2º Domingo da Quaresma – Ano B – HOMILIA
Evangelho: Marcos 9,2-10
Naquele tempo: 2 Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos a um lugar à parte sobre uma alta montanha. E transfigurou-se diante deles. 3 Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar. 4 Apareceram-lhe Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus. 5 Então Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: «Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias.» 6 Pedro não sabia o que dizer, pois estavam todos com muito medo. 7 Então desceu uma nuvem e os encobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: «Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!» 8 E, de repente, olhando em volta, não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus com eles. 9 Ao descerem da montanha, Jesus ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos. 10 Eles observaram esta ordem, mas comentavam entre si o que queria dizer «ressuscitar dos mortos».
Alberto
Maggi
Frade da Ordem dos Servos de Maria (servitas) e renomado biblista italiano
O evangelista Marcos, nas tentações de Jesus no deserto, não pretendeu apresentar um período da vida do Senhor, mas toda a existência de Jesus, a qual foi no deserto, tentado por Satanás. E no decorrer do Evangelho, o evangelista mostrou quem é esse satanás. Quando Jesus, pela primeira vez, anuncia aos seus discípulos que não vai a Jerusalém para conquistar o poder, mas para ser morto pelo poder, surge a reação violenta e temerária, e um dos discípulos, Simão, a quem Jesus deu um apelido negativo, indicando sua teimosia, Pedro, tão duro como uma pedra, agarra Jesus e este se dirige ao discípulo com palavras terríveis chamando-o de «satanás». Ele não o afugenta, mas diz «Para trás de mim, Satanás». Assim é Simão, apelidado de Pedro por sua teimosia, a teimosia que, posteriormente, o levará a trair Jesus, que vem por Jesus e pelo evangelista identificado como o Satanás tentador.
Mas não é à toa que se chama Pedro, aqui ainda
continua a tentar Jesus e, imediatamente após este confronto entre Jesus e os
seus discípulos, que não aceitam o fato de o Messias poder morrer, Jesus
mostra-lhes qual é a condição do homem que passa pela morte. É a
passagem do evangelho de hoje, conhecida como o episódio da transfiguração,
capítulo 9 do Evangelho de Marcos. Que começa com uma indicação muito
importante, «No sexto dia ou seis dias depois». O sexto dia lembra o dia da
criação do ser humano; eis o que evangelista nos apresenta como homem
criado segundo Deus:
... o homem que não sucumbe com a morte, mas que com a morte começa
uma nova existência luminosa.
«Seis dias depois Jesus levou consigo» e leva consigo os três discípulos mais difíceis aos quais colocou um apelido negativo que indica seu caráter: Simão, que se chama Pedro [= pedra], o teimoso, e depois Tiago e João, que ele definiu em aramaico «boanerges», isto é, «os filhos do trovão», por sua violência, por sua ambição, aqueles que, portanto, correrão o risco de arruinar e dividir o grupo.
«Sobre um alto monte» que indica a condição divina
«e foi transfigurado diante deles». Jesus mostra qual é a condição do
ser humano que passa pela morte.
A morte não apenas não destrói o indivíduo, mas libera todas as
suas energias e o fortalece.
Por isso, o evangelista usa uma expressão que pode parecer banal, ele diz «Suas roupas tornaram-se tão brilhantes, que nenhum lavador na terra poderia torná-las tão brancas»; significa que não é com esforço humano que essa condição é alcançada, mas por meio da energia divina que é comunicada ao ser humano.
Nessa ocasião, Elias apareceu a eles com Moisés. O que chamamos de Antigo Testamento no mundo judaico era dividido entre a lei, a lei que foi transmitida por meio de Moisés, e o maior dos profetas, aquele que, com violência, fez respeitar a lei, o profeta Elias. Eles, Moisés e Elias, conversam com os discípulos, conversam com Jesus. Elias e Moisés nada mais têm a dizer aos discípulos de Jesus, se não filtrar sua mensagem através dos ensinamentos e obras de Jesus.
E aqui, novamente, Simão continua sua ação como um estranho tentador. Na verdade, o evangelista escreve: «Tomando a palavra» e coloca apenas o apelido negativo, «Pedro», que indica o teimoso, «disse ele a Jesus» e o chama exatamente como Judas Iscariotes o chamará, «Rabbi» [= Mestre], uma expressão de respeito com a qual se dirigia aos escribas, aqueles que ensinavam a lei. «É bom para nós estarmos aqui», e surge a tentação, «façamos três cabanas». Por que três cabanas? Houve e ainda há uma festa no mundo judaico entre setembro e outubro que comemora a grande libertação da escravidão egípcia. Para celebrar este acontecimento, por uma semana, as pessoas vivem em cabanas e a tradição dizia que o novo libertador de Israel chegará na recordação do antigo libertador, portanto o novo messias se manifestará na recordação de Moisés.
Aqui, então, está a tentação de Pedro: ele quer que Jesus
se manifeste assim, como? Eis o que Pedro diz: «Vamos fazer três
cabanas, uma para você, uma para Moisés e uma para Elias».
Quando há três personagens, onde está o mais importante? No centro.
No centro para Pedro, ainda, não está Jesus, no centro está Moisés. Aqui está o messias que eu quero, aquele que vive de acordo com a lei de Moisés e a faz cumprir de acordo com o espírito violento do profeta Elias. É a tentação de ser um messias do poder.
Mas, escreve o evangelista, ele não sabia o que estava dizendo. E aqui está a intervenção de Deus através da nuvem, imagem divina, e sua voz diz «Este é meu filho, o amado», o amado significa o herdeiro, «nele está tudo de mim». E, então, uma ordem imperativa «Ouça-o». Eles não precisam mais ouvir Moisés ou Elias e os ensinamentos deles devem ser filtrados e interpretados de acordo com os ensinamentos e as obras de Jesus. Aqui está o convite imperativo «Ouça-o».
«E, de repente, olhando em volta, não viram ninguém.» Ainda procuram Moisés e Elias porque é a tradição, o que lhes dá segurança, e encontram apenas Jesus e se sentem perdidos. Jesus ordena-lhes que não falem sobre o que viram, porque já experimentaram a condição do homem que passa pela morte, mas ainda não sabem o que será essa morte, a infame morte de cruz.
Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José
Amaral de Figueiredo.
Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo
Não é de hoje que os seres humanos, pensando estar
interpretando fielmente a vontade de Deus e seus projetos, apresentam um deus,
uma religiosidade, uma vivência que não se assemelham, minimamente, com a
verdadeira face de nosso Criador e de Nosso Senhor Jesus Cristo!
Esse é o caso do messianismo. O que deveria ser,
de fato, o Messias? Os judeus, inclusive os discípulos de Jesus, estavam
convictos de uma imagem de messias-rei, messias-guerreiro, messias-soberano
absoluto que restauraria os velhos e bons tempos do Israel antigo. O povo
voltaria a ter independência, autonomia e soberania. Os invasores seriam
expulsos e a “verdadeira tradição judaica” difundida e vivida por toda a população.
Ainda hoje, encontramos muitas pessoas que se dizem “cristãs”,
mas que apresentam muita dificuldade em aceitar quem Jesus foi, de verdade, em
seu tempo. A imagem que fazem de Jesus é mais romântica que real, mais idealizada
que histórica, mais adocicada que profética, mais inofensiva que transformadora.
É um cristianismo de apaziguamento psicológico e não de conversão de
vida. Aqueles que embarcam nesse tipo de cristianismo, erram feio o
objetivo, o caminho, e suas ações não ajudam a mudar, realmente, o mundo em que
vivemos. É um cristianismo que “constrói cabanas para preservar o status quo,
a situação desigual e injusta deste mundo em que vivemos”.
Porém, é muito interessante o modo como Jesus trata
esses seus discípulos iludidos por um falso messianismo! Ele não os despreza,
ele não os marginaliza, mas convida-os a estarem, ainda, mais próximos dele!
Jesus quer ensiná-los a conhecer o verdadeiro Deus, o verdadeiro Messias.
Errando, sendo corrigidos (como Deus corrigiu Pedro no Evangelho de hoje) e
sendo amados, esses discípulos foram, aos poucos, compreendendo o sentido de
seguir Jesus e de tê-lo por Mestre.
Será que tudo isso não tem muito a nos ensinar, nesses tempos de tanta polarização, divisão, visões e práticas equivocadas de cristianismo?
Fonte: CENTRO STUDI BIBLICI “G. VANNUCCI” – Videomelie e trascrizione – II Domenica Quaresima – 28 febbraio 2021– Internet: clique aqui (acesso em: 27/02/2021).
Comentários
Postar um comentário