De Bolsonero a Herodes
Bolsonaro, que já era Nero, agora quer ser Herodes
Vinicius Torres Freire
Jornalista, foi secretário de Redação do jornal Folha de S. Paulo. É mestre em Administração Pública pela Universidade Harvard (Estados Unidos)
Falta informação nacional sobre a epidemia,
centrão saqueia Orçamento, Bolsonaro passeia
Faz dez dias, sabe-se pouco sobre o ritmo da epidemia no país. A ignorância aumentou por causa dos ataques de hackers aos sites do Ministério da Saúde, que não tiveram conserto satisfatório até agora. Neste momento em que o mundo se ocupa do que fazer com a ameaça grave da ômicron, estamos um tanto mais no escuro do que de costume. Mais sobre isso mais adiante.
Esses bandidos informáticos também
atacaram outros sites do governo, como os das polícias federais.
A baderna criminosa se torna uma rotina; os sites caídos permanecem
em ruínas por tempo inaceitável. A segurança institucional é uma
mixórdia negligente.
É comandada por Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança
Institucional, um general amigo da ditadura e da tortura, comparsa de
Jair Bolsonaro nas campanhas golpistas. General Augusto Heleno - Ao invés de cuidar da segurança das instituições federais, a ele confiadas, o militar prefere ser articulador de golpes e perseguidor de fantasmas
Bolsonaro menos e menos se ocupa de
passar a impressão de que governa. O Orçamento federal no momento é
retalhado pelos regentes do centrão e seus favorecidos, picotado em obras
paroquiais e outros fundos milionários para a reeleição dessa gente.
O governo de Bolsonaro não tem capacidade nenhuma de orientar a lei
orçamentária, quando não participa da razia e do saque.
Esse tipo que ora ocupa a cadeira de presidente da República tratou quase apenas de arrumar um reajuste para policiais, sua “base”. Bolsonaro não passa do pior vereador da história do Brasil.
Bolsonaro pedinchou ao centrão
dinheiro para dar reajuste de salário a policial.
Sempre Nero, Bolsonero, agora também é Herodes. Faz campanha
para prejudicar a vacinação das crianças.
Estertorando nas pesquisas, estrebucha e cospe o resto do seu veneno a fim de manter no curral aquele 13% do eleitorado que “sempre confia” no que ele fala (dados do Datafolha) e mais outro tanto de votos, o mínimo para não ser descartado na corrida eleitoral. Isto é, faz campanha para sua seita ou quase isso.
Quais as medidas para conter um repique da epidemia, evitar uma possível invasão da ômicron? Não sabemos direito que se passa, por causa daquela depredação causada por hackers e porque, enfim, nunca houve mesmo um sistema nacional de informação e planejamento, de combate coordenado à Covid. Nem testamos ou rastreamos direito a doença.
Como surtos e repiques são a princípio locais, podemos tentar ver ali e aqui se a ômicron já faz estragos. O número de internados em UTIs na cidade de São Paulo aumenta de leve. Tinha caído a 111 faz dez dias, voltou a 144 — sim já foram mais de 1.200 no auge da epidemia, em abril. O número de novos internados no estado inteiro também voltou a subir. Pode ser mera flutuação casual. Pode ser outra coisa.
Quando vamos aprender que precisamos ainda tomar todos os cuidados (máscara, teste, ventilação, higiene, vacina, evitar aglomeração) e olhar os dados de maneira obsessiva? Considerem o que se passa na Europa e nos Estados Unidos, já com vários fechamentos de atividades públicas e um número muito alto de mortes.
Por sorte biológica, por causa do tamanho da desgraça aqui (muita infecção) e pela vacinação tardia, mas rápida, a delta fez bem menos estrago no Brasil do que no mundo rico. Pode ser que seja assim com a ômicron, mas simplesmente não sabemos. Parece que é altamente transmissível. No mais, há muita pesquisa e discussão sobre o bicho. Vamos esperar para descobrir na prática, no cara ou coroa da morte?
No final de ano, haverá reuniões de famílias, amigos, colegas de trabalho, aglomerações maiores, muitas irresponsáveis, e muita viagem. Se a ômicron está solta em São Paulo, vai se disseminar pelo país, inclusive por lugares do Norte e do Nordeste com baixa taxa de vacinação.
Vamos jogar na Mega da Virada? Na Mega
da morte? Ciro Nogueira (Progressistas - Ministro da Casa Civil), Arthur Lira (Progressistas - Presidente da Câmara dos Deputados) e Jair Bolsonaro: o Centrão dominando!!!
O escândalo do Orçamento do Brasil para 2022
1. Valor total das despesas da União: R$
4,8 trilhões
2. Os orçamentos de alguns Ministérios (em bilhões de
reais):
2.1. Ministério
da Saúde: R$ 160,56 bilhões
2.2. Ministério
da Educação: R$ 136,96 bilhões
2.3. Ministério da Defesa: R$ 116,31 bilhões (Para que tudo isso?! Estamos
em guerra contra alguém? Claramente, um absurdo!)
2.4. Ministério da Infraestrutura: R$ 18,25 bilhões (Só! Para estradas,
pontes, ferrovias, rodovias etc.)
2.5. Ministério
do Meio Ambiente: R$ 3,17 bilhões (Escandaloso! E isso,
porque prometemos na COP que iríamos priorizar a proteção de nosso
meio ambiente, a fiscalização contra ações ilegais de desmatamento,
garimpo etc. – Pura mentira!)
3. Principais ações (em bilhões de reais):
3.1. Auxílio
Brasil (cerca de R$ 400,00 por família): 89 bilhões
3.2. Emendas
de relator (o tal do orçamento secreto): 16,5 bilhões
3.3. Emendas
dos parlamentares (deputados e senadores): 4,7 bilhões
Total de emendas parlamentares: 21,2 bilhões (Pasmem: sete vezes
mais que o dinheiro destinado ao Meio Ambiente!)
3.4. Fundo
eleitoral (dinheiro para financiar campanhas): 4,9 bilhões
3.5. Reajuste
de policiais federais (só para eles!): 1,7 bilhão
3.6. Reajustes
para agentes comunitários de saúde: 800 milhões
4. Salário mínimo (a partir de janeiro/2022): R$
1.210,00
5. Investimentos (aquilo que sobrou para novas obras e
iniciativas): 44 bilhões
Observação:
* O Congresso Nacional (deputados + senadores) promoveu um corte aproximado de R$ 16 bilhões em Previdência Social, subsídios e no Benefício de Prestação Continuada (BPC – destinado aos mais pobres) para aumentar outros gastos como as famigeradas emendas de relator, dinheiro de utilização não transparente!
Fonte: Folha de S. Paulo – Mercado / colunas e blogs – Quarta-feira, 22 de dezembro de 2021 – Pág. A17 – Internet: clique aqui (Acesso em: 23/12/2021).
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