Os vigaristas da direita estão caindo
Ex-assessor
de Trump, Steve Bannon é preso por fraude em Nova York
Redação
Autoridades
afirmam que Bannon teria fraudado doações para a construção do muro na
fronteira entre Estados Unidos e México
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STEVE BANNON deixando um tribunal federal em Nova York depois de pagar uma fiança de US$ 5 milhões, cerca de 28,25 milhões de reais |
O ex-assessor de campanha de Donald Trump, Steve Bannon,
foi preso nesta quinta-feira, 20 de agosto, nos Estados Unidos. O
estrategista da Casa Branca está sendo acusado de fraudar doações para a
construção de um muro na fronteira do país com o México, uma das promessas de
Trump em 2016. Bannon, de 66 anos, foi preso em um iate na manhã desta
quinta-feira na costa do Estado americano de Connecticut por agentes federais e
libertado no mesmo dia sob fiança.
De acordo com as autoridades americanas, o We Build the Wall - esforço online de arrecadação de
fundos para a construção do muro - levantou
mais de US$ 25 milhões (R$ 138,9 milhões).
Bannon e três outros réus “fraudaram
centenas de milhares de doadores, capitalizando seus interesses em financiar um
muro de fronteira para levantar milhões de dólares, sob a falsa pretensão de
que todo esse dinheiro seria gasto em construção”,
disse o Procurador-geral interino de
Manhattan, Audrey Strauss.
Ao ser apresentado ao juiz Stewart Aaron, em Nova York, na
tarde desta quinta-feira, Bannon alegou inocência. O juiz fixou uma fiança
de US$ 5 milhões para sua libertação, além de restrições de viagens e uso
de aviões e navios particulares.
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Iate "Lady May" no qual Steve Bannon foi preso no porto de Westbrook, no estado de Connecticut, nos Estados Unidos. Valor estimado deste "brinquedinho" de luxo: R$ 155,4 milhões |
Vida de ricaço
De acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos,
os outros mencionados na acusação são Timothy Shea, que foi anunciado
como administrador do Drug Enforcement Administration (DEA), agência
americana antidrogas, Brian Kolfage, ex-militar, veterano da guerra do
Iraque, e Andrew Badolato.
“Enquanto asseguravam repetidamente aos doadores que Brian
Kolfage, o fundador e rosto público de 'We Build the Wall', não receberia um
centavo, os réus secretamente planejaram passar centenas de milhares de
dólares para Kolfage, que ele usou para financiar seu estilo de vida luxuoso”,
revelou Strauss.
Os presos foram apresentados hoje a juízes em locais
distintos. Bannon foi apresentado no Distrito Sul de Nova York, enquanto os
demais seriam conduzidos a juízes na Flórida e no Colorado. O caso dos
quatro ficará a cargo da juíza Analisa Torres, do distrito sul de Nova York.
“Como alegado, eles não apenas mentiram para os doadores, mas
planejaram ocultar sua apropriação indébita de fundos, criando faturas e
contas falsas para lavar doações e encobrir seus crimes, sem respeitar a lei ou
a verdade. Este caso deve servir como um alerta para outros fraudadores de
que ninguém está acima da lei, nem mesmo um veterano de guerra deficiente ou um
estrategista político milionário”, disse Philip R. Bartlett, inspetor
responsável pelo caso.
STEVE BANNON & EDUARDO BOLSONARO representante de seu "Movimento" na América do Sul, segundo o próprio Bannon |
Assessor dos Bolsonaros
Considerado um dos agitadores da onda nacionalista de
direita que elegeu Trump, Bannon se tornou uma espécie de assessor informal
da família Bolsonaro. O presidente Jair Bolsonaro e seus filhos se reuniram
com o ex-assessor de Trump em viagens aos Estados Unidos.
Além da família do presidente, o acusado de fraude também
manteve contato com figuras centrais do governo, como o ministro das Relações
Exteriores, Ernesto Araújo, com quem discutiu detalhes sobre o discurso
que Bolsonaro faria na Assembleia-Geral das Nações Unidas dias depois.
Quem é Steve
Bannon
De família católica irlandesa simpática aos democratas,
Bannon começou a trabalhar no mercado financeiro após finalizar seus estudos,
nos anos 1980, na Goldman Sachs. Em 1990, saiu da Goldman e fundou com colegas
da Goldman em 1990 a Bannon & Co, tendo como objetivo “realizar
investimentos em mídia”.
Seus investimentos e ligações o levaram a ser convidado para
dirigir o conhecido site de notícias Breitbart News, quando ficou famoso
mundo afora pela defesa de ideias nacionalistas e pautas conservadoras.
O site, fundado em 2007 por Andrew
Breitbart,
é um dos favoritos da direita
conservadora e
acusado de veicular notícias falsas
e teorias de conspiração,
bem como histórias enganosas.
Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional – Quinta-feira, 20 de agosto de 2020
– Publicado às 11h18 – Atualizado em 20 de agosto de 2020 às 21h04 – Internet:
clique aqui (acesso em: 21/08/2020).
Bannon
contra Papa Francisco:
os
ultraconservadores contra um mundo melhor
André
Duchiade
Inércia da hierarquia
diante de suas políticas,
onda global de
populismo nacionalista e até internet
ameaçam reformas do
pontífice, de acordo com vaticanistas
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STEVE BANNON & MATTEO SALVINI encontro entre o ideólogo norte-americano e o político populista italiano |
Desde que foi eleito Papa, há seis anos, Francisco sempre
manifestou o desejo de construir uma Igreja que se engaje contra a
desigualdade, promova a humildade e acolha os mais vulneráveis — “uma Igreja
pobre, para os pobres”, como muitas vezes disse. A modéstia, a abertura da
Igreja e o envolvimento em debates políticos contemporâneos produziram uma
imagem favorável do Papa não só entre a grande maioria dos católicos, mas
também em pessoas de outras fés e sem religião, que perceberam em Francisco uma
bem-vinda renovação, com uma ênfase maior na evangelização e no amparo do
que nos aspectos morais da doutrina. Causa espanto, assim, que Marco Politi, um dos maiores vaticanistas vivos,
tenha chamado seu novo livro, recém-lançado na Itália, de “A solidão de Francisco” (La Solitudine di
Francesco, ed. Laterza).
— Há um paradoxo. Francisco conta com um consenso muito
grande a seu favor entre pessoas de todas as religiões. Mas, ao mesmo tempo,
dentro da Igreja não há tantas pessoas engajadas em apoiá-lo. Ele enfrenta
não só adversários, mas uma grande passividade — afirmou Politi em entrevista
ao GLOBO. — Algumas pessoas estão com ele, outras estão contra, e outras
simplesmente permanecem paradas. [...]
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Tradução do título e subtítulo do livro: "A Solidão de Francisco: um papa profético, uma Igreja em tempestade". Ainda sem tradução em português. |
Guerra subterrânea
De acordo com Politi, nem todos os opositores de Francisco
o são abertamente. É verdade, ele ressaltou, que nos últimos anos houve uma
“escalada ininterrupta de críticas”, anônimas ou públicas. Ao sinalizar, no
documento “Amoris Laetitia” (A alegria do amor), de março de 2016, para
a possibilidade de que pessoas divorciadas e que se casaram outra vez recebam a
Eucaristia, por exemplo, Francisco se tornou alvo de tradicionalistas que o
acusam de violar a doutrina da Igreja. [...]
Segundo Politi, estas críticas são agressivas, mas
minoritárias em relação ao todo da Igreja. Ele as vê acompanhadas por uma rede mais vasta e sutil. A resistência
conservadora a Francisco, ele disse, se manifesta em episcopados que
simplesmente ignoram a sua agenda reformista.
Geopolítica desfavorável
A agenda ambiental e social promovida por Francisco também
encontra desafios na geopolítica global, com a onda soberanista, nacionalista e
antiecológica em países como Itália, Brasil e Estados Unidos. De acordo com a
teóloga argentina Emilce Cuda, que, além de interlocutora de Francisco,
é também especialista em populismo, a resistência não é tanto ao Pontífice,
mas sim às suas ideias e valores. A Igreja, observa ela, está inserida na
sociedade.
Em um momento em que ideias de “egoísmo
nacional” se fortalecem,
é previsível que quem se levanta a favor
dos imigrantes e dos pobres tenha opositores.
— A oposição não é ao Papa Francisco, mas ao que ele
representa e torna visível. A oposição é antes de tudo ao discurso de
setores descartados socialmente — afirmou Cuda . — O problema do Papa é que
as pessoas o escutam.
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PAPA FRANCISCO enfrentando uma sociedade sempre mais egoísta e fechada em seus próprios interesses |
Conselhos de Bannon
Politi afirma que o apoio que Francisco oferece aos
imigrantes é um dos motivos que explicam o fato de sua aprovação na Itália
ter caído de 88%, em 2014, para 72%, em 2018, segundo pesquisas de opinião. A
oposição a imigrantes é uma das principais bandeiras do vice-premier do país,
Matteo Salvini, hoje [na época de redação desta matéria, junho de 2019] o
político mais popular da Itália.
Em abril, foi divulgado que o ex-conselheiro da Casa Branca Steve Bannon aconselhou Salvini a tratar Francisco
como “um inimigo”,
incitando-o a “atacá-lo diretamente”. Bannon, que já se referiu publicamente a
Francisco como um “globalista”, foi um dos convidados do jantar promovido em
março pelo presidente Jair Bolsonaro em Washington, assim como o ideólogo Olavo
de Carvalho, que, em referência a uma carta de Francisco para o ex-presidente
Lula em maio, disse que o documento não tinha “autoridade nenhuma” e “era só
a opinião de um argentino”.
Não se sabe a quão disseminada pode ser a “resistência
silenciosa” denunciada por Politi no Brasil, mas três teólogos e estudiosos do
campo religioso no país afirmaram que o apoio a Francisco é amplamente
majoritário entre os brasileiros.
— Falar em oposição é um pouco exagerado. Embora haja
grupos mais conservadores que fazem oposição, eles exprimem setores muito
limitados — afirmou o presidente do centro católico Dom Vital, Carlos Frederico
Calvet da Silveira, que, contudo, ressalta notar “um crescimento de grupos
muito radicais e até defensores de teocracia”.
Fonte: O Globo – Mundo – 16 de junho de 2019 – Publicado às 04h30 – Internet:
clique aqui (acesso em: 21/08/2020).
Análise:
Detenção
de Bannon expõe a ação de
vigaristas
da direita americana
Paul Waldman
The Washington Post
Hoje, a campanha à
reeleição de Donald Trump
está cercada por
grupos que recebem recursos que os doadores acreditam ser para a eleição, mas,
na verdade, servem para comprar
casas de veraneio
para um monte de consultores
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STEVEN (STEPHEN) BANNON foi assessor de Donald Trump durante sete meses |
Se você achou que Stephen Bannon acabaria algemado,
certamente não imaginou que fosse por um crime assim tão pequeno. Afinal, Bannon
chegou às alturas do conservadorismo americano e tinha ambições de tornar
global seu projeto político. O esquema do qual ele foi acusado é como um
roubo de galinha.
A prisão de Bannon é também uma história comum. Operadores
políticos conservadores, como Bannon, sempre viram a massa de eleitores
da direita com desprezo, como pouco mais do que uma coleção de
tolos para tirar vantagem. A perspectiva é a do vigarista que olha para
os seus alvos e acha que eles são tão burros que seria quase um
crime não separá-los de seu dinheiro.
Bannon se imaginava uma figura histórica que moldaria o
mundo.
Agora, é acusado de executar um dos
golpes mais antigos:
a exploração de uma rede nacional de
ativistas conservadores.
Embora haja muitas campanhas de arrecadação de fundos
legítimas, o sistema foi inundado por golpistas que pedem doações que
nunca são destinadas a ajudar uma causa.
Hoje, a campanha à reeleição de
Donald Trump
está cercada por grupos que recebem
recursos que
os doadores acreditam ser para a
eleição, mas, na verdade,
servem para comprar casas de veraneio
para um monte de consultores.
Essa história de golpes atingiu o apogeu quando o Partido
Republicano fez de um vigarista seu líder, a pessoa por trás da Trump
University, da Trump Network, do Instituto Trump e da Fundação Trump, todos uma
farsa.
Talvez Bannon seja inocente e tudo seja um mal-entendido. Mas
esse tipo de vigarista vai continuar existindo, mantendo a simbiose entre os operadores antiéticos da direita e as multidões crédulas de
conservadores. Em janeiro, o próprio Trump pode voltar ao jogo. Se ele
perder a eleição, encontrará algum novo esquema para tentar convencer seus
devotos a entregarem suas economias para ele. Eles podem até perceber que são
vítimas. Mas eu duvido.
Assista a um ótimo vídeo sobre essa personagem
e as consequências de sua prisão, clicando sobre a
imagem abaixo:
Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional – Sexta-feira, 21 de agosto de 2020 – Pág. A10 – Internet:
clique aqui (acesso em: 21/08/2020).
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