Empregos em risco ? ? ?
Você corre risco de perder o emprego para
um robô?
Rafael
Barifouse
BBC
Brasil em Londres
Estamos entrando em uma nova fase do avanço da
tecnologia sobre
os postos de trabalho
No futuro, você provavelmente não irá
recorrer a um corretor de imóveis ao comprar uma casa nem tratar com uma pessoa
ao enviar algo pelo correio ou pegar um livro na biblioteca. Em vez disso,
lidará com robôs encarregados de cumprir essas funções.
É o que prevê o pesquisador Carl Frey, da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Ao lado de outro estudioso
do tema, Michael Osborne, ele
elaborou uma metodologia para estimar as chances de um emprego ser
automatizado. Ele argumenta que estamos entrando em uma nova fase do avanço da
tecnologia sobre os postos de trabalho.
Primeiro, máquinas substituíram
atividades mais simples, como funções em linhas de montagem de fábricas. Agora, com o avanço da robótica e da inteligência artificial, há uma ameaça cada vez maior a profissões
que requerem habilidades mais complexas e normalmente são associadas à classe
média.
"Nenhuma
indústria ou ocupação é imune à automação. No passado, isso estava restrito
a atividades repetitivas. Agora, há um imenso volume de dados sendo gerados. A tecnologia de computação se sofisticou.
Equipamentos eletrônicos usados na robótica estão melhores e mais
baratos", afirmou o especialista à BBC Brasil.
"Isso permite identificar padrões e
automatizar atividades não repetitivas, como fazer uma tradução ou dirigir um
carro, coisas que não acreditávamos que podíamos automatizar há uma
década."
Frey analisou
702 tipos diferentes de empregos com salário anual superior a 40 mil libras (cerca
de R$ 160 mil) para identificar quais as
profissões "de colarinho branco" que mais correm o risco de serem automatizadas.
No topo do ranking estão agente de crédito (98,36%), analistas
de crédito (97,85%) e corretores de
imóveis (97,29%). Trabalhos como gerente
de remuneração e benefícios (95,57%), atendente
em agências de correio (95,41%) e operador
de usina nuclear (94,68%) também estão bastante ameaçados, segundo os
cálculos do especialista.
De forma
geral, são os empregos dos setores de prestação de serviços, vendas e
construção os mais sujeitos a serem computadorizados. Telemarketing também é uma
atividade que, potencialmente, tende a ser executada cada vez mais por máquinas
e menos por humanos no mundo todo.
O trabalho
de caixa, no banco ou no supermercado já tem sido facilmente substituído
por computadores. Quem trabalha com
transporte e logística ou com apoio administrativo também deve ser,
eventualmente, substituído por um robô.
Analistas de crédito - empregos em risco! |
As 10 profissões mais ameaçadas de serem automatizadas
1. Agente
de crédito
2. Analista
de crédito
3. Corretor
de imóveis
4. Gerente
de remuneração e benefícios
5. Atendentes
de agências dos correios
6. Operadores
de usinas nucleares
7. Analista
de orçamento
8. Contador
e auditor
9. Técnico
de geologia e petróleo
10. Operadores
de estações de exploração de gás
Frey estima que 35% dos postos de trabalho no
Reino Unido corram risco de desaparecer nos próximos 20 anos, com a criação de
robôs capazes de realizar essas mesmas funções. Esse índice é ainda maior nos
Estados Unidos, onde chega a 47% - e ultrapassa 50% em países em
desenvolvimento.
Originalidade
Por outro lado, Frey argumenta que habilidades como originalidade e inteligência social
são características difíceis de se automatizar. Quanto mais características
deste tipo uma tarefa exige e quanto mais complexa ela é em termos de percepção
sensorial e manipulação de objetos físicos, menor a chance de ser executada por
um computador nas próximas décadas.
Assim, correm
menos risco de serem automatizadas atividades como supervisor de trabalhos
mecânicos, instaladores e reparadores (0,30%), diretor de gerenciamento de
emergências (0,30%) e audiologistas (0,33%). Ou como terapeuta ocupacional
(0,35%), ortodontista e especialista em prótese (0,35%) e cirurgião
buco-maxilo-facial (0,36%).
Dominam a lista dos postos com fator de risco
de cerca de 1% ou menos de serem automatizados os trabalhos de gestão, negócios, finanças, educação, artes, mídia e saúde.
Cientistas e engenheiros também parecem bastante protegidos em razão dos altos
níveis de inteligência criativa necessários nestas profissões.
As 10 profissões menos ameaçadas pelas máquinas
1. Supervisor
de trabalhos mecânicos, instaladores e reparadores
2. Diretores
de gerenciamento de emergências
3. Audiologista
4. Terapeuta
ocupacional
5. Ortodontistas
e especialistas em próteses
6. Cirurgiões
buco-maxilo-faciais
7. Supervisores
de bombeiros
8. Nutricionistas
9. Engenheiros
de vendas
10. Médicos
e cirurgiões
O Brasil, infelizmente, é um dos países que pode vir a perder mais com a automação! |
Custo e gosto
No entanto, o fato de um determinado trabalho estar na lista dos postos mais
suscetíveis a serem realizados por robôs em um futuro próximo não significa
necessariamente que essa função será, de fato, automatizada.
Frey explica que a decisão sobre substituir
trabalhadores por máquinas depende de diversos fatores, como custos de capital
e trabalho, preferência de consumidores e legislação.
"A
automação nem sempre é mais barata do que o trabalhador humano, e, em muitos
casos, pode ser mais caro automatizar do que manter o empregado. A
automação requer um grande investimento, e o retorno pode não valer a
pena", explica Frey.
O pesquisador de Oxford ressalta que, por
esse motivo, a automação avança em ritmo
mais lento em países em desenvolvimento, onde a mão de obra é mais barata do
que nas economias desenvolvidas.
"Além disso, os consumidores têm
preferências. Hoje, já existem
recepcionistas robôs no Japão, por exemplo, mas as pessoas querem interagir com
pessoas, então isso não deve ser adotado tão amplamente."
Frey ainda cita como exemplo "questões
legais que precisam ser resolvidas". Por exemplo, um se um carro-robô
bate, quem é o responsável legal? O motorista? A empresa que fez o software? A
fabricante do carro?
"Isso torna mais difícil prever o ritmo
de implantação da tecnologia. Cada indústria vai decidir o quão rápido fará
isso. Mas, historicamente, quando uma mudança é possível, ela ocorre", diz
o pesquisador.
Prejuízo
Frey argumenta
ainda que automação pode vir a ter um impacto duplamente negativo nos países em
desenvolvimento. Primeiro, ao tornar mais difícil reduzir a lacuna de riqueza em
relação às economias desenvolvidas.
"Os países desenvolvidos enriqueceram no
século passado por meio da industrialização, o trabalhador foi da agricultura
para a manufatura. Foi assim com a Alemanha e no Reino Unido, por exemplo. A
China foi o último país a fazer isso", afirma Frey.
"Com a automação, menos gente poderá ser
empregada na indústria, fazendo com que os benefícios dessa transição não sejam
tão grandes nas economias em desenvolvimento, contribuindo para que elas
continuem mais pobres em comparação com as nações desenvolvidas."
Ao mesmo tempo, diz o especialista, o impacto do desemprego gerado pelo avanço
dos robôs sobre o mercado de trabalho será maior nos países em desenvolvimento.
"O sistema de seguridade social dos
países desenvolvidos é melhor do que os de países em desenvolvimento. É pior perder o emprego nas economias em
desenvolvimento", afirma Frey.
"Se você perde o emprego na Suécia,
ainda recebe um bom salário por algum tempo e pode buscar emprego com esse
apoio financeiro e outras medidas que ajudam bastante. Isso não ocorre nos
países em desenvolvimento, o que gera um impacto negativo sobre suas
economias."
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