«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Rico às custas do Estado

 Elon Musk e o cinismo dos liberais espertos

 José Luiz Portella

Colunista do UOL 

ELON MUSK eleito, pela revista norte-americana TIME, como a "Personalidade do Ano" 2021! Só "compra" quem não o conhece!

O discurso do bilionário contra os subsídios ignora a história da indústria da tecnologia, que existe graças a eles

Elon Musk entoou a mesma melodia que muitos liberais, espertos, oferecem ao mercado para parecerem independentes do Estado. Fareed Zakaria, colunista do Washington Post, o desmascarou implacavelmente, em artigo transcrito para o Estado de S. Paulo de 11 de dezembro [acesse o artigo na versão original, clicando aqui]. 

Veja o que Musk fez:

a) Ele afirmou que o pacote de incentivo contido no plano de Joe Biden “honestamente, melhor não ser aprovado”. Ele vociferava contra os subsídios e disse que não queria nenhum subsídio para si ou para sua empresa, a Tesla, nem para outras empresas. E bradou valente: “Livrem-se de todos os subsídios”. Veja o que ele já fez, segundo Zakaria, um jornalista bem informado da cena americana:

b) Três dos empreendimentos de Musk, Tesla, SpaceX e SolarCity não existiriam sem a ajuda do governo.

c) Proprietários de carros Tesla receberam por anos generosos créditos fiscais e incentivos do governo federal e de muitos governos estaduais.

d) Em 2010, após recessão global, quando a Tesla era pequena, recebeu um empréstimo de US$ 465 milhões do Departamento de Energia para sua sobrevivência.

e) O Estado de Nevada ofertou incentivos fiscais na ordem de 1 bilhão, duzentos e cinquenta milhões de dólares para que Tesla construísse lá sua fábrica de baterias.

f) A SolarCity se beneficiou de todo o conjunto de subsídios e créditos fiscais que incentivam a produção e instalação de painéis solares.

g) Os maiores clientes da SpaceX são agências do governo federal como a Nasa e o Departamento de Defesa.

h) A Starlink, provedora de serviços de internet por satélite, está recebendo centenas de milhões de dólares em financiamentos da Comissão Federal de Comunicações. A SpaceX estima que a Starlink poderá superar em 10 vezes o ramo de foguetes. 

O custo de pegar emprestado com o governo federal é praticamente zero.

Musk admite que os Estados Unidos precisam melhorar aeroportos e rodovias. Mas, aeroportos não devem ter subsídio. Ele, no passado, quando engatinhava, sim. Cara de pau. 

O investimento do governo federal em energia verde é semelhante ao que realizou na década de 1950 em relação a chips de computador, que favoreceu todas as grandes empresas como Apple, Microsoft, Facebook. Elon esqueceu.


 A hipocrisia de Elon Musk não é caso isolado, nem limitado aos Estados Unidos. No Brasil também é assim. O Estado brasileiro é açambarcado e apropriado em grande parte pela iniciativa privada que se beneficia dele, e, depois, vai rezar a cartilha liberal em encontros na avenida Faria Lima [centro financeiro e empresarial de São Paulo] ou nos artigos de seus porta-vozes. 

Sem contar: o agente corruptor ativo é quase sempre privado, que, depois recebe a tolerância da Justiça. Os comentaristas têm a coragem de repetir o mantra: menos Estado, menos corrupção, com uma desfaçatez imensa.

Como se a corrupção fosse oriunda do Estado e não do ser humano, desde sua origem,...

... e como se não houvesse milhares de casos de corrupção na iniciativa privada, toda vez, e que não vêm à tona porque não aparecem na imprensa. Isso é uma desonestidade intelectual. 

A história do Brasil é a história da maioria dos empresários conseguindo subsídios ou implorando protecionismo do governo, contra o mantra liberal que entoam na TV e nas reuniões, onde os grandes culpados de plantão são o Estado e o drible no Teto de Gastos, que muitos deles ajudam a realizar com as pressões que fazem no Congresso, no escurinho. 

Estamos em recessão técnica, vem aí mais recessão, os economistas dizem que não há como aplacar a inflação sem gerar desemprego, queda da demanda,...

... mas os empresários liberais novos e velhos, vão buscar acolhimento nas asas do Estado.

Há áreas de atuação onde empresas do mesmo ramo têm regimes diferentes tributários, por conta de concessões dirigidas. 

Concorrência perfeita só no manual. A maioria busca o oligopólio, e a seguir, o monopólio. Essa hipocrisia é um dos motivos para termos a desigualdade que existe, vexaminosa. Alguns se aproveitam do Estado e pregam austeridade para os outros. 

Vale a pena ler - confira!

Elon Musk foi lamentável e não deixa de ser uma fonte de referência para muitos liberais de palanque. No livro de Mariana Mazzucato, O Estado Empreendedor [Portfolio-Penguin, 2014 – vale a pena ler!], os liberais de palanque podem saber como foram formadas as grandes fortunas da área tecnológica. Assim como aqui se fizeram tantos empresários, atados à asa do Estado, com muito carinho. 

O Brasil precisa ser menos hipócrita. E as pessoas, antes de entoarem o credo liberal, deveriam ler um pouco.

Sem Estado e mercado articulados, nenhum país cresce.

A modinha liberal atual, incentivada pelo fura-teto Paulo Guedes, necessita de mais conteúdo, menos hipocrisia e mais leitura. Como disse Guedes ao general que citou o plano Marshall, e vale para ele também, que leu Keynes em inglês, e não entendeu, isso revela um grande despreparo. 

Zakaria escreveu: Musk ignora a história da indústria da tecnologia. No Brasil, tem muito pseudoliberal que ignora a história econômica do Brasil. 

Fonte: Portal UOL – Opinião – Sábado, 11 de dezembro de 2021 – 18h58 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui (Acesso em: 15/12/2021).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.