Daniel Ortega foi presidente da Nicarágua entre 1985 e 1990 e voltou ao cargo em 2006, tendo sido reeleito em 2011 e 2016. É membro da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) desde 1962. No país, não há limite de mandatos. Atualmente, ainda como Presidente da Nicarágua, conduz uma violenta e sanguinária perseguição aos seus opositores, estudantes, Igreja Católica e outras forças da sociedade civil.

Fonte: Folha de S. Paulo – Colunas e blog – Sábado, 28 de julho de 2018 – 02h00 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui.

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