«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 18 de abril de 2017

O PERIGO DE UM MUNDO SEM RELIGIÃO

Falta um símbolo, falta um modelo
para a sociedade Ocidental

Entrevista com Vito Mancuso
Teólogo italiano

Antonello Caporale
Jornal «Il Fatto Quotidiano»
15-04-2017

Perder a fé significa fazer com que vacile a identidade 
VITO MANCUSO

Nesse domingo foi Páscoa, a Ressurreição. No domingo anterior, recebemos o ramo de oliveira: o sinal da paz. Há poucos dias – apenas para lembrar o último ato da mais sangrenta temporada bélica que cruza a dramática temporada da migração secular – Donald Trump ordenou o lançamento da bomba não atômica mais devastadora, a MOAB. E Marine Le Pen ordenou que o papa não “se intrometa”, não abra a boca sobre o tema da imigração.

Ainda há religião?
A irrelevância social da fé nos países com os mais altos padrões de vida é também uma questão civil?

Assim responde Vito Mancuso, teólogo: “Esta tarde [na Sexta-Feira Santa], às três horas, comemora-se a morte de Cristo. Antigamente, tocavam-se os sinos, despiam-se os altares. É o dia do jejum. Hoje, você sente uma mudança na vida cotidiana? Tudo é como sempre”.

Eis a entrevista.

Não há mais religião, é isso que você quer dizer?

Vito Mancuso: A religio tem raiz lexical profunda. Significa ligação. Religio como grande ligação social. Rômulo funda Roma, mas é Numa Pompilio, graças à religião, que constrói a sua identidade. Perder a fé significa fazer com que vacile a identidade e, portanto, pôr em crise a natureza da própria civilização. A religião nos permite identificar um bem superior, um bem comum que supera o dos indivíduos. Ela nos mantém dentro desse marco geral. Mas hoje estamos assim.

O catolicismo torna-se burocracia; a oração, rito; a palavra do papa, pura consolação.

Vito Mancuso: Sim, já foi uma ilusão de João Paulo II imaginar que o fato de ter peso dentro dos movimentos poderia significar mudar as relações de força. Corremos o risco de ser uma religião sem povo.
PAPA FRANCISCO 

No entanto, Francisco é amado, ouve os últimos, continua pronunciando mensagens revolucionárias.

Vito Mancuso: Um grande general precisa de um grande exército. Em vez disso, o papa está sozinho. O que é a Cúria? Onde está?

A Igreja Católica está irremediavelmente desfigurada por uma classe dominante, chamemo-la assim, que não está à altura?

Vito Mancuso: Veja: onde os padres estão no altar, eles conseguem mover as comunidades. Em Bolonha, o novo bispo, um bergogliano, está revolucionando a relação da cidade com a sua Igreja. Em vez disso, em outros lugares, é tudo um rito cansado.

É responsabilidade do papa o fato de não ter conseguido mudar o rosto da sua Cúria e a sua reputação?

Vito Mancuso: Claro que sim. Como ele pode pedir que o mundo mude se ele não enfrenta a crise de confiança que existe dentro do seu pequeníssimo Estado? Agora, já se passaram quatro anos desde a sua eleição. O papa tem o poder de fazer aquilo que ainda não faz.

Por que não o faz?

Vito Mancuso: Porque ele não quer, porque talvez ele tema ir muito além. Mas, desse modo, a fé perde aquela capacidade de atrair. Antes, você me falava de Trump e da sua superbomba. Quando eu soube da notícia, eu não tive um sobressalto de espanto. Infelizmente, eu esperava isso. Mas como evitar o confronto entre essas personalidades tão enormemente perigosas se o Ocidente se apresenta perdido? E como a sociedade acha que vai superar a crise que a está abalando se não há um símbolo, um modelo ao qual se referir? Os JOVENS, como diz o título do belo livro de Michele Serra, continuam deitados no sofá. Eles não têm nada em que acreditar e nada para se assemelhar. Ausentes, simplesmente assim.

O Papa Francisco é acusado de tomar atitudes populistas. Uma exibição de pobreza, um grande teatro.

Vito Mancuso: João Paulo II também foi acusado de populismo. Mas indicar uma ideia a uma massa enorme de pessoas com uma mensagem breve é uma obra gigantesca. São populares, sem dúvida!

Mas o exército, isto é, a Cúria...

Vito Mancuso: É aquilo que é.

A atrofia da Igreja produzirá também desequilíbrios geopolíticos?

Vito Mancuso: O declínio de uma religião é marcado pelo declínio demográfico daqueles que a professam. Os sinais estão todos aí. E a força interior de uma civilização, a sua capacidade de construir estilos de vida compartilhados também produz a força da resistência. Quando você perde a identidade perde também a sua civilização.

Você está dizendo que o Islã vencerá.

Vito Mancuso: A história ensina. Deixemos de lado os fanatismos e os desvios que ele produz e digamos a verdade: o Islã está ganhando o jogo.

Traduzido por Moisés Sbardelotto.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 18 de abril de 2017 –  Internet: clique aqui.

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