Assim funcionam as eleições no Brasil
Reforma política mal passada
José Roberto
de Toledo
Graças ao investimento bem-sucedido de R$ 55 milhões
nas eleições
de 2014, não há partido com bancada maior que a da JBS
Principais empresas pertencentes ao Grupo JBS |
Após
a Polícia Federal [PF] espetar a JBS
na Operação Carne Fraca, não dá mais
para ignorar que empresas suspeitas de
corromper funcionários públicos investiram R$ 1,2 bilhão (corrigida a inflação)
na eleição de 2014. E isso só pelo caixa 1. É mais da metade de tudo o que
foi doado oficialmente por grandes financiadores (quem deu mais do que R$ 2
milhões) para candidatos a presidente, governador, senador, deputado federal e
estadual.
Tampouco dá para esquecer
que esses grandes doadores alvos da Lava Jato e de outras operações policiais
colocaram largas somas nas campanhas de praticamente todos os partidos grandes
e médios,
além de alguns nanicos: PT, PSDB, PMDB, PP, PSD, PR, PSB, PCdoB, PDT, PRB, PTB,
SD, PROS, DEM, PSC, PV, PTN, entre outros. A cor dos partidos não importava, só
a do dinheiro.
Em
regra, o tamanho do investimento seguiu as
regras de qualquer negócio: foi proporcional à chance de retorno. O valor
recebido pelas legendas em 2014 acompanhou o favoritismo de seus candidatos nas
eleições majoritárias. PT e PSDB
ganharam mais que o resto porque foram ao segundo turno na corrida presidencial.
A mesma lógica foi aplicada às proporcionais. Eduardo Cunha foi o candidato a deputado federal do PMDB que mais
arrecadou porque era barbada para presidir a Câmara.
Como
mestres no retorno do capital investido, esses
grandes financiadores espetados pela PF tiveram muito sucesso nas eleições.
Juntos, ajudaram a eleger pelo menos metade da Câmara dos Deputados. Graças
ao investimento bem-sucedido de R$ 55 milhões em 2014, não há partido com
bancada maior que a da JBS, por exemplo. Não discrimina ninguém: tem quem virou
ministro do governo Temer, como os da Justiça e da Saúde, tem líderes da
oposição petista e tem até "outsiders" tipo Jair Bolsonaro.
Embora
o Supremo Tribunal Federal tenha aberto a porteira para considerar ilegal
também as doações recebidas pelo caixa 1 oficial, o fato de um parlamentar ou
governante ter recebido dinheiro de doadora que esteja metida na Lava Jato ou
em outra operação policial não o torna automaticamente suspeito de nada. Nem
mesmo quem recebeu de quatro ou cinco empresas investigadas, como é o caso de
alguns deputados. Pode ser coincidência.
Também
vale ressalvar que frigoríficos estão em
grau de cozimento diferente dos empreiteiros. Uns são condenados confessos,
outros estão sob investigação. Podem ser inocentados.
Feitas
as ressalvas, o fato é que quem bancou a
maior parte das campanhas eleitorais de praticamente todos os partidos em 2014
está encrencado com a polícia, com a Justiça ou com ambas. E essa encrenca
está diretamente ligada às relações dessas empresas financiadoras da política
com o poder público: seja para ganhar
concorrências, seja para evitar
fiscalização.
O
dinheiro dos espetados foi tão determinante no resultado de 2014 que as doações
empresariais acabaram proibidas em 2016. Com o argumento de que a proibição
estimulou o caixa 2 e favoreceu os ricos, "master chefs" de todos os
Poderes articulavam o retorno do financiamento empresarial em 2018. Mas isso
foi antes de sentirem o cheiro de churrasco da Carne Fraca. Agora, o menu de
mudanças da legislação eleitoral e partidária deve mudar.
Multiplicação bilionária dos
pães no mal fiscalizado Fundo Partidário e o voto em lista para o Legislativo
entraram no cardápio. Juntas, essas medidas dão poder inédito aos donos dos partidos. Eles
poderão ditar quem se elege e com quanto.
É a
receita para afastar de vez a clientela das urnas, piorar ainda mais a
reputação da política e estimular curandeiros e suas poções milagrosas. Os ingredientes desse cozidão eleitoral já
estão na panela. Só falta acender o fogo.
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