Em visita ao Egito, papa condena violência
cometida “em nome de Deus”
Agência France
Press (AFP)
“Nenhuma violência pode ser cometida em nome de Deus
porque
profanaria Seu nome”
PAPA FRANCISCO E TAWADROS II |
O papa Francisco condenou a violência
cometida "em nome de Deus" e o populismo que ameaça a paz nesta
sexta-feira (28 de abril), durante sua primeira
visita ao Egito, onde a minoria
cristã local sofre constantes ataques.
Sob forte esquema de segurança, a visita do pontífice argentino acontece
três semanas após os dois atentados de 9 de abril contra igrejas coptas
ortodoxas que deixaram 45 mortos e que foram reivindicadas pela facção
terrorista Estado Islâmico.
"Nenhuma
violência pode ser cometida em nome de Deus porque profanaria Seu nome", declarou o papa em um
discurso pronunciado durante uma conferência organizada pela instituição sunita
Al-Azhar.
Para esta primeira visita do papa ao mais
populoso dos países árabes, que segue em estado de emergência, policiais e
militares eram onipresentes nas ruas da capital egípcia.
Os arredores da Nunciatura Apostólica, onde o
papa deve ficar hospedado, foram fechadas ao tráfego nesta sexta-feira. E perto
da catedral, sede da Igreja Ortodoxa copta, tanques estavam estacionados.
Francisco se dirigiu ao palácio presidencial
para uma reunião com o presidente Abdel
Fattah al-Sisi. Depois foi para a instituição de Al-Azhar, onde foi
recebido pelo grande imã, xeque Ahmed
al-Tayeb, e deverá encontrar mais tarde o líder dos coptas, o papa
Tawadros II.
Em seu discurso, Francisco criticou "os populismos demagógicos que não ajudam a
consolidar a paz". "Nenhuma incitação à violência garantirá a
paz", insistiu, sem citar exemplos. Ele também pediu para "bloquear os fluxos de dinheiro e de armas"
para "prevenir os conflitos e edificar a paz".
"Juntos, nesta terra de encontro entre o
céu e a terra, de alianças entre os povos e entre os crentes, repetimos um
'não' alto e claro a toda forma de violência", acrescentou o chefe da
Igreja Católica.
"Só
trazendo à luz as turvas manobras que alimentam o câncer da guerra é possível
prevenir suas causas reais", afirmou ainda o papa, para quem o verdadeiro culpado pelos conflitos no
Oriente Médio é o tráfico de armas.
"Para prevenir os conflitos e construir
a paz, é essencial trabalhar para
eliminar as situações de pobreza e de exploração, onde os extremismos se
fortalecem facilmente", alertou.
Todas as igrejas no Cairo foram colocadas sob
vigilância, por medo de atentado, enquanto o Estado Islâmico ameaçou
multiplicar os ataques contra os coptas,
majoritariamente ortodoxos, que representam
cerca de 10% dos 92 milhões de egípcios.
Mais importante comunidade cristã em número
no Oriente Médio, os coptas ortodoxos do
Egito se dizem vítimas de discriminação por parte das autoridades e da
maioria muçulmana.
Em outro discurso pronunciado diante do
presidente Sisi, o papa Francisco pediu
respeito "incondicional" aos direitos humanos, citando "a
liberdade religiosa e de expressão".
Criticado no exterior por violações dos
direitos humanos, Sisi demonstrou certa abertura à comunidade cristã egípcia
desde que chegou ao poder em 2014. Ele
foi o primeiro presidente do Egito a participar de uma missa de Natal, em 2015.
Sisi prometeu aos coptas identificar os
responsáveis pelos
atentados reivindicados pelo Estado Islâmico contra as igrejas em Tanta e
Alexandria, que mataram 45 pessoas no início da Semana Santa.
DEGELO
A viagem de Francisco é a segunda de um papa
ao Egito contemporâneo, após a de João Paulo II em 2000.
A instituição
sunita de Al-Azhar se opõe ao jihadismo inspirado no salafismo rigoroso dominante na Arábia
Saudita.
Mas Al-Azhar está igualmente no centro de uma
disputa entre as autoridades políticas e religiosas desde que Sisi fez campanha por reformas visando
erradicar os discursos extremistas na esfera religiosa.
A visita do
papa ao Cairo visa, muito particularmente, a consolidar as relações entre Al-Azhar
e o Vaticano,
tensas a partir de 2006, em razão das polêmicas declarações do papa Bento XVI
associando o islã à violência.
Já em maio de 2016, o papa Francisco recebeu
o imã al-Tayeb, ponto culminante de uma aproximação entre a Santa Sé e
Al-Azhar.
O líder espiritual de quase 1,3 bilhão de
católicos finalmente se reuniu com o papa
copta ortodoxo do Egito, Tawadros II. Os dois visitaram a igreja copta de
São Pedro e São Paulo, onde um atentado do Estado Islâmico matou 29 pessoas em
dezembro. Dentro do templo, Francisco
sentou-se junto a Tawadros 2º e participou em uma missa.
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