«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 21 de agosto de 2021

21º Domingo do Tempo Comum – Ano B – HOMILIA

 Evangelho: João 6,60-69 

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João. Naquele tempo: 60 muitos dos discípulos de Jesus que o escutaram, disseram: «Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?» 61 Sabendo que seus discípulos estavam murmurando por causa disso mesmo, Jesus perguntou: «Isto vos escandaliza? 62 E quando virdes o Filho do Homem subindo para onde estava antes? 63 O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida. 64 Mas entre vós há alguns que não creem». Jesus sabia, desde o início, quem eram os que não tinham fé e quem havia de entregá-lo. 65 E acrescentou: «É por isso que vos disse: ninguém pode vir a mim a não ser que lhe seja concedido pelo Pai». 66 A partir daquele momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele. 67 Então, Jesus disse aos doze: «Vós também vos quereis ir embora?» 68 Simão Pedro respondeu: «A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. 69 Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus».

Palavra da Salvação. 

Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano

Somente “tu tens palavras de vida eterna” 

Jesus concluiu o longo discurso proferido na sinagoga de Cafarnaum [Jo 6,4-58], discurso em que conseguiu desagradar a todos:

* a multidão que esperava fazê-lo rei,

* os líderes religiosos,

* os judeus, que viam o perigo deste Jesus que revolucionava a relação com Deus, e, o que é mais dramático nesta página, João capítulo 6, versículos 60 a 69, custará a ele o abandono de muitos de seus discípulos. 

O evangelista escreve: «Muitos dos discípulos de Jesus que o escutaram, disseram: “Esta palavra é dura”». O evangelista usa, pela única vez em seu Evangelho, o termo grego «scleros» que, em relação a um discurso, significa o que é insolente, o que é ofensivo. O que foi ofensivo e insolente na fala de Jesus? Jesus se distanciou do mito do êxodo, da libertação. Jesus disse claramente: estão todos mortos no deserto e isso lhes era inaceitável. Mas também entenderam o convite de Jesus para que se fizessem pão, alimento de vida para os outros, e eles queriam mandar, queriam reinar, não queriam servir aos outros. 

Jesus, ficou sabendo dentro de si que «seus discípulos estavam murmurando», murmuram exatamente como os judeus, os líderes religiosos. Então, a respeito disso, disse-lhes: «Isto vos escandaliza?» O verbo «escandalizar» aparece aqui e, depois, no capítulo 16, quando Jesus anunciou a perseguição e a morte.

Então, a referência é à morte dele, é a morte que escandaliza, a morte de Jesus, porque pensavam que a morte fosse o fim de tudo.

E, de fato, disse: «E quando virdes o Filho do Homem subindo para onde estava antes?» A morte era considerada uma descida e a ressurreição uma ascensão. E aqui está a frase de Jesus: «O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada». Jesus havia dito que daria seu pão como carne, o que significa que o Espírito dá vida, a carne não adianta?

Comer pão, a referência é à Eucaristia, sem, no entanto, fazer-se pão para os outros é inútil.

Prosseguiu Jesus: «As palavras que vos falei são espírito e vida», ou seja, são palavras que libertam o ser humano e liberam energias vitais sempre crescentes. É a Eucaristia que é dinamismo do amor recebido e do amor comunicado. Disse, ainda, Jesus: «Mas entre vós há alguns que não creem», quer dizer, deram uma adesão a Jesus que não é radical, é por interesse próprio e não pelos interesses dos outros, seguiam Jesus por conveniência própria. Na verdade, «Jesus sabia, desde o início, quem eram os que não tinham fé e quem havia de entregá-lo». Enquanto os outros evangelistas anunciam a traição no contexto da ceia pascal, o evangelista a insere, aqui, para deixar claro que este longo discurso é uma referência à Eucaristia. 

E ele dizia: «É por isso que vos disse: ninguém pode vir a mim a não ser que lhe seja concedido pelo Pai». A ação do Pai é estimular o desejo de plenitude de vida, mas quem estava sem o Espírito de Deus iria ceder. E eis que, final dramático: «A partir daquele momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele». Mas Jesus estava disposto a ficar sozinho em vez de mudar seu plano que é manifestar o amor do Pai ao mundo. Jesus, então, disse aos Doze: «“Vós também vos quereis ir embora?” Simão Pedro respondeu: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”». A resposta de Simão Pedro era, em parte, positiva, pois ele reconhece que Jesus tem as palavras que dão uma vida indiscutível no ser humano, mas a outra parte era negativa. Porque ele se referiu a Jesus como o Santo de Deus, com o artigo definido. O Santo de Deus era o messias esperado pela tradição, aquele que vinha para restaurar a monarquia, para dominar os pagãos, para impor a lei, ou seja, o messias da expectativa popular. E é exatamente a expressão que o homem possuído pelo espírito impuro usou, sempre em Cafarnaum, sempre na sinagoga, como lemos nos Evangelhos de Marcos e Lucas [Mc 1,24c; Lc 4,34c], e isso lança uma luz sinistra sobre o que se seguirá e sobre a traição, também, de Pedro. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

Eu não tenho dúvidas de que, se todos os que foram batizados e se consideram “cristãos” soubessem, em profundidade e plenamente, qual é o PROJETO DE JESUS, qual é a VONTADE DO PAI para este nosso mundo, para a nossa vida, muitos fariam como alguns discípulos no Evangelho deste domingo: “[...] muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele”. E isso não é exagero da minha parte! Afinal, o Evangelho deste domingo trata da Eucaristia, da Ceia semanal de nós, cristãos, porém o faz de um modo bem radical. 

O escândalo produzido por Jesus, na sinagoga de Cafarnaum, teve uma dupla motivação:

a) de um lado, muitos discípulos entenderam que comungar, na Eucaristia, se tratasse de comer a carne histórica de Jesus, o seu próprio ser carnal, físico! É o chamado “cafarnaísmo”, pois ocorreu nessa localidade da Galileia. O que, de fato, seria escandaloso e inadmissível! Mas Jesus não falava disso, obviamente!

b) De outro lado, o escândalo é provocado pela relativização que Jesus faz da maior tradição judaica, o ÊXODO, bem como, pelo fato de que seus discípulos compreenderam, muito bem, que a Eucaristia é “o convite de Jesus para que se fizessem pão, alimento de vida para os outros, e eles queriam mandar, queriam reinar, não queriam servir aos outros”, como nos explicou frei Maggi em seu comentário. 

Se os cristãos compreendessem, de verdade, que alimentar-se do pão eucarístico é realizar uma união e, inclusive, uma fusão com a VIDA e o DESTINO de Jesus, penso que muitos desistiriam, pois não têm essa FÉ! Assim, como muitos discípulos de Jesus o seguiam não com a finalidade de servir aos outros, dar sua vida para que outros tivessem uma vida mais plena, mais digna, do mesmo modo, hoje, muitos frequentam a Eucaristia com um espírito individualista, egoísta e intimista, visando, apenas e tão somente, a SUA salvação individual! 

A Eucaristia não possui, para muitos cristãos, o significado original que Jesus Cristo lhe deu! Quer dizer, na Eucaristia, paixão e morte estão, irremediavelmente, entrelaçadas! É impossível comungar, de verdade, do Corpo e Sangue do Cristo, sem envolver-se, até as entranhas, até o mais profundo de nós mesmos (!), com seus CRITÉRIOS, seus VALORES, seus COSTUMES, enfim, com a sua MANEIRA DE VIVER. 

Mas, para isso, é preciso ter FÉ, como afirma Jesus, no Evangelho deste domingo. Muitos se colocam no seguimento de Jesus, mas por motivos não confessados ou inconfessáveis! Jesus faz referência a essa amarga experiência, quando afirma: “Em verdade, em verdade vos digo: todo aquele que pratica o pecado é escravo do pecado. O escravo não permanece para sempre na casa, mas o filho permanece nela para sempre” (Jo 8,34-35). Quem permanece na comunidade de Jesus, na Igreja, como um escravo, isto é, apegado aos seus projetos pessoais, aos seus desejos, aos seus vícios e ambições, cedo ou tarde, irá embora! 

Como constata, muito bem, o biblista e teólogo italiano Enzo Bianchi:

“Para perseverar no seguimento de Jesus não basta um ideal, nem são suficientes nobres motivações; necessita-se de uma fé firme”.

 Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Senhor, obrigado pelas tuas palavras, que despertaram em mim o espírito e a vida; obrigado, porque tu falas e a criação continua, tu me plasmas ainda, imprimes ainda em mim a tua imagem, a tua semelhança insubstituível. Obrigado, porque tu, com amor e paciência, me esperas mesmo quando murmúrio, quando me deixo escandalizar, quando me deixo tomar pela incredulidade, ou quando te viro as costas. Perdoa-me, Senhor, por tudo isso e continua a curar-me, a tornar-me forte e feliz em te seguir, somente a ti!»

(Fonte: Maria Anastasia C. Cucca. 21ª Domenica del Tempo Ordinario. In: Anthony Cilia, O.Carm. [Org.] Lectio Divina sui vangeli festivi per l’anno litúrgico B. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 505.) 

Fonte: Commento al Vangelo di P. Alberto Maggi – XXI Domenica del Tempo Ordinario - 26 agosto 2018 – Internet: clique aqui (acesso em: 19/08/2021).

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