1º Domingo da Quaresma – Ano B – HOMILIA

 Evangelho: Marcos 1,12-15

 Para ouvir a narração deste Evangelho, clique sobre a imagem abaixo: 


 Alberto Maggi

Frade da Ordem dos Servos de Maria (servitas) e renomado biblista italiano

Contra as tentações, resta-nos o serviço amoroso

Para o primeiro domingo da Quaresma a liturgia, no Evangelho de Marcos, apresenta-nos a passagem das tentações de Jesus no deserto e nestas tentações de Marcos Jesus não reza e não jejua; por quê? O evangelista não pretende apresentar um episódio da vida de Jesus, mas sim toda a existência de Jesus. Sabemos que o número quarenta na Bíblia tem valor figurativo, não tem valor matemático ou aritmético, mas representa uma geração. Então o evangelista, nestes poucos versos, nos mostra o que foi toda a existência de Jesus; portanto, não um episódio do qual Jesus saiu vitorioso, mas toda a vida de Jesus. 

O evangelista escreve no versículo 12 do capítulo 1: “E imediatamente o Espírito”, aquele espírito que Jesus recebeu no momento do seu batismo, é, agora, como resposta ao amor de Deus que Jesus recebeu, o amor pelos homens, um amor que conduz os seres humanos para libertar. “Imediatamente o Espírito o empurrou”, o verbo usado pelo evangelista é muito forte, “afastar/empurrar”, para indicar a urgência desta atividade, “no deserto”. Este deserto recorda o deserto do Êxodo, o caminho de libertação que Jesus veio, agora, percorrer para libertar os seus. 

E ele permaneceu no deserto por quarenta dias”, como eu disse antes, não indica um episódio da vida de Jesus, mas toda a existência de Jesus, “e ele foi tentado por Satanás”. O verbo “tentar”, neste Evangelho de Marcos, é paradoxalmente atribuído àqueles que se consideravam, na cultura daquele tempo, como os mais próximos do Senhor, os fariseus. São eles os tentadores de Jesus porque são como Satanás, o diabo que divide; eles separam os seres humanos de Deus, o homem da mulher e os seres humanos uns dos outros. Ele é tentado por Satanás e o epíteto “satanás” Jesus dirigirá justamente a um de seus discípulos, Pedro, que não aceita a destinação de Jesus de ir comunicar vida, ele quer um messias de poder e não entende que Jesus, ao invés, será derrotado pelo poder. 

E então, escreve o evangelista, que “ficou com as feras”. No livro de Daniel as feras indicam os impérios, o poder, o que pode trazer a morte. Portanto, durante toda a sua existência na terra, Jesus correu o risco de perder a sua vida e “os anjos o serviam”. Os anjos aparecem pela primeira vez em atitude de serviço. Esses anjos, que veremos mais tarde, são descritos por mulheres no Evangelho de Marcos. Serão as mulheres que servirão, a primeira será a sogra de Pedro que servirá a Jesus, a última vez que aparecerá atribuído ao povo serão as mulheres na crucificação, que o seguiram desde a Galileia. Enquanto os discípulos ao longo de todo o evangelho brigam entre si para saber quem é o mais importante, quem está acima dos outros, são as mulheres, que eram consideradas os seres mais distantes de Deus, as que compreenderam que a comunhão com Deus acontece por meio do serviço prestado gratuitamente por amor, por isso, o evangelista usa o verbo “diakoneo” (fonético), daí o termo diácono. No décimo capítulo será Jesus, justamente durante uma discussão com seus discípulos, que dirá que ele não veio para ser servido, mas para servir.

O serviço prestado gratuitamente com amor e generosidade é a única garantia de comunhão com Deus.

Em seguida, o evangelista afirma imediatamente: “Depois que João foi preso”. Aqui estão as feras: tanto João [Batista] como Jesus anunciam um convite à mudança, mas os que estão no poder não têm intenção de mudar e querem perseguir todos aqueles que o proclamam. 

Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo. 

Reflexão Pessoal – Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo

É estranho, é paradoxal, é contraditório, no entanto, o Evangelho deste 1º domingo da Quaresma nos alerta que as piores tentações surgem, justamente, no interior daquele ambiente que deveria ser o mais imune, o mais protegido, o mais improvável de se encontrar os maiores pecados que atingem a humanidade.

Que ambiente é esse? O ambiente da comunidade cristã, o ambiente daqueles que se propõem a seguir Jesus, o ambiente daqueles que dizem ter fé no Filho de Deus! Justamente aí, pode-se encontrar a manifestação do que há de pior nas tentações humanas:

* a preocupação exagerada consigo mesmo;

* o gosto em se aparecer;

* a busca pelo poder;

* a cobiça, o apego aos bens materiais;

* a exploração dos outros em proveito próprio;

* a violência e a intolerância contra os diferentes;

* a insensibilidade, quase completa, pelos sentimentos alheios;

* a manipulação dos outros etc.

Contra essas e outras tentações, o Evangelho apresenta-nos somente um antídoto, uma vacina: colocar-se, amorosamente, gratuitamente a serviço dos outros. Abraçar o projeto de libertação das pessoas de tudo aquilo que as oprime, que não promove a sua dignidade!

É nessa direção que o Espírito nos “empurra”, assim como “empurrou/afastou” Jesus para o deserto, o lugar onde se realiza o compromisso com Deus. 

Fonte: CENTRO STUDI BIBLICI “G. VANNUCCI” – Videomelie e trascrizione – I Domenica Quaresima – 21 febbraio 2021– Internet: clique aqui (acesso em: 20/02/2021).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A necessidade de dessacerdotalizar a Igreja Católica

Dominação evangélica para o Brasil

Eleva-se uma voz profética