21º Domingo do Tempo Comum – Ano B – HOMILIA

 Evangelho: João 6,60-69 

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João. Naquele tempo: 60 muitos dos discípulos de Jesus que o escutaram, disseram: «Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?» 61 Sabendo que seus discípulos estavam murmurando por causa disso mesmo, Jesus perguntou: «Isto vos escandaliza? 62 E quando virdes o Filho do Homem subindo para onde estava antes? 63 O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida. 64 Mas entre vós há alguns que não creem». Jesus sabia, desde o início, quem eram os que não tinham fé e quem havia de entregá-lo. 65 E acrescentou: «É por isso que vos disse: ninguém pode vir a mim a não ser que lhe seja concedido pelo Pai». 66 A partir daquele momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele. 67 Então, Jesus disse aos doze: «Vós também vos quereis ir embora?» 68 Simão Pedro respondeu: «A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. 69 Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus».

Palavra da Salvação. 

Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano

Somente “tu tens palavras de vida eterna” 

Jesus concluiu o longo discurso proferido na sinagoga de Cafarnaum [Jo 6,4-58], discurso em que conseguiu desagradar a todos:

* a multidão que esperava fazê-lo rei,

* os líderes religiosos,

* os judeus, que viam o perigo deste Jesus que revolucionava a relação com Deus, e, o que é mais dramático nesta página, João capítulo 6, versículos 60 a 69, custará a ele o abandono de muitos de seus discípulos. 

O evangelista escreve: «Muitos dos discípulos de Jesus que o escutaram, disseram: “Esta palavra é dura”». O evangelista usa, pela única vez em seu Evangelho, o termo grego «scleros» que, em relação a um discurso, significa o que é insolente, o que é ofensivo. O que foi ofensivo e insolente na fala de Jesus? Jesus se distanciou do mito do êxodo, da libertação. Jesus disse claramente: estão todos mortos no deserto e isso lhes era inaceitável. Mas também entenderam o convite de Jesus para que se fizessem pão, alimento de vida para os outros, e eles queriam mandar, queriam reinar, não queriam servir aos outros. 

Jesus, ficou sabendo dentro de si que «seus discípulos estavam murmurando», murmuram exatamente como os judeus, os líderes religiosos. Então, a respeito disso, disse-lhes: «Isto vos escandaliza?» O verbo «escandalizar» aparece aqui e, depois, no capítulo 16, quando Jesus anunciou a perseguição e a morte.

Então, a referência é à morte dele, é a morte que escandaliza, a morte de Jesus, porque pensavam que a morte fosse o fim de tudo.

E, de fato, disse: «E quando virdes o Filho do Homem subindo para onde estava antes?» A morte era considerada uma descida e a ressurreição uma ascensão. E aqui está a frase de Jesus: «O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada». Jesus havia dito que daria seu pão como carne, o que significa que o Espírito dá vida, a carne não adianta?

Comer pão, a referência é à Eucaristia, sem, no entanto, fazer-se pão para os outros é inútil.

Prosseguiu Jesus: «As palavras que vos falei são espírito e vida», ou seja, são palavras que libertam o ser humano e liberam energias vitais sempre crescentes. É a Eucaristia que é dinamismo do amor recebido e do amor comunicado. Disse, ainda, Jesus: «Mas entre vós há alguns que não creem», quer dizer, deram uma adesão a Jesus que não é radical, é por interesse próprio e não pelos interesses dos outros, seguiam Jesus por conveniência própria. Na verdade, «Jesus sabia, desde o início, quem eram os que não tinham fé e quem havia de entregá-lo». Enquanto os outros evangelistas anunciam a traição no contexto da ceia pascal, o evangelista a insere, aqui, para deixar claro que este longo discurso é uma referência à Eucaristia. 

E ele dizia: «É por isso que vos disse: ninguém pode vir a mim a não ser que lhe seja concedido pelo Pai». A ação do Pai é estimular o desejo de plenitude de vida, mas quem estava sem o Espírito de Deus iria ceder. E eis que, final dramático: «A partir daquele momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele». Mas Jesus estava disposto a ficar sozinho em vez de mudar seu plano que é manifestar o amor do Pai ao mundo. Jesus, então, disse aos Doze: «“Vós também vos quereis ir embora?” Simão Pedro respondeu: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”». A resposta de Simão Pedro era, em parte, positiva, pois ele reconhece que Jesus tem as palavras que dão uma vida indiscutível no ser humano, mas a outra parte era negativa. Porque ele se referiu a Jesus como o Santo de Deus, com o artigo definido. O Santo de Deus era o messias esperado pela tradição, aquele que vinha para restaurar a monarquia, para dominar os pagãos, para impor a lei, ou seja, o messias da expectativa popular. E é exatamente a expressão que o homem possuído pelo espírito impuro usou, sempre em Cafarnaum, sempre na sinagoga, como lemos nos Evangelhos de Marcos e Lucas [Mc 1,24c; Lc 4,34c], e isso lança uma luz sinistra sobre o que se seguirá e sobre a traição, também, de Pedro. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

Eu não tenho dúvidas de que, se todos os que foram batizados e se consideram “cristãos” soubessem, em profundidade e plenamente, qual é o PROJETO DE JESUS, qual é a VONTADE DO PAI para este nosso mundo, para a nossa vida, muitos fariam como alguns discípulos no Evangelho deste domingo: “[...] muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele”. E isso não é exagero da minha parte! Afinal, o Evangelho deste domingo trata da Eucaristia, da Ceia semanal de nós, cristãos, porém o faz de um modo bem radical. 

O escândalo produzido por Jesus, na sinagoga de Cafarnaum, teve uma dupla motivação:

a) de um lado, muitos discípulos entenderam que comungar, na Eucaristia, se tratasse de comer a carne histórica de Jesus, o seu próprio ser carnal, físico! É o chamado “cafarnaísmo”, pois ocorreu nessa localidade da Galileia. O que, de fato, seria escandaloso e inadmissível! Mas Jesus não falava disso, obviamente!

b) De outro lado, o escândalo é provocado pela relativização que Jesus faz da maior tradição judaica, o ÊXODO, bem como, pelo fato de que seus discípulos compreenderam, muito bem, que a Eucaristia é “o convite de Jesus para que se fizessem pão, alimento de vida para os outros, e eles queriam mandar, queriam reinar, não queriam servir aos outros”, como nos explicou frei Maggi em seu comentário. 

Se os cristãos compreendessem, de verdade, que alimentar-se do pão eucarístico é realizar uma união e, inclusive, uma fusão com a VIDA e o DESTINO de Jesus, penso que muitos desistiriam, pois não têm essa FÉ! Assim, como muitos discípulos de Jesus o seguiam não com a finalidade de servir aos outros, dar sua vida para que outros tivessem uma vida mais plena, mais digna, do mesmo modo, hoje, muitos frequentam a Eucaristia com um espírito individualista, egoísta e intimista, visando, apenas e tão somente, a SUA salvação individual! 

A Eucaristia não possui, para muitos cristãos, o significado original que Jesus Cristo lhe deu! Quer dizer, na Eucaristia, paixão e morte estão, irremediavelmente, entrelaçadas! É impossível comungar, de verdade, do Corpo e Sangue do Cristo, sem envolver-se, até as entranhas, até o mais profundo de nós mesmos (!), com seus CRITÉRIOS, seus VALORES, seus COSTUMES, enfim, com a sua MANEIRA DE VIVER. 

Mas, para isso, é preciso ter FÉ, como afirma Jesus, no Evangelho deste domingo. Muitos se colocam no seguimento de Jesus, mas por motivos não confessados ou inconfessáveis! Jesus faz referência a essa amarga experiência, quando afirma: “Em verdade, em verdade vos digo: todo aquele que pratica o pecado é escravo do pecado. O escravo não permanece para sempre na casa, mas o filho permanece nela para sempre” (Jo 8,34-35). Quem permanece na comunidade de Jesus, na Igreja, como um escravo, isto é, apegado aos seus projetos pessoais, aos seus desejos, aos seus vícios e ambições, cedo ou tarde, irá embora! 

Como constata, muito bem, o biblista e teólogo italiano Enzo Bianchi:

“Para perseverar no seguimento de Jesus não basta um ideal, nem são suficientes nobres motivações; necessita-se de uma fé firme”.

 Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Senhor, obrigado pelas tuas palavras, que despertaram em mim o espírito e a vida; obrigado, porque tu falas e a criação continua, tu me plasmas ainda, imprimes ainda em mim a tua imagem, a tua semelhança insubstituível. Obrigado, porque tu, com amor e paciência, me esperas mesmo quando murmúrio, quando me deixo escandalizar, quando me deixo tomar pela incredulidade, ou quando te viro as costas. Perdoa-me, Senhor, por tudo isso e continua a curar-me, a tornar-me forte e feliz em te seguir, somente a ti!»

(Fonte: Maria Anastasia C. Cucca. 21ª Domenica del Tempo Ordinario. In: Anthony Cilia, O.Carm. [Org.] Lectio Divina sui vangeli festivi per l’anno litúrgico B. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 505.) 

Fonte: Commento al Vangelo di P. Alberto Maggi – XXI Domenica del Tempo Ordinario - 26 agosto 2018 – Internet: clique aqui (acesso em: 19/08/2021).

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