3º Domingo da Quaresma – Ano A – Homilia

Evangelho: João 4,5-42

(Texto mais breve: João 4,5-15.19b-26.39a.40-42)

Naquele tempo,
5 Jesus chegou a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto do terreno que Jacó tinha dado ao seu filho José.
6 Era aí que ficava o poço de Jacó. Cansado da viagem, Jesus sentou-se junto ao poço. Era por volta de meio-dia.
7 Chegou uma mulher de Samaria para tirar água. Jesus lhe disse: «Dá-me de beber».
8 Os discípulos tinham ido à cidade para comprar alimentos.
9 A mulher samaritana disse então a Jesus: «Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?» De fato, os judeus não se dão com os samaritanos.
10 Respondeu-lhe Jesus: «Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede: “Dá-me de beber”, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva».
11 A mulher disse a Jesus: «Senhor, nem sequer tens balde e o poço é fundo. De onde vais tirar água viva?
12 Por acaso, és maior que nosso pai Jacó, que nos deu o poço e que dele bebeu, como também seus filhos e seus animais?».
13 Respondeu Jesus: «Todo aquele que bebe desta água terá sede de novo.
14 Mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede. E a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna».
15 A mulher disse a Jesus: «Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede e nem tenha de vir aqui para tirá-la».
19b «Senhor, vejo que és um profeta!
20 Os nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que em Jerusalém é que se deve adorar».
21 Disse-lhe Jesus: «Acredita-me, mulher: está chegando a hora em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai.
22 Vós adorais o que não conheceis. Nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus.
23 Mas está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade. De fato, estes são os adoradores que o Pai procura.
24 Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade».
25 A mulher disse a Jesus: «Sei que o Messias (que se chama Cristo) vai chegar. Quando ele vier, vai nos fazer conhecer todas as coisas».
26 Disse-lhe Jesus: «Sou eu, que estou falando contigo».
39a Muitos samaritanos daquela cidade abraçaram a fé em Jesus.
40 Por isso, os samaritanos vieram ao encontro de Jesus e pediram que permanecesse com eles. Jesus permaneceu aí dois dias.
41 E muitos outros creram por causa da sua palavra.
42 E disseram à mulher: «Já não cremos por causa das tuas palavras, pois nós mesmos ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o salvador do mundo».

JOSÉ ANTONIO PAGOLA

A RELIGIÃO DE JESUS

Cansado do caminho, Jesus se senta junto ao manancial de Jacó, nas proximidades da aldeia de Sicar. Logo chega uma mulher samaritana para matar sua sede. Espontaneamente, Jesus começa a falar com ela daquilo que traz em seu coração.

Em um momento da conversação, a mulher lhe expõe os conflitos que enfrentam os judeus e samaritanos. Os judeus peregrinam para Jerusalém a fim de adorar Deus. Os samaritanos sobem ao monte Garizim cujo cume é visível a partir do poço de Jacó. Onde se deve adorar a Deus? Qual é a verdadeira religião? O que pensa o profeta da Galileia?

Jesus começa por esclarecer que o verdadeiro culto não depende de um lugar determinado, por mais venerável que possa ser: «está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade. De fato, estes são os adoradores que o Pai procura». O Pai do céu não está preso a nenhum lugar, não é propriedade de nenhuma religião. Não pertence a nenhum povo concreto.

Não podemos esquecê-lo. Para encontrarmos com Deus, não é necessário ir a Roma ou peregrinar a Jerusalém. Não há necessidade de entrar em uma capela ou visitar uma catedral. A partir do cárcere mais secreto, da unidade de terapia intensiva de um hospital, de qualquer cozinha ou lugar de trabalho podemos elevar nosso coração para Deus.

 Jesus não fala para a samaritana «adorar Deus». Sua linguagem é nova. Por até três vezes lhe fala de «adorar o Pai». Por isso, não é necessário subir a uma montanha para aproximar-nos um pouco de um Deus distante, desentendido de nossos problemas, indiferente aos nossos sofrimentos. O verdadeiro culto começa por reconhecer Deus como Pai querido que nos acompanha de perto e ao longo de nossa vida.

Jesus lhe diz algo mais. O Pai está buscando «verdadeiros adoradores». Não está esperando de seus filhos grandes cerimônias, celebrações solenes, incensos e procissões. O que ele deseja é corações simples que lhe adorem «em espírito e verdade».

«Adorar o Pai em espírito» é seguir os passos de Jesus e deixar-nos conduzir como ele pelo Espírito do Pai que o envia sempre para os últimos. Aprender a sermos compassivos como é o Pai. Jesus o diz de modo claro: «Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade». Deus é amor, perdão, ternura, alento vivificador..., e aqueles que o adoram devem parecer-se com ele.

«Adorar o Pai em verdade» é viver na verdade. Voltar sempre à verdade do Evangelho. Sermos fiéis à verdade de Jesus sem nos fecharmos em nossas próprias mentiras. Depois de vinte séculos de cristianismo, aprendemos cultuar verdadeiramente Deus? Somos os verdadeiros adoradores que buscam o Pai?

ALGO NÃO ESTÁ CERTO

A cena foi recriada pelo evangelista João, porém nos permite conhecer como era Jesus. Um profeta que sabia dialogar a sós e amistosamente com uma mulher samaritana, pertencente a um povo impuro, odiado pelos judeus. Um homem que sabia escutar o sofrimento e restaurar a vida das pessoas.

Junto ao poço de Sicar, ambos falam da vida. A mulher convive com um homem que não é seu marido. Jesus sabe disso, porém não se indigna nem a recrimina. Fala-lhe de Deus e lhe explica que é um «presente»: «Se conhecesses o dom de Deus, tudo mudaria, inclusive tua sede insaciável de vida». No coração da mulher logo se despertará uma pergunta: «Será este o Messias?».

Algo não está certo em nossa Igreja se as pessoas mais solitárias e maltratadas não se sentem escutadas e acolhidas pelos que dizem seguir Jesus. Como vamos introduzir no mundo seu evangelho sem «sentarmos» para escutar o sofrimento, o desespero e a solidão de tantos e tantas?

Algo não está certo em nossa Igreja se as pessoas veem, quase sempre, os padres e bispos como representantes da lei e da moral, e não como profetas da misericórdia de Deus. Como vão «achar» em nós aquele Jesus que atraía as pessoas para a vontade do Pai revelando-lhes seu amor compassivo?

Algo não está certo em nossa Igreja quando as pessoas em uma obscura crise de fé, perguntam por Deus e nós lhes falamos de controle de natalidade, de divórcio, dos preservativos ou das relações pré-matrimoniais. De que falaria hoje aquele que dialogava com a samaritana tratando de mostrar-lhe o melhor caminho para saciar sua sede de felicidade?

Algo não está certo em nossa Igreja se as pessoas não se sentem amadas por aqueles que são seus membros. Dizia Santo Agostinho: «Se queres conhecer uma pessoa, não perguntes pelo que ela pensa, pergunte pelo que ela ama». Ouvimos falar muito do que pensa a Igreja, porém os que sofrem se perguntam pelo que ama a Igreja, a quem ama e como os ama. O que lhes podemos responder a partir de nossas comunidades cristãs?

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: Sopelako San Pedro Apostol Parrokia – Sopelana – Bizkaia (Espanha) – J. A. Pagola – Ciclo A (Homilías) – Internet: clique aqui.

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