4º Domingo do Advento – Ano C – HOMILIA

 Evangelho: Lucas 1,39-45

 Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano 

Quem traz Deus dentro de si quer se fazer dom para os outros

Tanto no segundo livro de Samuel (6,1-11) como no primeiro das Crônicas (cap. 13), narra-se um episódio muito importante na história de Israel: a reconquista, por parte de Davi, da arca da aliança que seus inimigos, os filisteus, haviam tomado. Ao carregar esta Arca da Aliança do campo de batalha para Jerusalém, esta Arca ficou parada na casa de Obed-Edom por três meses e o Senhor abençoou toda a família. Por Arca da Aliança, queremos dizer uma arca de madeira toda coberta com ouro que continha as duas tábuas de pedra da lei. Foi um presente de Deus para seu povo Israel.

Bem o evangelista apresenta Maria como a arca da nova aliança: também ela, como a arca da aliança, ficará três meses na casa de Isabel e a sua presença será uma bênção. Porque Maria não contém em si as tábuas da lei, mas uma pessoa, Jesus, não um dom para um povo, mas para toda a humanidade. Mas vejamos o que o evangelista nos escreve, é o primeiro capítulo dos versículos 39 em diante, é imediatamente após a anunciação. 

Lucas 1,39-40:** «Naqueles dias, Maria levantou-se e foi apressadamente à região montanhosa, a uma cidade de Judá. Ela entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel.»

O Evangelho diz-nos que Maria «foi depressa». Quando você tem o Senhor dentro de você, a autenticidade desta presença se manifesta na vontade de se fazer um presente de amor aos outros. É surpreendente que Maria, tendo que ir para a Judéia, não percorra o mais sossegado vale do rio Jordão, mais longo, porém com mais segurança. No entanto, ela enfrenta a região montanhosa, que é a Samaria, e era perigoso frequentar esses lugares.

Mas o desejo de comunicar a VIDA aos outros é mais importante para Maria do que sua própria vida.

Estranhamente, o evangelista escreve, dizendo que Maria não saudou Zacarias, o dono da casa, o sacerdote. Zacarias é o homem do rito, é o homem do culto, que não acreditou na palavra do Senhor e, por isso, fica mudo, mas ela saúda Isabel. Há o encontro entre a virgem e a estéril, aquela que, contra todas as expectativas e aquela que, contra todas as esperanças, se abriram à vida. 

Lucas 1,41-44: «Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança saltou de alegria em seu ventre. Isabel ficou repleta de Espírito Santo e, com voz forte, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como me acontece que a mãe do eu Senhor venha a mim? Logo que ressoou aos meus ouvidos a tua saudação, a criança pulou de alegria no meu ventre”.»

A saudação não é uma mera formalidade, não se limita a desejar o bem, mas é isso que busca trazer, tornar realidade. O evangelista antecipa, na ação de Maria, o que mais tarde será a atividade de Jesus, batizando no Espírito Santo, fecundando, impregnando as pessoas com a mesma vida divina. Isabel, em sua reação, em sua exclamação, propicia que o evangelista exponha toda uma série de citações, de episódios do Antigo Testamento sobre as figuras das grandes heroínas do povo de Jael (cf. Jz 4) a Judite (Jt). Nas palavras proferidas por Isabel, encontramos a mesma expressão de quando Araúna/Areúna (2Sm 24,21), o dono da área onde posteriormente será colocada a arca da aliança, disse a Davi: “Por que, meu senhor, o rei vem ao seu servo?”. 

Lucas 1,45: «Bem-aventurada aquela que acreditou, porque se cumprirá o que lhe foi dito da parte do Senhor.»

E termina com a primeira bem-aventurança do evangelho: “Bem-aventurada aquela que acreditou”. Mas também é necessário ler contra a luz a declaração de Isabel, no sentido de perceber que Maria é abençoada porque ela acreditou, enquanto que o marido dela, Zacarias, não é bem-aventurado porque ele não acreditou no que o Senhor lhe havia proposto. No cumprimento do que o Senhor lhe disse, é necessária a colaboração plena e ativa da parte do ser humano para o cumprimento da palavra. E qual é o cumprimento do que o Senhor disse a Maria? Na Anunciação, o anjo disse: “Nada é impossível para Deus”.

Portanto, Maria carregando Jesus nela é a imagem de que nada é impossível para Deus.

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 3. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2019. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“Eu tenho claro o meu desígnio em relação a vós – oráculo do Senhor! É um desígnio de paz, não de sofrimento: eu vos darei futuro e esperança!” (Jeremias 29,11)

Salta aos olhos de todos nós a atitude de Maria de Nazaré! O evangelista narra a cena da visitação de Maria a sua prima Isabel, imediatamente depois da cena da anunciação do anjo Gabriel à mãe do Messias (Lc 1,26-38). O fato da encarnação, o fato de saber-se grávida do Salvador, move Maria, a faz sair de sua casa, realizar uma longa e perigosa viagem! Tudo isso para compartilhar sua felicidade, sua alegria com outra mulher! 

Essa é a grande mensagem do Evangelho deste último domingo do Advento:

“A presença de Jesus impulsiona imediatamente ao encontro, ao diálogo, a compartilhar a felicidade que se vive, a contagiar a alegria.” (José M. Castillo)

Não é por acaso que, nos relatos iniciais do evangelho segundo Lucas, temos a repetição de saudações e encontros (cf. Lc 1,28-29. 40-41. 44). Nós nos unimos a Jesus na medida em que nos unimos aos outros. Esse é o grande segredo do seguimento de Cristo! 

Maria impregna as pessoas que encontra com o Espírito Santo! Maria impregna as pessoas com sua , com sua confiança: “Bem-aventurada aquela que acreditou!” (Lc 1,45a). Maria ajuda a fazer acontecer aquilo que Deus quer realizar neste mundo: “... porque se cumprirá o que lhe foi dito da parte do Senhor” (Lc 1,45b). Ela une as pessoas, faz com que sintam a presença de Deus: “Como me acontece que a mãe do meu Senhor venha a mim?” (Lc 1,43). 

Aqui, está uma lição que todos devemos aprender, especialmente nesses tempos de divisão e polarização de opiniões, ideias e escolhas pessoais:

“Tudo o que é confronto e divisão entre os humanos, isso não vem de Deus. Nem nos leva a Deus. O que nos confronta uns com os outros também nos confronta com Deus, com Jesus, com a humanidade.” (José M. Castillo)

Maria não fica “esperando” o nascimento, a vinda do Messias, ela vai adiante! Ela age para que essa vinda comece a se fazer sentida na vida das pessoas que encontra! E a primeira coisa que faz Jesus, quando vem a este mundo, é motivar que as pessoas se unam, melhorem as relações entre si, bem como, a estima e o elogio mútuo (bendizer = dizer o bem ao outro):

«Bendita (grego: eulogeméne) és tu entre as mulheres e bendito (grego: eulogeménos) é o fruto do teu ventre!» (Lc 1,42).

Esse é um exemplo para todos nós, nos dias atuais!

 
          Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Ó Verbo incarnado, ó Sabedoria eterna, ó Astro que surge, ó Rebento de Jessé, ó Chave de Davi e Cetro da casa de Israel, ó Esplendor do Pai, Luz das Nações e Glória do teu povo Israel, venha ao nosso cotidiano peregrinar em tua procura, ó altíssimo Deus. Maria Santíssima, Virgem obediente, Mãe tua e advogada nossa, ensina-nos o silencio grávido de mistério e rico de humildade, a caridade generosa que se se torna concretude e atenção diligente nas necessidades dos fracos, a esperança que não ilude, a alegria indizível e pura do coração, a virgindade incorruptível e a fecundidade copiosa da fé. Tu, Filho do Altíssimo, Deus Salvador, Rei dos reis da terra, Príncipe da paz e nossa Paz, que desce dos céus, para nós homens, como sacramento da nossa reconciliação e regeneração, guia os anciãos e jovens da Igreja e da nossa paróquia junto ao Papa, aos Bispos e aos nossos sacerdotes para serem sentinelas da manhã, testemunhas corajosas, incansáveis e fiéis do teu amor. Que todos os homens possam conhecer que tu, Jesus, és o alfa e o ômega, o centro da história e do cosmos, aquele que revela plenamente o homem a si mesmo: tua justiça, liberdade, solidariedade e verdade, e vida eterna. Amém.»

(GOBBIN, Marino. 4ª Domenica di Avvento. In: CILIA, Anthony O.Carm. Lectio Divina sui vangeli festivi: per l’anno liturgico C. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 48)

 Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci”– Videomelie e trascrizioni – IV Domenica di Avventgo – 18 dicembre 2009 – Internet: clique aqui (acesso em: 16/12/2021).

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