Reforma da Previdência: uma piada de mal gosto!

Temer retira servidores estaduais e municipais da reforma da Previdência

Gustavo Uribe, Laís Alegretti, Daniel Carvalho e Ranier Bragon

Os atingidos e prejudicados serão os de sempre:
trabalhadores de empresas privadas e pessoas de mais baixo poder aquisitivo 
MICHEL TEMER
Presidente da República - PMDB/SP

Na tentativa de diminuir a pressão contra a reforma da Previdência, o presidente Michel Temer anunciou a retirada de servidores públicos estaduais e municipais da proposta que muda as regras de aposentadoria.

A medida do governo, que já havia deixado de fora da proposta as Forças Armadas, bombeiros e policiais militares, enfraquece o argumento de que as mudanças afetariam toda a população.

A decisão foi tomada nesta terça-feira (21 de março) para enfraquecer o poder de mobilização contra a reforma, já que professores públicos e policiais civis são duas categorias numerosas que têm se manifestado contra as mudanças.

Serão excluídos da reforma os servidores estaduais e os funcionários públicos de municípios que têm regimes próprios de Previdência. Os servidores de municípios que estão ligados ao INSS serão afetados pelo texto que for aprovado pelo Congresso. Cerca de 3.500 municípios estão ligados ao INSS, enquanto outros 2.000 têm regimes próprios de Previdência.

Estados e municípios gastaram com aposentadorias e pensões em 2016 o equivalente a 3,2% do PIB e acumularam um déficit de 1,2% do PIB, segundo a Secretaria de Previdência. O governo federal gastou com servidores 1,8% do PIB (déficit de 1,3% do PIB).

Em pronunciamento no Planalto, Temer disse que a decisão respeita a autonomia estadual e fortalece o princípio federativo.

Segundo ele, caberá aos governos estaduais e municipais elaborar suas próprias reformas. A medida, contudo, não agrada a governadores, que enfrentarão resistência para promover reformas na véspera do ano eleitoral.

Um governador ouvido pela Folha de S. Paulo disse que o ônus da reforma, antes do governo federal, agora recai sobre as gestões estaduais e municipais e os Legislativos locais.

Conforme antecipado pela coluna "Painel", deputados federais buscavam empurrar a tarefa de definir as regras para a categoria para as Assembleias Legislativas.

Para anunciar a decisão, o presidente convocou um pronunciamento surpresa no início da noite. Até os técnicos envolvidos na elaboração da reforma foram surpreendidos.

Segundo interlocutores do governo, a mudança também acaba com um risco de judicialização do tema, já que preserva a autonomia federativa dos Estados.
ARTHUR OLIVEIRA MAIA (Deputado Federal pelo PPS da Bahia)

ONDE MAIS CEDER

Além do recuo, por pressão de parlamentares da base aliada, o peemedebista avalia ceder em pelo menos mais três pontos da proposta original:
a) nas regras de transição para a idade mínima e
b) nas mudanças na aposentadoria rural e
c) no BPC (Benefício de Prestação Continuada), pago a pessoas idosas ou com deficiência de baixa renda.

Nesta terça, o relator da proposta, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), reconheceu que há "quase um consenso" na base aliada para alterar a transição. Segundo ele, é possível criar um escalonamento por idade ou tempo de contribuição.

Após se reunir com Temer, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse que o presidente recebeu com "compreensão e sensibilidade" à proposta do partido de manter uma diferenciação entre as aposentadorias urbana e rural e de não alterar o BPC.

Temer pediu à sua equipe levantamento com os principais pontos de insatisfação de parlamentares em relação à reforma. O governo quer lista dos deputados propensos a votar contra o Planalto. O presidente pretende fazer pessoalmente uma ofensiva sobre eles.
Um diagnóstico prévio do governo federal mostrou que o maior índice de insatisfação da proposta está em partidos como PSB, PTB, PSD e Solidariedade.

Fonte: Folha de S. Paulo – Mercado / Previdência – Terça-feira, 21 de março de 2017 – 20h16 – Atualizado em 22/03/2017 às 10h42 (Horário de Brasília – DF) –    Internet: clique aqui.

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