«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Querem nos dividir!

 Um câncer se instalou em nosso corpo eclesial e social; um câncer chamado Bolsonaro

 Pe. Manuel Joaquim Rodrigues dos Santos

Arquidiocese de Londrina – PR 

Devemos ficar atentos e fiéis ao Evangelho de Jesus de Nazaré, dos pobres, dos miseráveis, da acolhida

Padre Manuel Joaquim Rodrigues dos Santos - autor desta carta aberta

Queridos irmãos católicos “conservadores”! 

Creio que em nome dos valores que partilhamos, deveríamos fazer uma reflexão séria e desapaixonada. Poderíamos começar pelo seguinte:

* Não é a Campanha da Fraternidade ou o texto escrito por irmãos evangélicos, que está gerando uma polêmica dentro da Igreja Católica.

* Não é a questão da mentalidade ou formação teológica, ou até o histórico, das pastoras que o escreveram.

Nada disso nos teria incomodado, se esse texto tivesse sido escrito há sete anos atrás!

Tenho a certeza que teríamos lido o manual e feito algumas críticas corriqueiras que em nada afetariam o desenvolvimento da Campanha. Porém, 2021 não é um ano qualquer.

Um câncer se instalou no nosso corpo eclesial e social; um câncer chamado Bolsonaro! Que ameaça tornar-se uma metástase!

Não só está acabando com a nossa Amazônia e os órgãos de proteção ambiental, como é o responsável direto por essa mortandade de 240.000 brasileiros [hoje, mais de 250 mil].  Numa infelicidade total, entrou pior do que a covid-19, no nosso organismo eclesial e está destruindo as nossas células de proteção e a harmonia que tínhamos, apesar de tantas diferenças que sempre coexistiram na Igreja Católica.

O demônio existe sim. Ele tem vários rostos e vários nomes e ele entra para dividir, como se explica etimologicamente.

Para dividir e para destruir a obra de Jesus, mesmo que para isso tenha que se travestir em defensor da Santa Igreja Católica Apostólica! Nós conhecemos muito bem este inimigo; devemos ficar atentos e fiéis ao Evangelho de Jesus de Nazaré, dos pobres, dos miseráveis, da acolhida. Esse é o Jesus que venceu as três tentações e nos obriga a identificá-las constantemente e a continuar lutando contra esse mesmo demônio! 

Não tenhamos dúvidas! Bolsonaro é o grande divisor de águas:

* de um Brasil sério para um Brasil pária internacional,

* das políticas públicas e saída da fome, para a miséria e o retrocesso,

* da harmonia na religião e na política, para um radicalismo e uma polarização, alimentados por um gabinete do ódio. 

Não é a diversidade dentro da igreja entre conservadores e progressistas que está em causa! Isso sempre existiu!  O que está em causa, é uma força externa que conseguiu entrar no nosso organismo com o intuito de nos destruir, na linha dos romanos, divide et impera [= dividir para conquistar, em tradução livre] ou como diria Napoleão, divide ut regnes [= divida a fim de reinar, tradução livre]. 

Jair Bolsonaro, em campanha eleitoral, é acolhido por padres e leigos em sua visita à sede da Canção Nova, no Vale do Paraíba, em 2018

Alguns de nós, incautos e mal formados, estão se amparando nesse “mito” para se entrincheirarem e defenderem a sua “fé”! 

A prova do que estou dizendo, é a total anestesia ética perante aberrações gritantes desse demônio:

1) Ao avançar com a boiada sobre a Amazônia, tolerar e apoiar os inúmeros incêndios, tem o silêncio de católicos!

2) Ao desmantelar os principais órgãos de proteção ambiental e reduzir a pó a fiscalização, gerando a sensação de impunidade, tem a complacência a até aplausos dos mesmos!

3) Ao legislar compulsivamente a favor das armas, fazendo do país um exército civil, tem a anuência desses grupos.

4) Ao debochar do vírus Covid 19, negar a sua gravidade, provocar aglomerações, atrasar a compra de vacinas e gastar milhões em tratamentos impróprios, tem a euforia dos ditos conservadores.

5) E o que dizer da rachadinha da família?

6) Do réquiem da lava Jato?

7) Do Queiróz?

8) Das ameaças às Instituições Democráticas?

9) Da compra bilionária do Centrão?

10) Da velha política como norma em seu governo?

11) Dos impropérios e ameaças à Imprensa Livre?

12) E o silêncio covarde, perante as 700 toneladas de picanha e milhares de litros de cerveja consumidos pelo exército? 

Meus queridos amigos católicos conservadores! Há incongruências gritantes na vossa postura, que vos trai! Sei que vocês gostam de gritar contra o aborto, como se a vossa Igreja se omitisse! No entanto, ao desejarem bandidos mortos e chamarem pobres de vagabundos, vosso posicionamento cai por terra! 

A vida humana é para ser defendida de A a Z! Do início ao fim, passando pelo meio! Vida é vida! Vida digna para todos, com os seus direitos inalienáveis defendidos!

Ao defenderem o direito absoluto à propriedade, já estão subjugando o valor dessa vida humana a um pedaço de coisa qualquer! Ao abominarem o discurso da Igreja sobre justiça social, racismo estrutural, ou combate a qualquer discriminação e preconceito, já se afastam anos luzes, da Doutrina da Igreja que dizem defender, tão querida aos papas que também dizem admirar! 

Meus amigos católicos conservadores! Estão assustados com o Papa Francisco ou com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)?

Como se deixaram seduzir e guiar por esse engodo de questionarem a autoridade da vossa Família?

O Espírito sopra onde quer e provoca fidelidade ao ideário de Jesus e ao seu Evangelho. Foi assim no Vaticano II (que vocês não apreciam) e está sendo assim com Francisco. Não tenham medo! Essa foi a frase de João Paulo II na virada do ano 2000 e essa tem sido a bússola do atual timoneiro na cátedra de Pedro. Não caiam na tentação de ficar fora da vossa Igreja animada pelo Espírito Santo nesta longa manhã de nevoeiro que estamos passando.

Vocês se perderão agarrados às ferrenhas certezas que demonstram bem pouca fé!

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