«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 27 de fevereiro de 2021

2º Domingo da Quaresma – Ano B – HOMILIA

 Evangelho: Marcos 9,2-10 

Naquele tempo: 2 Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos a um lugar à parte sobre uma alta montanha. E transfigurou-se diante deles. 3 Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar. 4 Apareceram-lhe Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus. 5 Então Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: «Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias.» 6 Pedro não sabia o que dizer, pois estavam todos com muito medo. 7 Então desceu uma nuvem e os encobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: «Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!» 8 E, de repente, olhando em volta, não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus com eles. 9 Ao descerem da montanha, Jesus ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos. 10 Eles observaram esta ordem, mas comentavam entre si o que queria dizer «ressuscitar dos mortos». 

Alberto Maggi

Frade da Ordem dos Servos de Maria (servitas) e renomado biblista italiano

A morte não nos destrói, mas nos liberta 

O evangelista Marcos, nas tentações de Jesus no deserto, não pretendeu apresentar um período da vida do Senhor, mas toda a existência de Jesus, a qual foi no deserto, tentado por Satanás. E no decorrer do Evangelho, o evangelista mostrou quem é esse satanás. Quando Jesus, pela primeira vez, anuncia aos seus discípulos que não vai a Jerusalém para conquistar o poder, mas para ser morto pelo poder, surge a reação violenta e temerária, e um dos discípulos, Simão, a quem Jesus deu um apelido negativo, indicando sua teimosia, Pedro, tão duro como uma pedra, agarra Jesus e este se dirige ao discípulo com palavras terríveis chamando-o de «satanás». Ele não o afugenta, mas diz «Para trás de mim, Satanás». Assim é Simão, apelidado de Pedro por sua teimosia, a teimosia que, posteriormente, o levará a trair Jesus, que vem por Jesus e pelo evangelista identificado como o Satanás tentador. 

Mas não é à toa que se chama Pedro, aqui ainda continua a tentar Jesus e, imediatamente após este confronto entre Jesus e os seus discípulos, que não aceitam o fato de o Messias poder morrer, Jesus mostra-lhes qual é a condição do homem que passa pela morte. É a passagem do evangelho de hoje, conhecida como o episódio da transfiguração, capítulo 9 do Evangelho de Marcos. Que começa com uma indicação muito importante, «No sexto dia ou seis dias depois». O sexto dia lembra o dia da criação do ser humano; eis o que evangelista nos apresenta como homem criado segundo Deus:

... o homem que não sucumbe com a morte, mas que com a morte começa uma nova existência luminosa.

«Seis dias depois Jesus levou consigo» e leva consigo os três discípulos mais difíceis aos quais colocou um apelido negativo que indica seu caráter: Simão, que se chama Pedro [= pedra], o teimoso, e depois Tiago e João, que ele definiu em aramaico «boanerges», isto é, «os filhos do trovão», por sua violência, por sua ambição, aqueles que, portanto, correrão o risco de arruinar e dividir o grupo. 

«Sobre um alto monte» que indica a condição divina «e foi transfigurado diante deles». Jesus mostra qual é a condição do ser humano que passa pela morte.

A morte não apenas não destrói o indivíduo, mas libera todas as suas energias e o fortalece.

Por isso, o evangelista usa uma expressão que pode parecer banal, ele diz «Suas roupas tornaram-se tão brilhantes, que nenhum lavador na terra poderia torná-las tão brancas»; significa que não é com esforço humano que essa condição é alcançada, mas por meio da energia divina que é comunicada ao ser humano. 

Nessa ocasião, Elias apareceu a eles com Moisés. O que chamamos de Antigo Testamento no mundo judaico era dividido entre a lei, a lei que foi transmitida por meio de Moisés, e o maior dos profetas, aquele que, com violência, fez respeitar a lei, o profeta Elias. Eles, Moisés e Elias, conversam com os discípulos, conversam com Jesus. Elias e Moisés nada mais têm a dizer aos discípulos de Jesus, se não filtrar sua mensagem através dos ensinamentos e obras de Jesus. 

E aqui, novamente, Simão continua sua ação como um estranho tentador. Na verdade, o evangelista escreve: «Tomando a palavra» e coloca apenas o apelido negativo, «Pedro», que indica o teimoso, «disse ele a Jesus» e o chama exatamente como Judas Iscariotes o chamará, «Rabbi» [= Mestre], uma expressão de respeito com a qual se dirigia aos escribas, aqueles que ensinavam a lei. «É bom para nós estarmos aqui», e surge a tentação, «façamos três cabanas». Por que três cabanas? Houve e ainda há uma festa no mundo judaico entre setembro e outubro que comemora a grande libertação da escravidão egípcia. Para celebrar este acontecimento, por uma semana, as pessoas vivem em cabanas e a tradição dizia que o novo libertador de Israel chegará na recordação do antigo libertador, portanto o novo messias se manifestará na recordação de Moisés. 

Aqui, então, está a tentação de Pedro: ele quer que Jesus se manifeste assim, como? Eis o que Pedro diz: «Vamos fazer três cabanas, uma para você, uma para Moisés e uma para Elias».

Quando há três personagens, onde está o mais importante? No centro.

No centro para Pedro, ainda, não está Jesus, no centro está Moisés. Aqui está o messias que eu quero, aquele que vive de acordo com a lei de Moisés e a faz cumprir de acordo com o espírito violento do profeta Elias. É a tentação de ser um messias do poder. 

Mas, escreve o evangelista, ele não sabia o que estava dizendo. E aqui está a intervenção de Deus através da nuvem, imagem divina, e sua voz diz «Este é meu filho, o amado», o amado significa o herdeiro, «nele está tudo de mim». E, então, uma ordem imperativa «Ouça-o». Eles não precisam mais ouvir Moisés ou Elias e os ensinamentos deles devem ser filtrados e interpretados de acordo com os ensinamentos e as obras de Jesus. Aqui está o convite imperativo «Ouça-o». 

«E, de repente, olhando em volta, não viram ninguémAinda procuram Moisés e Elias porque é a tradição, o que lhes dá segurança, e encontram apenas Jesus e se sentem perdidos. Jesus ordena-lhes que não falem sobre o que viram, porque já experimentaram a condição do homem que passa pela morte, mas ainda não sabem o que será essa morte, a infame morte de cruz. 

Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.


Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

Não é de hoje que os seres humanos, pensando estar interpretando fielmente a vontade de Deus e seus projetos, apresentam um deus, uma religiosidade, uma vivência que não se assemelham, minimamente, com a verdadeira face de nosso Criador e de Nosso Senhor Jesus Cristo!

Esse é o caso do messianismo. O que deveria ser, de fato, o Messias? Os judeus, inclusive os discípulos de Jesus, estavam convictos de uma imagem de messias-rei, messias-guerreiro, messias-soberano absoluto que restauraria os velhos e bons tempos do Israel antigo. O povo voltaria a ter independência, autonomia e soberania. Os invasores seriam expulsos e a “verdadeira tradição judaica” difundida e vivida por toda a população.

Ainda hoje, encontramos muitas pessoas que se dizem “cristãs”, mas que apresentam muita dificuldade em aceitar quem Jesus foi, de verdade, em seu tempo. A imagem que fazem de Jesus é mais romântica que real, mais idealizada que histórica, mais adocicada que profética, mais inofensiva que transformadora. É um cristianismo de apaziguamento psicológico e não de conversão de vida. Aqueles que embarcam nesse tipo de cristianismo, erram feio o objetivo, o caminho, e suas ações não ajudam a mudar, realmente, o mundo em que vivemos. É um cristianismo que “constrói cabanas para preservar o status quo, a situação desigual e injusta deste mundo em que vivemos”.

Porém, é muito interessante o modo como Jesus trata esses seus discípulos iludidos por um falso messianismo! Ele não os despreza, ele não os marginaliza, mas convida-os a estarem, ainda, mais próximos dele! Jesus quer ensiná-los a conhecer o verdadeiro Deus, o verdadeiro Messias. Errando, sendo corrigidos (como Deus corrigiu Pedro no Evangelho de hoje) e sendo amados, esses discípulos foram, aos poucos, compreendendo o sentido de seguir Jesus e de tê-lo por Mestre.

Será que tudo isso não tem muito a nos ensinar, nesses tempos de tanta polarização, divisão, visões e práticas equivocadas de cristianismo? 

Fonte: CENTRO STUDI BIBLICI “G. VANNUCCI” – Videomelie e trascrizione – II Domenica Quaresima – 28 febbraio 2021– Internet: clique aqui (acesso em: 27/02/2021).

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