A sociedade civil não se cala!
Empresários, religiosos e intelectuais se unem em manifesto de apoio ao sistema eleitoral
Marcelo Godoy
Jornalista e escritor
Sem mencionar o nome do presidente Jair
Bolsonaro, documento afirma que o País “terá eleições e seus resultados serão
respeitados”
O manifesto foi divulgado no mesmo dia em que Bolsonaro passou a ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito das fake news. A decisão do ministro Alexandre de Moraes atendeu a um pedido do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A Corte vai apurar a possível prática de 11 crimes pelo presidente.
Entre os signatários estão nomes
de peso do mundo empresarial e financeiro, como:
* Frederico
e Luiza Trajano, do Magazine Luiza,
* Pedro
Moreira Salles e Roberto Setubal, do Banco Itaú Unibanco,
* Carlos
Jereissati, do Iguatemi,
* Pedro
Passos e Guilherme Leal, da Natura, e
* Luis
Stuhlberger, gestor do Fundo Verde.
Também assinam economistas como:
* Armínio
Fraga,
* Pedro
Malan,
* Ilan
Goldfajn,
* Persio
Arida,
* André Lara
Resende,
* Alexandre
Schwartsman e
* Maria Cristina Pinotti.
O manifesto nasceu de alguns
associados do Centro de Debates de Políticas
Públicas (CDPP) e se espalhou para
outros grupos de discussão de empresários, economistas e advogados. “Já na
hora que ele começou a adesão foi enorme”, afirmou o economista Affonso Celso Pastore, do CDPP.
“A sociedade civil precisa se
manifestar como na época da campanha pelas eleições diretas. Bolsonaro
já entrou em todos os órgãos de controle, como a Polícia Federal e o
Ministério Público Federal, e a luta dele agora é controlar o Judiciário.
É imprescindível a união de todos em defesa da democracia”, afirmou Maria Cristina.
O texto foi elaborado na terça e passou a circular entre grupos de empresários, economistas e grupos que representam a sociedade civil. Ele traz a assinatura de políticos, como o presidente do Cidadania, Roberto Freire, e de dirigentes de entidades da sociedade civil, como Priscila Cruz, do Todos pela Educação. Lideranças religiosas também subscrevem o documento. Lá estão o cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, e o rabino Michel Schlesinger.
Assine,
você também, esse importante MANIFESTO, clicando aqui,
vá até ao final dessa página da internet, clicando sobre esta frase: “QUERO
ASSINAR ESTE MANIFESTO”. Aí é só preencher com seus dados.
“Acho espetacular a sociedade civil se mobilizar na defesa da democracia. Entendo que 70% da sociedade quer o Brasil democrático, onde vigoram o estado de direito e as liberdades...
... Nada mais importante para a democracia do que eleições limpas,
que são garantidas pelo voto eletrônico, que vigora há 25 anos no País sem
notícia de fraude”,
disse o cientista político Luiz Felipe d’Avila.
O manifesto tem três parágrafos. Nele os signatários afirmam sua preocupação com a pandemia, as mortes e a perda de empregos. Dizem que as transformações da sociedade e a recuperação do País só serão possíveis pela via democrática. E afirmam confiar no sistema atual de voto.
“O Brasil enfrenta uma crise sanitária, social e econômica de grandes proporções. Milhares de brasileiros perderam suas vidas para a pandemia e milhões perderam seus empregos.
Apesar do momento difícil, acreditamos no Brasil. Nossos mais de 200 milhões de habitantes têm sonhos, aspirações e capacidades para transformar nossa sociedade e construir um futuro mais próspero e justo.
Esse futuro só será possível com base na estabilidade democrática. O princípio chave de uma democracia saudável é a realização de eleições e a aceitação de seus resultados por todos os envolvidos. A Justiça Eleitoral brasileira é uma das mais modernas e respeitadas do mundo. Confiamos nela e no atual sistema de votação eletrônico. A sociedade brasileira é garantidora da Constituição e não aceitará aventuras autoritárias.
O Brasil terá
eleições e seus resultados serão respeitados.”
Fonte: O Estado de S. Paulo – Política – Quarta-feira, 4 de agosto de 2021 – 22h20 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui (acesso em: 06/08/2021).
ANÁLISE
Manifesto
indica rachaduras no apoio empresarial a Bolsonaro
Wilson Tosta
Entrevista com José Murilo de Carvalho
Historiador, pesquisador e escritor
Ao comentar manifesto de empresários em apoio
às eleições 2022, historiador afirma que presidente “perturba o jogo” com a
defesa do voto impresso para justificar eventual derrota nas urnas
JOSÉ MURILO DE CARVALHO |
Para José Murilo, o manifesto com apoio empresarial indica rachaduras no empresariado que já apoiou majoritariamente a posição golpista do presidente. Ele avalia ainda que Bolsonaro usa o voto impresso apenas como pretexto para justificar uma possível derrota na tentativa de reeleição. O presidente, afirma, é “trumpista” (seguidor do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump). “Perturba o jogo” se percebe que vai perdê-lo, explica. A seguir, a entrevista do historiador ao Estadão.
Empresários relevantes
assinaram um manifesto em defesa da realização de eleições e da aceitação dos
seus resultados. A iniciativa mira o presidente Jair Bolsonaro, que diz que sem
voto impresso não haverá eleição no ano que vem, embora o texto não mencione o
presidente. Como o senhor analisa essa iniciativa?
José Murilo de Carvalho: É uma boa notícia. Mas é preciso saber quão representativa é a lista, que parcela do empresariado representa. Como se sabe, os empresários foram uma das bases de apoio de Bolsonaro. Eu ficaria mais tranquilo se a manifestação viesse das federações e confederações empresariais, sobretudo da Fiesp.
O que pode ter levado esses
empresários a assumir uma posição política que, na prática, os coloca em
oposição ao presidente da República?
José Murilo: Fizeram algum cálculo. Como se trata de eleições, um assunto político, a manifestação não atinge a política econômica e fica bem com a opinião dominante no País, sem romper totalmente com o governo.
Não seria uma posição de
risco para o empresariado?
José Murilo: Seria um cálculo. Cutuca o governo, pero no mucho.
Em quais outras ocasiões, na
história brasileira, o empresariado se posicionou politicamente em oposição ao
governo?
José Murilo: Getúlio tinha forte apoio do empresariado nacional, mas já sofria reações das empresas estrangeiras, sobretudo no que diz ao petróleo e à mineração. Goulart teve a oposição de quase todos, com particular ódio de parte dos latifundiários por causa da prometida reforma agrária.
Em 1964, o apoio empresarial
ao golpe foi amplamente majoritário. Isso não se repetiria hoje?
José Murilo: Foi majoritário, com forte pressão das multinacionais. Acho que hoje já foi majoritário, mas o próprio manifesto já indica rachaduras, mesmo que seja sobre tema político.
Em sua avaliação, qual é o
objetivo do presidente da República com seus ataques ao voto impresso, ao
ministro Barroso e ao TSE?
José Murilo: Ele é trumpista.
Se percebe que está perdendo, puxa a toalha, cria conflito, perturba
o jogo.
O voto impresso é apenas um pretexto para Bolsonaro?
José Murilo: É. Quer justificar uma possível derrota.
O presidente está tentando
fazer uma “revolução fria”, usando as instituições para implodir por dentro e
aos poucos a democracia?
José Murilo: Revolução fria não existe. É golpe. As instituições estão reagindo bem, e há o freio do Centrão, que gosta de outras coisas, não de briga.
O risco de golpe é real?
José Murilo: Diria que no momento não. O conflito mais sério foi o do ministro da Defesa e dos novos comandantes militares, escolhidos a dedo, contra um senador (Omar Aziz, presidente da CPI da Covid). O comandante da Aeronáutica, surpreendentemente, foi o mais agressivo, mas já está pondo panos quentes. Continuo a achar que “o meu Exército”, sem falar nas Forças Armadas, é cada vez menos dele.
Fonte: O Estado de S. Paulo – Política / Entrevista – Sexta-feira, 6 de agosto de 2021 – Pág. A6 – Internet: clique aqui (Acesso em: 06/08/2021).
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