Bispos Comunistas
Basta
com essa mentira
Dom Julio
Endi Akamine
Arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba – SP
Graças a Deus, a
CNBB é tão plural e diversificada!
Dessa forma ela é
obrigada — quase condenada — a buscar no diálogo
as ações mais
acertadas e a se empenhar na leitura dos
sinais da ação de
Deus na nossa história
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Dom Julio Endi Akimine |
Há muito tempo — talvez tempo demais — pululam na internet
insinuações e acusações de que há bispos comunistas no Brasil. Penso que
chegou o momento de afirmar com clareza que isso é uma tremenda besteira.
Não recebi delegação para fazer a defesa de quem quer que seja. Nem sei se os
argumentos apresentados irão convencer os super-católicos mais católicos do que
o Papa, que se julgam investidos com o poder de purificar a CNBB de
infiltrações vermelhas a serviço de Satanás.
Por isso, prefiro apresentar minha experiência como membro da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) há 9 anos.
A CNBB é formada por bispos com uma grande variedade de
posições religiosas e políticas. Nela há também grupos diferentes que se
identificam com correntes teológicas diversas, que apoiam políticas diferentes
e até mesmo partidos políticos distintos. E isso não é negativo. Pelo
contrário, é muito positivo. Afinal, a Igreja Católica não é uma seita.
É próprio da seita o pensamento único, a teologia uniforme, a prática política
de cabresto. Por isso, a alternativa para o pluralismo da CNBB não é a Igreja
Católica, mas a seita de pensamento, prática e política uniformes. A Igreja
é católica exatamente porque é una sem ser uniforme.
Entristecem-me os que aceitam a proposta dos profetas de
desgraças, que querem uma igreja mais parecida com o Partido Comunista, que
expurga os que se desviam da “sã doutrina”. A história já teve regimes
totalitaristas demais. Infelizmente, há pessoas que desejam a volta do
totalitarismo envernizado de pureza católica.
É verdade que o pluralismo provoca no episcopado brasileiro
tensões e também conflitos. Tive a oportunidade de participar de sessões da Assembleia da CNBB em
que o debate foi cerrado, a discussão tensa e o diálogo muito difícil. Graças
a Deus, a CNBB é tão plural e diversificada! Dessa forma ela é obrigada —
quase condenada — a buscar no diálogo as ações mais acertadas e a se empenhar
na leitura dos sinais da ação de Deus na nossa história tão complicada quanto
confusa. Posso testemunhar que, mesmo expressando posições diferentes, eu e
todos os que fazem seus pronunciamentos somos acolhidos com respeito e com
verdade.
Outra coisa que aprendi com os bispos, com cujas posições nem
sempre concordei, é que o diálogo nunca significa renunciar às próprias
convicções. Para dialogar, nenhum bispo pede ao outro que abdique de suas
convicções (também as políticas). Pelo contrário, todos desejam que as
posições sejam claras e que a partir delas o diálogo se enriqueça e proceda
para uma convergência. Se o consenso não é possível, o diálogo deve
continuar até que as posições se encontrem.
Quando as divergências entre os bispos se tornam públicas, há
também os que se regozijam com a divisão da CNBB, a sua ruína e esfacelamento.
Mais uma vez, preciso dizer que isso é a mais pura bobagem. As diferenças
políticas dos bispos em relação ao PT não levaram à divisão da CNBB nem da
Igreja, e não serão as diferentes posições políticas em relação ao atual
governo que vão provocar a divisão da Igreja Católica. O PT passou, e o atual
governo também vai passar. A Igreja continua.
Alguns podem se lamentar pelo fato de a Igreja não ser uma
organização monolítica e perfeitamente alinhada em todas as suas posições. Eles
até acreditam que isso existia no passado, antes do Concílio Vaticano II. O
que os saudosistas sem causa não compreendem é que essa uniformidade nunca
existiu, exatamente porque ela não é a unidade que o Espírito Santo forma na
Igreja. Basta estudar um pouco o Novo Testamento para se dar conta de que um
sadio pluralismo na Igreja sempre existiu (cf. At 6,1-6; 11,1-3;
15,1-2; 1Cor 12,4-31; Gl 2,11-14). O Espírito continuamente está
conduzindo a pluralidade para a unidade e disseminando a unidade na
pluralidade.
Se alguém quiser uma igreja segundo o modelo da uniformidade
que funde uma: basta ir ao cartório e registrar um CNPJ! Mas isso também não é novidade:
alguns já o fizeram e não apresentaram uma alternativa que valesse a pena.
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