«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Um momento crítico: eleições 2022

 O que vemos é um desmonte das instituições fiscais

 Sonia Racy

 Entrevista com Eduardo Giannetti da Fonseca

Economista e escritor 

EDUARDO GIANNETTI DA FONSECA


Em 2022, alerta o economista, “ou restauramos a racionalidade - na gestão pública, educação e meio ambiente -, ou vamos perder uma geração”

Ele é graduado pela USP, tem PhD em Cambridge e, como escritor, ganhou dois prêmios Jabuti, em 1994 e 1995. Com um pé na filosofia e na literatura, e outro na economia – onde aparece mais no debate público –, Eduardo Giannetti da Fonseca chama a atenção para dois desafios. Um deles no Brasil, onde “estamos assistindo a um desmonte das instituições fiscais”. E outro no processo de hiperglobalização no planeta, “com um volume de ativos completamente desconectado da realidade”. 

Nesta entrevista a Cenários, ele comenta também a disputa por uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL), faz mistério sobre um novo livro e avisa: “É talvez o livro mais filosófico que já escrevi”. 

Na semana que vem, você disputa uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Vai virar imortal?

Eduardo Giannetti da Fonseca: Sinto-me muito feliz de estar competindo pela cadeira número 2 da ABL. Eu já tinha sido sondado há algum tempo, mas achei prematuro. Agora, vieram de novo e me senti apto a entrar na disputa. Isso me interessa porque sempre fui identificado como economista, mas minha atividade principal, de trabalho, não é de economia. 

Alguns livros escritos por Eduardo Giannetti da Fonseca

Pode explicar qual é?

Giannetti da Fonseca: Já publiquei mais de 10 livros sobre filosofia, já escrevi literatura. E nesta etapa da vida estou interessado em me direcionar para literatura e filosofia. 

Você está escrevendo um novo livro, não? Pode falar a respeito?

Giannetti da Fonseca: Acho que queima o assunto falar muito cedo. Posso adiantar que o tema é filosofia. É talvez o livro mais filosófico que já escrevi, algo bem reflexivo. 

Então, vamos a uma pergunta mais fácil. O que vai acontecer no Brasil em 2022?

Giannetti da Fonseca: O País está diante de uma encruzilhada, e o resultado das eleições vai ser determinante por várias gerações. Vivemos um processo complicado de polarização política.

A vitória de Bolsonaro, em 2018, representou o fim de um ciclo do processo de redemocratização, no qual as três grandes forças de oposição ao regime militar foram testadas pelo eleitorado.

Primeiro, o MDB de José Sarney e Ulysses Guimarães, depois o PSDB de Fernando Henrique e, por fim, o PT de Lula e Dilma. A vitória de Bolsonaro nega a política institucionalizada no País. 

De que modo essa mudança afetou a economia?

Giannetti da Fonseca: O então deputado Jair Bolsonaro, por 30 anos no Congresso, foi estatizante, corporativista, defendeu propostas contrárias ao liberalismo. Como é que esse candidato, que seis meses antes da eleição declarou que Fernando Henrique Cardoso tinha de ser fuzilado por privatizar a Vale, se torna um liberal puro-sangue? Foi uma súbita conversão de 180 graus. 

Acha que ele tem convicção sobre alguma coisa?

Giannetti da Fonseca: Minha percepção é de que ele imaginou que isso ia pegar bem no mercado financeiro. 

Mas, enfim, o que foi feito?

Giannetti da Fonseca: Uma reforma da Previdência, que teve um protagonismo do Congresso. Avançaram em marcos regulatórios, saneamento, ferrovias, sistema portuário. A lei do BC independente já estava pronta. Mas o que eu não engulo é que eles nunca apresentaram uma reforma tributária. Abandonaram uma boa proposta, a PEC 45. Inventaram de voltar com a CPMF, que não deu em nada. A reforma do Imposto de Renda, idem. Na verdade, estamos assistindo ao desmonte das instituições fiscais do País. 

E a inflação aumentando...

Giannetti da Fonseca: Com a inflação, provocada em grande parte pela desvalorização cambial. E, com a incerteza fiscal, aumentar os juros é muito grave, porque 1% a mais na Selic gera um gasto adicional de R$ 34 bilhões. Estamos falando de “um Bolsa Família” a cada 1% da Selic. Por isso que 2022 é uma encruzilhada. Ou restauramos uma certa racionalidade – na gestão pública, na educação, cultura, meio ambiente, economia – ou vamos perder uma geração.

Se continuar o atual descalabro, vamos para o buraco.

 Acha que a pandemia afetou a teoria econômica?

Giannetti da Fonseca: Temos uma regularidade histórica que, de novo, se confirmou: grandes crises, guerras ou desastres naturais levam ao crescimento do Estado. É ele que se impõe como autoridade para coordenar e gastar. Uma coisa que aconteceu é que o processo de globalização – que traz vantagens inequívocas quanto à eficiência – revelou uma vulnerabilidade que não era explícita. 

E qual o efeito disso?

Giannetti da Fonseca: Estudo recente de uma consultoria mostrou que, para 180 produtos cruciais das cadeias produtivas mundiais, há apenas um ou dois fornecedores. Para ingredientes farmacêuticos, 80% da produção está concentrada na China e na Índia. Isso é muito perigoso para a humanidade. Um problema num país interrompe uma cadeia produtiva geral. Acho que isso pode nos levar a um arrefecimento desse processo de especialização e hiperglobalização. 

E isso traz consequências complicadas, não?

Giannetti da Fonseca: Essa lógica da hiperglobalização tem uma fragilidade que precisa ser incluída no processo. Um simples dado: a dívida global, pública, familiar e corporativa hoje é de 352% do PIB mundial. Antes da pandemia, estava em 325%. Você tem um volume de ativos com preço completamente desconectado do mundo real, de tudo. Na hora em que precisar aumentar juros, há o risco de essa bolha estourar. 

Fonte: O Estado de S. Paulo – Economia / Cenários – Quarta-feira, 8 de dezembro de 2021 – Pág. B11 – Internet: clique aqui (Acesso em: 14/12/2021).

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