«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

O perigo de misturar Estado e Igreja

CRIVELLA USA DA MÁQUINA DA PREFEITURA
DO RIO DE JANEIRO

Thiago Prado
Jornal “O Globo”
06/07/2018

Sua atuação como prefeito tem como meta fazer avançar o poder de sua igreja mesmo que, em alguns momentos, fira princípios do ESTADO LAICO
MARCELO CRIVELLA
Ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus - Atual Prefeito do Rio de Janeiro (RJ)

Lançado em 2008, o livro «Plano de Poder» do bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, prega a entrada dos evangélicos no jogo eleitoral. «O que falta aos cristãos para se estabelecerem politicamente? Ações bem coordenadas». Desde então, o PRB, partido ligado à igreja, só ganhou musculatura. Tem hoje 21 deputados em Brasília e saiu das urnas há dois anos com mais de 100 prefeituras espalhadas pelo país. A principal delas, a do Rio de Janeiro, conquistada por Marcelo Crivella, sobrinho de Macedo.

Durante a campanha eleitoral de 2016, Crivella teve como meta a redução da sua rejeição diante do eleitor carioca. Jurou diversas vezes que não misturaria política com religião caso eleito. Após um ano no cargo, em entrevista à revista «Veja"» em janeiro deste ano, deu novo sentido aos seus conceitos. Afirmou que o problema não era misturar política e religião mas, sim, Estado e Igreja. E insistiu que seu governo não fez nada disso desde 1° de janeiro do ano passado.

O discurso é questionado por opositores: afinal
* nomear dois bispos da Universal para cargos estratégicos (João Mendes, na Assistência Social, e Jorge Braz no Procon) não entraria no requisito da mistura?
* Por acaso a religião do prefeito pesou na hora de cortar recursos de eventos como a Parada Gay e da tradicional procissão de homenagem a Iemanjá no Rio?
* Sequer pisar no Sambódromo em dias de desfile das escolas de samba tem a ver com as crenças de Crivella?
A negativa está sempre presente na fala oficial, mas a dúvida permanece no debate político.

Em poucos dias da sua administração, a prefeitura quis mudar a sua logomarca para introduzir na palavra Rio um sutil número 10, justamente o usado pelo PRB. O projeto foi parar na Justiça e acabou barrado. A era Crivella também foi a responsável por colocar na rua um inédito censo religioso por meio de formulário onde os integrantes da Guarda Municipal eram questionados sobre a sua religiosidade (o motivo da iniciativa jamais foi esclarecido até hoje). Seu governo deu ainda nome de rua para lideranças evangélicas e permitiu viagens internacionais com direito a visitas do prefeito às sedes da Universal pelo mundo.

Em uma fala direcionada apenas a evangélicos, na noite de quarta-feira [4 de julho], prometeu facilidades no acesso às cirurgias de catarata e na aprovação de isenção de IPTU para igrejas, em discurso flagrado pelo GLOBO. Com um pré-candidato do PRB a deputado federal sentado ao seu lado. «Nós temos que aproveitar que Deus nos deu a oportunidade de estar na Prefeitura para esses processos andarem», defendeu Crivella em alto e bom som. Elevou ali os indícios de que sua atuação como prefeito tem como meta fazer avançar o poder de sua igreja mesmo que, em alguns momentos, fira princípios do ESTADO LAICO.

Fonte: GS Notícias – Editorias – Sexta-feira, 6 de julho de 2018 – Internet: clique aqui.

Crivella, 1 ano. Desprezo à diversidade, culto
à intolerância e Rio de abandono

Maurício Thuswohl

Depois de um ano de gestão desrespeitosa com a cidade, e sem rodeios ao aparelhar equipamentos públicos, prefeito do Rio começa o ano com corte
de verba que fecha Casa do Jongo da Serrinha
CASA DO JONGO
Serrinha - Rio de Janeiro

O ano mal começou, e o anúncio do fechamento por tempo indeterminado da cinquentenária Casa do Jongo da Serrinha já dá mostras de que em 2018 a rotina de abandono pela Prefeitura do Rio de Janeiro das manifestações culturais ligadas a matrizes africanas repetirá o ano anterior. Mesmo tombada em 2005 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Imaterial da Região Sudeste, a tradicional casa localizada no bairro de Madureira (zona norte) viu ser interrompido desde outubro o repasse financeiro que recebia da Secretaria Municipal de Cultura. “Não sabemos sequer o motivo. Tentamos várias reuniões, mas nunca fomos recebidos”, diz Dyonne Boy, diretora da ONG que administra o espaço.

Evidenciado neste episódio, o desinteresse em relação a uma parte tão importante da cultura e da história cariocas foi uma das principais características do primeiro ano de mandato do prefeito Marcello Crivella (PRB), de acordo com a análise de militantes dos movimentos sociais e de parlamentares da oposição. Para além das metas anunciadas, mas não cumpridas, em setores essenciais como saúde e educação – o que não chega a ser novidade na política brasileira –, a gestão municipal carioca em 2017 teria sido marcada pelo nepotismo e pelo aparelhamento da máquina pública, além de acenar com preocupantes retrocessos no que diz respeito à diversidade cultural e à livre expressão sexual e religiosa. Uma vez no cargo, o ex-senador e ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus pecou, segundo os críticos, pelo não cumprimento da promessa de não misturar política e religião na prefeitura, reiterada durante toda a campanha eleitoral. [...]
CATEDRAL DE DEL CASTILHO - IURD
Rio de Janeiro - RJ

Aparelhamento

Segundo a oposição, esse aparelhamento foi explicitado pela realização de eventos da Universal em escolas municipais. Os casos mais notórios aconteceram no Ciep Gustavo Capanema, no Complexo da Maré (zona norte), e na Escola Municipal Joaquim Abílio Borges, no bairro do Humaitá (zona sul). Nestas escolas foram realizadas ações sociais promovidas pelo Grupo de Evangelismo da Catedral de Del Castilho, templo da Universal com capacidade para 30 mil pessoas e conhecido pelos próprios fieis como o “Maracanã da Fé”. Nas duas ocasiões, a Universal ofereceu também assistência médica e jurídica e distribuição de cestas básicas e quentinhas, além de palestras para mães solteiras e mulheres que sofreram agressões domésticas.

A Secretaria Municipal de Educação afirma que, desde que haja solicitação prévia, “qualquer instituição, religiosa ou não, pode utilizar os prédios das escolas públicas em horários ociosos” e que “além da Igreja Universal, outras denominações religiosas também utilizam esses espaços”. Esta utilização, diz a Secretaria, foi regulamentada por uma resolução publicada pela prefeitura em 24 de outubro.

O eventual aparelhamento da máquina municipal pela Igreja Universal foi também muito discutido em outro episódio, ocorrido em maio, quando um caminhão da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) foi flagrado ao fazer serviços de limpeza dentro do templo da IURD no bairro de Bonsucesso, na zona norte. Em agosto, outro caminhão com a logomarca da prefeitura foi visto entregando asfalto no templo da Universal localizado no bairro de Santa Cruz (zona oeste).

Após os flagrantes, tanto a Comlurb como a Secretaria Municipal de Conservação prometeram investigar a utilização dos veículos públicos pela Igreja Universal, mas até agora não apresentaram resultados. Em relação ao caso de Santa Cruz, a prefeitura informou que a empresa vista fazendo o serviço – a Jas Mix Bombeamento de Concretos - não tem mais vínculos com a prefeitura e que “já foi orientada a retirar os adesivos de identificação de seus caminhões”.
MARCELO HODGE CRIVELLA
Filho do Prefeito do Rio de Janeiro

Nepotismo

A indicação de pessoas ligadas à direção da Universal para postos na administração municipal também mereceu críticas. O caso mais emblemático foi a nomeação do filho do prefeito, Marcelo Hodge, para a Casa Civil. Mesmo afastado do cargo por liminar da Justiça, Hodge seguiu cumprindo agendas oficiais até que, em outubro, o advogado Victor Travancas, que movia a ação por nepotismo, retirou a acusação contra o prefeito.

Outros casos apontados como nepotismo envolveram as nomeações de Alessandro da Costa, que é sócio da filha do prefeito, para a subsecretaria da Casa Civil, e de Fábio Macedo, que é primo do Bispo Edir Macedo (líder máximo da Universal e tio de Crivella), para o cargo de administrador da sede da prefeitura. Crivella rebateu as acusações: “Posso garantir que a prefeitura não ajuda a Igreja Universal. Ao contrário, é ela que nos ajuda na missão de servir a todos”.

Censo religioso

A prefeitura do Rio também foi acusada de promover “censos religiosos” em alguns setores da administração pública. Em agosto, a Guarda Municipal [GM] distribuiu um questionário a todo o seu efetivo de 7,5 mil pessoas no qual pedia para que se informasse a opção religiosa. De acordo com a direção da GM, o fornecimento dessa informação não era obrigatório e o censo “foi realizado como parte do novo Projeto de Capelania que está sendo elaborado pela instituição, um projeto ecumênico que prestará assistência religiosa, espiritual e social aos servidores”.

Algo semelhante aconteceu em setembro, quando foi distribuído o formulário de inscrição do programa municipal Rio Ar Livre, promovido pela Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos e destinado a idosos e pessoas de baixa renda que queiram praticar exercícios físicos nas academias populares instaladas em algumas praças da cidade. A Secretaria afirma que o questionário, também criticado por perguntar a cor das pessoas, serve para “identificação do perfil socioeconômico dos beneficiados pelo programa”.

Em setembro, Átila Nunes deu entrada em duas ações populares no Ministério Público Estadual. A primeira pede o imediato afastamento da diretora da GM, Tatiana Mendes, por proselitismo religioso: “O que a direção da Guarda Municipal fez foi uma tentativa de, mediante evidente pressão, converter pessoas à religião evangélica em ambiente de trabalho”, diz. A segunda ação pede a suspensão de perguntas sobre religião em questionários formulados pela prefeitura. As ações prosseguem na Justiça.

Crivella afirmou que, em ambos os casos, não tinha conhecimento prévio sobre a realização dos questionários religiosos, já que tanto a Secretaria quanto a Guarda Municipal são autarquias e têm autonomia em suas decisões internas. Em nota distribuída à imprensa, o prefeito disse que “não existe qualquer cunho religioso na atual gestão da Prefeitura do Rio”.
SAMBÓDROMO - Rio de Janeiro - RJ

Carnaval e Parada LGBTI

O divórcio da prefeitura com o carnaval já pode ser considerado uma marca da gestão de Crivella. O prefeito, que não concorda com a entrega simbólica das chaves da cidade ao Rei Momo e não comparecerá ao Sambódromo pelo segundo ano consecutivo, promoveu um corte de 50% na verba que as escolas de samba do grupo principal receberão da Riotur (para o desfile de 2018, cada escola receberá R$ 1 milhão). Crivella sugeriu à Liga das Escolas de Samba (Liesa) que o evento passe a buscar prioritariamente recursos privados, “assim como faz, por exemplo, o Rock in Rio”.

Em nota, a prefeitura afirma que “está em estudo o desenvolvimento de mecanismos para captação de investimentos da iniciativa privada para a realização do desfile das escolas de samba”. Segundo Crivella, esse critério será respeitado já para os desfiles de 2019. “Teremos um carnaval espetacular no próximo ano, já com mais verbas privadas do que verbas públicas”, disse o prefeito.

Neste início de ano, em entrevista ao site de uma revista, Crivella usou de forma irônica o nome de seu antecessor para se defender das acusações de que estaria “desprestigiando” o carnaval. “Não sou como o Eduardo Paes (PMDB), que era um carnavalesco. Sou evangélico, nunca fui de carnaval, não tem a ver com o meu meio. Não obrigo ninguém a ser como eu, assim como não quero que me obriguem a ser como não sou.”

Outro evento com grande apelo popular, ícone da luta contra a homofobia e pela liberdade de opção sexual, a Parada do Orgulho LGBTI do Rio também sofreu com a falta de apoio da prefeitura no primeiro ano de mandato de Crivella. Realizada tradicionalmente em Copacabana e com sua 22ª edição marcada inicialmente para outubro, a manifestação teve de ser adiada e só aconteceu no final de novembro, após seus organizadores captarem recursos de emergência junto a empresas privadas e sites de financiamento coletivo. “A prefeitura cortou completamente o apoio financeiro que dava à Parada LGBTI. E fez isso sem negociar nenhuma redução proporcional, como aconteceu com outros eventos”, diz Júlio Moreira, diretor do Grupo Arco-Íris, responsável pela organização do ato.

Fonte: Rede Brasil Atual / RBA – Revista do Brasil – Nº 136 – Publicado: 21/01/2018 – Atualizado em: 29/01/2018 às 10h13 – Internet: clique aqui.

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