A sociedade civil não se cala!

 Empresários, religiosos e intelectuais se unem em manifesto de apoio ao sistema eleitoral

 Marcelo Godoy

Jornalista e escritor 

Sem mencionar o nome do presidente Jair Bolsonaro, documento afirma que o País “terá eleições e seus resultados serão respeitados”

 

Centenas de empresários, economistas, diplomatas e representantes da sociedade civil divulgaram um manifesto em defesa do sistema eleitoral brasileiro, destacando que “o princípio-chave de uma democracia saudável é a realização de eleições e a aceitação de seus resultados por todos os envolvidos”. O comunicado, que é publicado na edição desta quinta-feira, 5, do Estadão, não cita o presidente Jair Bolsonaro, mas é categórico ao dizer que o País “terá eleições e seus resultados serão respeitados” e ao afirmar que “a sociedade brasileira é garantidora da Constituição e não aceitará aventuras autoritárias”. 

O manifesto foi divulgado no mesmo dia em que Bolsonaro passou a ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito das fake news. A decisão do ministro Alexandre de Moraes atendeu a um pedido do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A Corte vai apurar a possível prática de 11 crimes pelo presidente. 

Entre os signatários estão nomes de peso do mundo empresarial e financeiro, como:

* Frederico e Luiza Trajano, do Magazine Luiza,

* Pedro Moreira Salles e Roberto Setubal, do Banco Itaú Unibanco,

* Carlos Jereissati, do Iguatemi,

* Pedro Passos e Guilherme Leal, da Natura, e

* Luis Stuhlberger, gestor do Fundo Verde.

Também assinam economistas como:

* Armínio Fraga,

* Pedro Malan,

* Ilan Goldfajn,

* Persio Arida,

* André Lara Resende,

* Alexandre Schwartsman e

* Maria Cristina Pinotti. 

O manifesto nasceu de alguns associados do Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP) e se espalhou para outros grupos de discussão de empresários, economistas e advogados. “Já na hora que ele começou a adesão foi enorme”, afirmou o economista Affonso Celso Pastore, do CDPP.

“A sociedade civil precisa se manifestar como na época da campanha pelas eleições diretas. Bolsonaro já entrou em todos os órgãos de controle, como a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, e a luta dele agora é controlar o Judiciário. É imprescindível a união de todos em defesa da democracia”, afirmou Maria Cristina.

O texto foi elaborado na terça e passou a circular entre grupos de empresários, economistas e grupos que representam a sociedade civil. Ele traz a assinatura de políticos, como o presidente do Cidadania, Roberto Freire, e de dirigentes de entidades da sociedade civil, como Priscila Cruz, do Todos pela Educação. Lideranças religiosas também subscrevem o documento. Lá estão o cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, e o rabino Michel Schlesinger. 

Assine, você também, esse importante MANIFESTO, clicando aqui, vá até ao final dessa página da internet, clicando sobre esta frase: “QUERO ASSINAR ESTE MANIFESTO”. Aí é só preencher com seus dados.

“Acho espetacular a sociedade civil se mobilizar na defesa da democracia. Entendo que 70% da sociedade quer o Brasil democrático, onde vigoram o estado de direito e as liberdades...

... Nada mais importante para a democracia do que eleições limpas, que são garantidas pelo voto eletrônico, que vigora há 25 anos no País sem notícia de fraude”,

disse o cientista político Luiz Felipe d’Avila. 

O manifesto tem três parágrafos. Nele os signatários afirmam sua preocupação com a pandemia, as mortes e a perda de empregos. Dizem que as transformações da sociedade e a recuperação do País só serão possíveis pela via democrática. E afirmam confiar no sistema atual de voto. 

Leia a íntegra do manifesto

“O Brasil enfrenta uma crise sanitária, social e econômica de grandes proporções. Milhares de brasileiros perderam suas vidas para a pandemia e milhões perderam seus empregos. 

Apesar do momento difícil, acreditamos no Brasil. Nossos mais de 200 milhões de habitantes têm sonhos, aspirações e capacidades para transformar nossa sociedade e construir um futuro mais próspero e justo. 

Esse futuro só será possível com base na estabilidade democrática. O princípio chave de uma democracia saudável é a realização de eleições e a aceitação de seus resultados por todos os envolvidos. A Justiça Eleitoral brasileira é uma das mais modernas e respeitadas do mundo. Confiamos nela e no atual sistema de votação eletrônico. A sociedade brasileira é garantidora da Constituição e não aceitará aventuras autoritárias. 

O Brasil terá eleições e seus resultados serão respeitados.”

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política – Quarta-feira, 4 de agosto de 2021 – 22h20 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui (acesso em: 06/08/2021). 

ANÁLISE

Manifesto indica rachaduras no apoio empresarial a Bolsonaro

 Wilson Tosta 

Entrevista com José Murilo de Carvalho

Historiador, pesquisador e escritor 

Ao comentar manifesto de empresários em apoio às eleições 2022, historiador afirma que presidente “perturba o jogo” com a defesa do voto impresso para justificar eventual derrota nas urnas

JOSÉ MURILO DE CARVALHO

O historiador José Murilo de Carvalho gostou de saber que um grupo de empresários assinou um manifesto em apoio às eleições em 2022 e ao respeito aos resultados, não importando quem sejam os vitoriosos. Mas questiona, em entrevista ao Estadão, a representatividade dos signatários em relação ao empresariado. O acadêmico lembra que a classe empresarial foi uma das bases do presidente Jair Bolsonaro – em guerra contra a urna eletrônica – e avalia que pode haver algum cálculo político no episódio. “Cutuca o governo, pero no mucho”, afirma. 

Para José Murilo, o manifesto com apoio empresarial indica rachaduras no empresariado que já apoiou majoritariamente a posição golpista do presidente. Ele avalia ainda que Bolsonaro usa o voto impresso apenas como pretexto para justificar uma possível derrota na tentativa de reeleição. O presidente, afirma, é “trumpista” (seguidor do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump). “Perturba o jogo” se percebe que vai perdê-lo, explica. A seguir, a entrevista do historiador ao Estadão. 

Empresários relevantes assinaram um manifesto em defesa da realização de eleições e da aceitação dos seus resultados. A iniciativa mira o presidente Jair Bolsonaro, que diz que sem voto impresso não haverá eleição no ano que vem, embora o texto não mencione o presidente. Como o senhor analisa essa iniciativa?

José Murilo de Carvalho: É uma boa notícia. Mas é preciso saber quão representativa é a lista, que parcela do empresariado representa. Como se sabe, os empresários foram uma das bases de apoio de Bolsonaro. Eu ficaria mais tranquilo se a manifestação viesse das federações e confederações empresariais, sobretudo da Fiesp. 

O que pode ter levado esses empresários a assumir uma posição política que, na prática, os coloca em oposição ao presidente da República?

José Murilo: Fizeram algum cálculo. Como se trata de eleições, um assunto político, a manifestação não atinge a política econômica e fica bem com a opinião dominante no País, sem romper totalmente com o governo. 

Não seria uma posição de risco para o empresariado?

José Murilo: Seria um cálculo. Cutuca o governo, pero no mucho. 

Em quais outras ocasiões, na história brasileira, o empresariado se posicionou politicamente em oposição ao governo?

José Murilo: Getúlio tinha forte apoio do empresariado nacional, mas já sofria reações das empresas estrangeiras, sobretudo no que diz ao petróleo e à mineração. Goulart teve a oposição de quase todos, com particular ódio de parte dos latifundiários por causa da prometida reforma agrária. 

Em 1964, o apoio empresarial ao golpe foi amplamente majoritário. Isso não se repetiria hoje?

José Murilo: Foi majoritário, com forte pressão das multinacionais. Acho que hoje já foi majoritário, mas o próprio manifesto já indica rachaduras, mesmo que seja sobre tema político. 

Em sua avaliação, qual é o objetivo do presidente da República com seus ataques ao voto impresso, ao ministro Barroso e ao TSE?

José Murilo: Ele é trumpista.

Se percebe que está perdendo, puxa a toalha, cria conflito, perturba o jogo.

O voto impresso é apenas um pretexto para Bolsonaro?

José Murilo: É. Quer justificar uma possível derrota. 

O presidente está tentando fazer uma “revolução fria”, usando as instituições para implodir por dentro e aos poucos a democracia?

José Murilo: Revolução fria não existe. É golpe. As instituições estão reagindo bem, e há o freio do Centrão, que gosta de outras coisas, não de briga. 

O risco de golpe é real?

José Murilo: Diria que no momento não. O conflito mais sério foi o do ministro da Defesa e dos novos comandantes militares, escolhidos a dedo, contra um senador (Omar Aziz, presidente da CPI da Covid). O comandante da Aeronáutica, surpreendentemente, foi o mais agressivo, mas já está pondo panos quentes. Continuo a achar que “o meu Exército”, sem falar nas Forças Armadas, é cada vez menos dele. 

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política / Entrevista – Sexta-feira, 6 de agosto de 2021 – Pág. A6 – Internet: clique aqui (Acesso em: 06/08/2021).

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