«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

domingo, 23 de abril de 2017

Culpa de quem ? ? ?

Em três anos, principais empresas citadas na
Lava Jato demitiram quase 600 mil

Fernando Scheller

Segundo analistas, a operação, somada à crise econômica e à redução
do preço do petróleo, causou um efeito negativo ainda maior nos
setores de construção e de óleo e gás

A recessão, a queda do preço do petróleo, a redução dos gastos do governo e a Operação Lava Jato, que investiga esquema de corrupção envolvendo a Petrobrás, empreiteiras e agentes do governo, tiveram efeito devastador no emprego. Levantamento do jornal O Estado de S. Paulo com dez das maiores empresas citadas na Lava Jato mostra que, somente entre funcionários diretos e terceirizados dessas companhias, o corte de vagas entre o fim de 2013 (antes da deflagração da Lava Jato, em março de 2014) e dezembro de 2016 foi de quase 600 mil pessoas. Analistas apontam que o efeito foi ainda maior, quando se consideram as vagas indiretas.

Empresas do setor de óleo e gás, como a Petrobrás, foram afetadas pela redução da cotação do petróleo, que hoje está próxima de US$ 50. Já as grandes construtoras e incorporadoras tiveram de lidar com o alto endividamento da população, que deixou de comprar imóveis, e com a conclusão – ou interrupção – de projetos de infraestrutura, diante da deterioração das contas do governo.

A conta de 600 mil postos de trabalho fechados mostra um impacto considerável – equivalente a 5% do total de pessoas que entraram na fila do desemprego entre 2013 e 2016, que foi de 11,2 milhões. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o total de desocupados no País era de 1,1 milhão em dezembro de 2013; no fim de 2016, o número havia crescido para 12,3 milhões.

Após um período de longa bonança, as companhias envolvidas na Lava Jato vivem momentos de dificuldade e tentam se reestruturar. As construtoras Queiroz Galvão, Engevix, OAS e Mendes Júnior estão entre as que pediram recuperação judicial. A Sete Brasil, empresa criada pela Petrobrás para a construção de sondas de petróleo, está na mesma situação.

Falta de equilíbrio

Os cortes de vagas são impressionantes, diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), porque muitos projetos de expansão se basearam em previsões pouco realistas. Pires afirma que, após a descoberta do petróleo do pré-sal, instalou-se um clima de euforia que levou à tomada de decisões de governo – e de negócio – sem sentido econômico.

Pires cita como exemplos a determinação de que a Petrobrás fosse operadora dos campos do pré-sal e a criação da Sete Brasil. “A Petrobrás não tinha condições de fazer o trabalho de exploração sozinha. Essa decisão espantou investimentos estrangeiros que hoje seriam bem-vindos”, frisa o diretor do CBIE. O sinal verde para a construção das sondas do pré-sal, lembra Pires, foi baseada em uma previsão de produção de quase 5 milhões de barris de petróleo por dia até 2020. Em 2013, a projeção foi reduzida a 4,2 milhões; dois anos depois, houve novo corte, para 2,8 milhões de barris diários.

Essa falta de critério, segundo o economista Sérgio Lazzarini, professor do Insper, influenciou o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que acelerou a concessão de empréstimos, e também o Banco do Brasil e a Caixa, que inflaram o crédito mesmo quando a economia já dava sinais de exaustão. “O que essa gastança nos trouxe de benefícios? Acho que esse modelo de desenvolvimento mostrou que é preciso dosar a participação do Estado na economia”, diz Lazzarini.

Os efeitos colaterais da Lava Jato – o desemprego, a revelação de intricados esquemas de corrupção e o abalo à reputação de grandes companhias – levaram, pelo menos momentaneamente, a uma mudança no curso da economia. Hoje, diz o professor do Insper, o lema é a redução de gastos públicos e a abertura de vários setores a investimentos externos, entre eles infraestrutura e companhias aéreas.

A manutenção deste caminho não é garantida, na visão de Lazzarini. Ele acredita que ainda há risco de uma “guinada” populista no País como reação à crise. “Basta ver o que aconteceu nos Estados Unidos, com Donald Trump. Quando se olham os candidatos para a eleição presidencial de 2018, é muito difícil fazer uma previsão para onde vamos.” [...]

Fonte: O Estado de S. Paulo – Economia & Negócios – Domingo, 23 de abril de 2017 – Pág. B1 – Internet: clique aqui.

«Custo da má gestão de Dilma é maior do que
o da Lava Jato»

Entrevista com Eduardo Giannetti da Fonseca
Economista, escritor e filósofo

Mônica Scaramuzzo

Para economista, equívocos nas políticas macro e microeconômica são
os responsáveis pela crise atual
EDUARDO GIANNETTI DA FONSECA

O economista Eduardo Giannetti da Fonseca diz que os impactos da Operação Lava Jato, que apura corrupção na Petrobrás, podem ter efeitos negativos sobre a economia brasileira, que esboça uma reação, mas afirma que as investigações em curso não deram origem à atual recessão pela qual o Brasil passa. Segundo ele, a má condução do governo Dilma Rousseff, com políticas equivocadas, colocou o Brasil nesta profunda crise, gerando a alta taxa de desemprego.

A seguir, trechos da entrevista.

Um levantamento feito pelo “Estadão” mostra que as principais empresas envolvidas na Lava Jato demitiram quase 600 mil pessoas. As novas delações poderão piorar esse cenário?

Eduardo Giannetti: O impacto (negativo) indireto sobre o emprego é ainda maior. Afeta toda cadeia, desde os fornecedores até o consumo que deixa de ser feito porque a atividade não aconteceu.

Com as delações que vieram à tona semana retrasada, o impacto da Lava Jato na economia pode ser maior daqui para a frente?

Eduardo Giannetti: Acho que seria um erro de análise atribuir a atual crise econômica e o desemprego à Lava Jato. Estaríamos em crise e com alta taxa de desemprego, independentemente da Lava Jato. Não foi a operação que criou esse problema. Ela ajudou a agravar, uma vez que as decisões tomadas no âmbito da corrupção que a operação está revelando foram péssimos investimentos. Um exemplo é a refinaria Abreu e Lima. Foram gastos dezenas de milhões de reais e nenhum real de retorno. A Lava Jato não causou a crise econômica.

Em outras palavras, a Lava Jato não está diretamente ligada à crise econômica...

Eduardo Giannetti: Não é o preponderante. Ela é mais o sintoma da crise do que a causa original. Uma coisa é importante esclarecer: o custo econômico da incompetência do governo Dilma é muito maior do que toda a corrupção brasileira, por mais que você superestime essa corrupção. Estamos falando de toda ordem de magnitude. Mesmo na avaliação mais ambiciosa do tamanho da corrupção no País não chega nem perto do custo que teve para a sociedade o acúmulo de equívocos macroeconômicos e de política microeconômicas do governo Dilma.
DILMA ROUSSEFF

O sr. se refere só ao governo Dilma ou à gestão petista?

Eduardo Giannetti: O quadro (econômico) começou a se deteriorar no segundo mandato do governo Lula, após a saída de Palocci (ex-ministro Antônio Palocci). O cenário se agravou e gerou a crise que estamos vivendo no primeiro mandato do governo Dilma, com a adoção da chamada nova matriz macroeconômica e com os erros de políticas microeconômicas nas áreas de energia elétrica, de petróleo e gás, das concessões, do uso do BNDES para favorecer parceiros. Acredito que a corrupção gere muito mais indignação porque é um desvio de responsabilidade moral.

Mas foi o governo Lula que estimulou as políticas de “campeãs nacionais”. Isso já não era um indício do início do problema?

Eduardo Giannetti: O segundo mandato do Lula foi um ensaio. Mas a realização em larga escala desses projetos foi no mandato da Dilma. O Lula ainda tinha um álibi de lidar com o impacto da crise econômica global de 2008 e 2009. Podia justificar que eram medidas anticíclicas para diminuir a crise. No governo Dilma já não foi nada disso. Foi uma convicção equivocada de alocação de recursos e intervenção com mão pesada nos setores elétrico e de óleo e gás, na alocação de crédito... Depois, uma inflação muito alta, reprimindo os preços administrados, o que obrigou a aumentar os juros durante a recessão. De novo, a crise atual não tem nada a ver com a corrupção. Não é a primeira vez que o Brasil passa por crises. Foi assim no governo Geisel (Ernesto Geisel). Dilma gerou uma nova década perdida.

Mas as revelações da Lava Jato agravaram o desemprego?

Eduardo Giannetti: Agravaram sim.

A situação poderá ficar mais crítica com futuras delações, como a do Palocci?

Eduardo Giannetti: A Lava Jato é um exemplo da deformação patrimonialista do Estado brasileiro. Governos que comandam junto com segmentos do setor privado o uso dos recursos na economia. Por dois motivos basicamente: o setor privado buscando um atalho de crescimento por meio de acesso privilegiado; e os governantes buscando a perpetuação no poder por meio da cooptação do setor privado. É uma via de mão dupla. Fazem um conluio para se beneficiar – uns com lucro e outros no poder. Isso não envolve todo o empresariado nem todos os políticos. E, de fato, estão faltando dois elos ainda da cadeia da corrupção brasileira: o setor financeiro e o judiciário, que devem ser apurados.

Uma vez que se jogue luz sobre esses dois elos, o cenário econômico e político pode piorar?

Eduardo Giannetti: Acho que à medida que se instaure no Congresso uma ideia do salve-se quem puder, em que se blindariam os políticos da Lava Jato, corre-se o risco de o governo Temer ficar esvaziado, afetando a governabilidade. O governo está correndo desesperadamente para manter as condições de governabilidade. E ele já sabia que tinha um prazo de validade definido para poder usar o capital político. Com a Lava Jato e com o que ocorreu semana retrasada, esse capital político foi depreciado.

O governo terá condições de dar continuidade às reformas?

Eduardo Giannetti: O governo já esteve em condições melhores de aprovar a agenda de reformas. Quanto mais o tempo passa, menos ele fica operacional. Ficou mais complexo daqui para frente.

Está mais vulnerável?

Eduardo Giannetti: Sim. E ele está buscando se reagrupar para reconstituir os mecanismos de sustentação do Congresso Nacional. Mas o risco está em um cenário do salve-se quem puder, em que o Congresso passa a ser muito mais regido pela lógica da sobrevivência a qualquer preço do que uma agenda de reformas que também pode ter custos eleitorais mais à frente.

Mas a equipe econômica está empenhada em fazer os ajustes.

Eduardo Giannetti: Por mais crítico que se seja ao governo Temer, ele acertou na área econômica. Não só no Ministério da Fazenda, como nas estatais brasileiras, BNDES, Banco Central e com uma agenda correta, baseada na “Uma ponte para o futuro”.

Mas há risco sistêmico?

Eduardo Giannetti: A economia está esboçando reação. Provavelmente, estamos saindo neste primeiro trimestre de uma sequência de 11 trimestres de PIB negativo. Uma pena que uma tempestade política coloque em risco essa recuperação. Institucionalmente, para o Brasil, o mais importante é que esse movimento de apuração se complete. Seria um enorme retrocesso se, em nome de qualquer pretexto, houvesse um conluio de acordo para terminar esse processo tão doloroso que é o da apuração e da punição. O que vai causar prejuízo econômico é a paralisia do governo.

Como o sr. vê o cenário eleitoral para 2018?

Eduardo Giannetti: A única coisa segura é que a expectativa sobre 2018 está mais aberta do que já era porque os nomes que seriam competitivos e estariam concorrendo provavelmente não chegam vivos até lá.

Os acordos de leniência podem ser uma saída para o Brasil começar do zero?

Eduardo Giannetti: Não existe começar do zero. Mas você não pode condenar uma Petrobrás e outras empresas pela má ação de parte da diretoria. O País perder as grandes empreiteiras é ruim. Tem de investigar e punir, mas não confundir desmandos de uma diretoria com a nação brasileira.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Economia & Negócios – Domingo, 23 de abril de 2017 – Pág. B4 – Internet: clique aqui.

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