«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

É o que ele é!

 Bolsonaro e o manual do derrotado

 Fernando Gabeira

Jornalista e escritor 

Ele já admitiu não ter esperanças de obter o voto impresso, mas é a bandeira que lhe resta, já que não pensa no País

JAIR BOLSONARO: o que ele sabe fazer é falar, gritar, xingar, ofender e, sobretudo, mentir!

Uma das afirmações mais engraçadas de políticos no Brasil é a que prevê que o presidente Bolsonaro vai adotar moderação nos seus contatos com adversários e a sociedade. Nada mais claro que o projeto de confronto de Bolsonaro. Basta examinar o precedente de seu inspirador nos Estados Unidos, Donald Trump. 

Com antecedência, Trump previu a própria derrota e iniciou um processo de questionamento do voto pelo correio e, finalmente, de todo o sistema eleitoral norte-americano. Derrotado, Trump inundou a Justiça com recursos contra a apuração. Perdeu todos, porque não se constataram casos de fraude. 

Logo em seguida, a chamada Alt-Right (Direita Alternativa) fez aquela dramática tentativa de assalto ao Capitólio, um dos fatos mais graves da História moderna americana, que terminou com mortes e um grande desgaste internacional para uma democracia que parecia inabalável. 

Derrotado em todos os passos acima mencionados, restou a Trump um importante consolo: cerca de 50% dos eleitores republicanos consideram que ele foi eleito e o processo eleitoral americano é desonesto. Esse é um roteiro que, na pior das hipóteses, garante ao derrotado continuar na imaginação dos seus eleitores, que o consideram, apesar de tudo, um vencedor. 

DONALD TRUMP é o professor, o modelo de BOLSONARO

Trump questionava o voto impresso, enviado pelo correio. Bolsonaro questiona o voto eletrônico, que, por sinal, é muito respeitado no Brasil não apenas por especialistas, mas pela quase totalidade dos políticos que se submeteram a ele. 

O roteiro é o mesmo. Ambos são vítimas da própria ignorância ao negarem uma pandemia que se tornou um dos fatos mais importantes do século. Ambos contam com militância aguerrida para questionar violentamente a derrota. E, finalmente, ambos sonham em sobreviver como vencedores na fantasia de seus adeptos. 

No caso de Bolsonaro, há fatos singulares. O primeiro deles é que questiona um sistema eleitoral internacionalmente elogiado. Em segundo lugar, seu movimento foi captado pelos juízes que conduzem o sistema e eles decidiram reagir aos ataques eivados de falsas informações. 

Antecipadamente, Bolsonaro é investigado pelo TSE por desacreditar o processo eleitoral. É uma medida defensiva que desarma a engrenagem montada à semelhança da americana.

Quando Bolsonaro questionar o TSE por sua derrota, ele já estará na condição de alguém investigado por inventar falsas teorias sobre o processo.

Da mesma maneira, como existe um inquérito no STF sobre fake news, ele estará sendo investigado também em outro contexto, mas, no fundo, pelos mesmos motivos. 

Outro diferencial no roteiro americano é que a tentativa de invasão do Capitólio, no momento pós-eleitoral, foi relativamente fácil de debelar, apesar de seu impacto político internacional. Bolsonaro tem trabalhado muito para aumentar o número de pessoas armadas, tem penetração em algumas Polícias Militares e as Forças Armadas brasileiras não parecem tão decididas como as norte-americanas a se afirmar como um instrumento de Estado. 

Essa fase do roteiro, portanto, pode ser mais complicada no Brasil. Mas não há nada que demonstre que Bolsonaro possa ter a mesma resposta que Trump teve dos eleitores republicanos, embora um certo contingente de fiéis vá continuar acreditando que ele perdeu por causa das urnas eletrônicas, e não por causa de seu governo devastador. 

Os primeiros dados do confronto estão lançados. Nem o TSE nem o próprio STF vão reagir apenas com notas de repúdio, apesar do trabalho diuturno do ministro Luís Roberto Barroso para demonstrar não só a eficácia, mas também a segurança e auditabilidade do sistema eleitoral. São movimentos complementares, muito mais eficazes do que simples protestos burocráticos. 

ARTHUR LIRA, à esquerda, presidente da Câmara dos Deputados & RODRIGO PACHECO, à direita, presidente do Senado Federal são os maiores e mais escandalosos OMISSOS diante dos atentados à democracia e às instituições praticados por Bolsonaro!

Os covardes, os interesseiros que se omitem 

Faltam dois atores nesse drama republicano. Um é o Congresso Nacional. Lira e Pacheco têm estado mudos. Mas a PEC do voto impresso será votada, com derrota provável na comissão especial ou derrota inevitável no plenário. 

Outro ator silencioso é o procurador-geral da República, Augusto Aras. Ele quer ser ministro do Supremo Tribunal, mas se contentou até agora com a recondução ao cargo que ocupa. Apesar da pressão de seus colaboradores na própria Procuradoria, Aras não se deve manifestar. 

Há a convergência da defesa do TSE e da votação no Congresso, mas seria uma ilusão supor que Bolsonaro vá abandonar essa bandeira. Na verdade, é tudo o que lhe resta para unir seu eleitorado fiel, disputar eleições e seguir com um discurso político, mesmo se for esmagado nas urnas. 

AUGUSTO ARAS, o Procurador-Geral da República

Num dos raros momentos de sinceridade, Bolsonaro admitiu que não tem esperanças de conquistar o voto impresso. No entanto, tem de seguir em frente com seu discurso de derrota antecipada porque, paradoxalmente, admiti-la e se preparar para sobreviver a ela é o caminho que escolheu. 

Nada mais claro neste momento do que os passos que Bolsonaro vai trilhar daqui para a frente. Apesar de ser um projeto tão disruptivo para a democracia brasileira, não se pode dizer que seja oculto, muito menos que não tenha havido tempo para se preparar, diante dele. 

Fonte: O Estado de S. Paulo – Espaço aberto/Opinião – Sexta-feira, 6 de agosto de 2021 – Pág. A2 – Internet: clique aqui (acesso em: 06/08/2021).

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