Pura verdade!!!
Bolsonaro nu
Editorial
Jornal «O Estado de S. Paulo»
Ninguém precisava da
Polícia Federal para saber que Bolsonaro é golpista
O relatório final da Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de golpe de Estado que teria sido urdida no seio do governo de Jair Bolsonaro para aferrá-lo ao poder decerto não surpreendeu quem acompanhou minimamente a vida pública do ex-presidente. Desde quando saiu do Exército em desonra, passando por uma frívola carreira parlamentar – que, se prestou para alguma coisa, foi para enriquecê-lo, além de sua família – até chegar à Presidência da República, Bolsonaro jamais traiu seu espírito golpista. De mau militar e mau deputado a mau presidente, foram quase 40 anos de exploração da insurreição e da infâmia como ativos políticos.
Este
jornal, seguramente, não está surpreso com o que veio a público após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal
Federal (STF), levantar o sigilo sobre o referido relatório. Afinal, faz quase
25 anos que já sublinhávamos nesta página o vezo parasitário de
Bolsonaro no Brasil pós-redemocratização, chamando-o pelo que é:
um desqualificado que se serve das
mesmas liberdades democráticas que sempre quis obliterar (ver o editorial Dejetos
da democracia, 08/01/2000).
A rigor, ninguém precisava de um relatório policial de mais de 800 páginas para saber que Bolsonaro é um golpista inveterado. Quem já votou nele ao longo da vida pode alegar tudo, menos desconhecimento de sua índole destrutiva. Mas, para quem quiser, aí está o portentoso material reunido pela PF a encadear fatos e personagens com notável robustez, além de desnudar o espírito insurreto que jamais deixou de guiar o ex-presidente ao longo de sua trajetória.
Segundo a PF, Bolsonaro “planejou, atuou e teve domínio de forma direta e efetiva” das tramoias para impedir a posse do presidente Lula da Silva, o que teria incluído até um suposto plano para assassiná-lo, entre outras autoridades. E não só entre novembro e dezembro de 2022, mas durante todo o mandato – que, recorde-se, começou com a disseminação de mentiras sobre a suposta “fragilidade” das urnas eletrônicas. Ainda de acordo com a PF, essa desabrida campanha de desqualificação do sistema eleitoral já era parte do plano golpista de Bolsonaro para se insurgir contra um resultado nas urnas que não fosse a sua reeleição, contando que a desconfiança que semeou entre milhões de brasileiros poderia lhe ser útil no futuro.
É
fundamental frisar que ainda se está em fase de inquérito policial. De modo que
o contraditório e a ampla defesa só estarão plenamente garantidos aos 37
indiciados, como é próprio do Estado Democrático de Direito, mais à frente,
vale dizer, se e quando a Procuradoria-Geral da República:
a) oferecer
denúncia contra eles,
b) as
acusações forem aceitas pelo STF e
c) o caso,
então, entrar na fase judicial propriamente dita.
Entretanto,
as eventuais provas que poderão ser apresentadas à Justiça pelo parquet [=
Ministério Público], obviamente, serão decisivas apenas, por assim dizer, para
o destino penal de Bolsonaro. Já sobre seu golpismo não há prova mais cabal
de que se trata de um inimigo figadal da democracia do que seu próprio passado.
Nesse sentido, é estarrecedor ainda
haver no seio de uma sociedade que se pretende livre e democrática quem admita
a presença de alguém como Bolsonaro na vida política.
Ou pior,
que enxergue como “democrata”, “patriota”, “vítima do sistema” ou baboseira que
o valha um sujeito de quinta categoria que:
* já defendeu
o fechamento do Congresso,
* lamentou
o “baixo número” de concidadãos torturados e mortos nos porões da ditadura
militar,
* pregou
o fuzilamento do presidente Fernando Henrique
Cardoso e
* trata
adversários políticos como inimigos a serem eliminados, inclusive
fisicamente.
Ademais, Bolsonaro jamais desestimulou as manifestações de teor golpista realizadas em seu nome, como os acampamentos na frente de quartéis País afora. Tudo indica que não o fez para falsear um “clamor popular” pelo golpe e, assim, pressionar as Forças Armadas a apoiá-lo na intentona – o que, para o bem do Brasil, não ocorreu.
A Justiça, primeiro, e a História, depois, hão de ser implacáveis com Bolsonaro e todos os que flertaram com a destruição da democracia no Brasil.
Fonte: O Estado de S. Paulo – Notas e Informações – Quinta-feira, 28 de novembro de 2024 – Pág. A3 – Internet: clique aqui (Acesso em: 03/12/2024).
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