O Planeta corre perigo com Trump!
Ato de Trump praticamente tira os Estados Unidos
do Acordo de Paris
Giovana
Girardi
Trump nem precisou cumprir sua meta de campanha de
abandonar o acordo climático; sem o Plano de Energia Limpa, dificilmente o país
vai cumprir sua parte de reduzir as emissões de gases de efeito estufa de 26% a
28% até 2025 e o impacto para o planeta pode ser enorme
DONALD TRUMP Presidente dos Estados Unidos discursa antes de assinar a ordem executiva de Independência Energética na sede da Agência de Proteção Ambiental |
Desde
que Donald Trump ganhou as eleições americanas, há rumores e temores de que a
qualquer momento ele vai pular fora do Acordo
de Paris, o tratado assinado por 196
países em dezembro de 2015 que estabeleceu um compromisso de todos de combater
as mudanças climáticas. Trump ainda não o fez oficialmente, mas a ordem
executiva assinada nesta terça-feira (28 de março) é certamente o mais próximo
disso.
Quando Obama se comprometeu
a reduzir de 26% a 28% das emissões de gases de efeito estufa do país até 2025
como a contribuição americana ao Acordo de Paris, ele o fez baseado
principalmente no mesmo Plano de Energia Limpa que Trump agora começa a
desmontar. Sem as regulações que definiam quanto as termoelétricas a carvão
podem emitir, muito provavelmente os
Estados Unidos não vão cumprir suas metas.
Bem
verdade que o Plano de Energia Limpa não estava ainda em ação. Ele foi
congelado pela Suprema Corte americana ainda no final da gestão Obama depois
que vários Estados republicanos alegaram que ele era inconstitucional. Mas
agora é certo que ele não vai mesmo ser implementado, ao menos não nos mesmos
termos definidos por Obama.
Os Estados Unidos são o
segundo maior emissor de gás carbônico do mundo, perdendo somente para a China. Mas, historicamente, foram
os grandes responsáveis pela quantidade de gases
de efeito estufa que estão na atmosfera e já fizeram a temperatura média do planeta subir mais de 1°C desde a
Revolução Industrial. É esse cobertor de gases retendo o calor da Terra que
está por trás das quebras consecutivas de recorde de temperatura que o planeta
tem enfrentado nos últimos anos.
Se
o acordo, da forma como foi fechado, já parece ser insuficiente para manter o
aquecimento do planeta a menos de 2°C até o final do século, como foi definido
pelos países, sem os Estados Unidos
fazendo a sua parte – ao menos pelos próximos quatro ou oito anos –, essa meta fica quase impossível de ser
alcançada.
O
curioso é que o argumento de Trump de
que o plano de Obama é o grande “matador de empregos” do setor energético do
país é uma grande falácia. Primeiro porque, justamente por ele estar
congelado pela Suprema Corte, ainda não tirou o emprego de ninguém. Em segundo
lugar porque outros fatores bem mais complexos estão levando a isso.
“Os
empregos da mineração de carvão estão declinando nos Estados Unidos há décadas,
principalmente por causa de mudanças
tecnológicas, como a mecanização,
que aumentaram a produtividade do setor, e recentemente por causa dos baixos preços do gás natural, que o
tornaram muito mais competitivo que o carvão. E não primariamente por causa de
regulações ambientais e certamente não por causa de regulação que nem sequer
foi implementada”, afirmou ao jornal O Estado
de S. Paulo Robert Stavins,
diretor do Programa de Economia Ambiental da Universidade Harvard e um dos
maiores especialistas em política climática dos Estados Unidos.
Por
outro lado, diversos indicadores mostram
que o setor de energias renováveis está muito bem atendendo a essa demanda de
empregos. Levantamento do Fundo de Defesa do Ambiente (EDF) calculou, por
exemplo, que as indústrias eólica e
solar estão criando empregos 12 vezes mais rapidamente que o restante da economia
dos EUA.
Outra falácia é ele falar
que vai conseguir tudo isso sem comprometer o ar ou a água dos Estados Unidos. “Vamos ter carvão limpo,
realmente limpo”, disse.
Há
alguns anos, na Conferência do Clima de Varsóvia, o governo da Polônia,
altamente dependente de carvão, defendeu essa mesma ideia, de que seria
possível ter uma carvão verde, não poluente. Um grupo de pesquisadores se
reuniu na ocasião para mostrar por A + B que simplesmente não existe tal coisa.
Carvão é o combustível que mais emite
gás carbônico. Deixá-lo verde, só com uma tecnologia capaz de sequestrar
carbono da atmosfera e enterrá-la no solo, o que ainda só existe em escala
experimental e a altos custos.
Guerra
ao carvão
As
declarações e atos de Trump, nesse sentido, são claramente para agradar a um
público muito específico. Cercado de
mineradores na assinatura da ordem executiva, disse “nós amamos os mineradores
de carvão” e “estamos colocando um fim à guerra contra o carvão”.
Totalmente na contramão do que o Acordo de Paris demanda: uma guerra, sim,
contra os combustíveis fósseis, ou vamos enfrentar uma catástrofe climática.
Para
Eduardo Viola, professor de Relações Internacionais da Universidade de
Brasília, há que se lembrar que o cenário internacional hoje está muito mais
mobilizado nesse sentido.
“Há
uma lógica profunda na economia global que começou a mudar nos últimos anos
quando o complexo solar, eólico e de inteligência de baterias se tornou mais
competitivo. Isso faz com que o processo
de descarbonização da economia seja profundo, apesar de lento. Há dez anos
um posicionamento como esse de Trump teria sido um golpe fortíssimo nesse
cenário. Agora é um golpe transitório e limitado, porque Trump é uma variável
em algo mais amplo”, disse ao jornal O Estado
de S. Paulo.
“Mas
ainda assim dá um sinal negativo para governos e países que não estão muito
interessados em implementar seus compromissos. Um exemplo poderia ser o governo
brasileiro”, complementou.
Se dependesse apenas de
Trump, talvez ele já tivesse chutado o Acordo de Paris há tempos. Mas pode ser que para o
governo não valha a pena o estresse de ter a maior parte da comunidade
internacional chiando, com a alemã Angela Merkel na liderança. A verdade é que
ele nem precisa. Enterrar a questão
domesticamente é muito mais fácil. E, infelizmente para o planeta, pode ser
tão danoso quanto.
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