«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 6 de outubro de 2018

27º Domingo do Tempo Comum – Ano B – Homilia

Evangelho: Marcos 10,2-16

Naquele tempo:
2 Alguns fariseus se aproximaram de Jesus. Para pô-lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher.
3 Jesus perguntou: «O que Moisés vos ordenou?»
4 Os fariseus responderam: «Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la».
5 Jesus então disse: «Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento.
6 No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher.
7 Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne.
8 Assim, já não são dois, mas uma só carne.
9 Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!»
10 Em casa, os discípulos fizeram, novamente, perguntas sobre o mesmo assunto.
11 Jesus respondeu: «Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a primeira.
12 E se a mulher se divorciar de seu marido e casar com outro, cometerá adultério».
13 Depois disso, traziam crianças para que Jesus as tocasse. Mas os discípulos as repreendiam.
14 Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse: «Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas.
15 Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele».
16 Ele abraçava as crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos.

JOSÉ MARÍA CASTILLO
Teólogo espanhol

NÃO SE TRATA DE DIVÓRCIO, MAS DE DIREITOS

O tema do divórcio se colocava no judaísmo, nos tempos de Jesus, de forma muito distinta de como se coloca em nosso tempo. O direito de divorciar-se era exclusivamente da parte do homem. Os casos nos quais a mulher poderia requerer o divórcio eram muito escassos e de difícil aplicação.

E, para complicar mais as coisas, o rabino Hillel interpretava a lei de Moisés (Dt 24,1) de forma que qualquer coisa que desagradasse ao marido, dava-lhe o direito de repudiar a sua mulher. Além disso, o texto do Deuteronômio deve ser lido completo, uma vez que o texto inteiro (Dt 24,1-4) considera abominável que o marido da divorciada case-se novamente com ela, caso ela tenha tido um segundo marido. Era um problema de «pureza ritual», não de indissolubilidade matrimonial [cf.: Joel Marcus. Mark 8-16: a new translation with introduction and commentary. Yale University Press, 2009. The Anchor Yale Bible Commentaries 8].

A pergunta dos fariseus não era a pergunta pelo divórcio, tal como agora se coloca, mas a pergunta pela desigualdade de direitos entre o homem e a mulher. Isto é, os fariseus perguntavam se os privilégios do homem eram praticamente ilimitados, como defendia a escola teológica de Hillel. Pois bem, é isso que Jesus não tolera. A desigualdade de direitos está diretamente contra o Evangelho. Ademais, deve-se recordar que os cristãos, pelo menos até o século VIII, casaram-se como todos os cidadãos do Império [cf.: Josef Duss-von Werdt – psicólogo e teólogo suíço]. E quanto à indissolubilidade, o papa Gregório II, em 726, permite o divórcio, como consta em uma carta do próprio papa (cf.: Migne, PL 89, 525).

Jesus argumenta – em prol da igualdade de direitos – recorrendo ao projeto original de Deus: que o homem e a mulher não são dois, mas uma só carne, ou seja, se fundem em uma unidade que é tanto como dizer uma perfeita igualdade em dignidade e direitos, por mais que sejam patentes as diferenças. A diferença é um fato. A igualdade é um direito.

Portanto, deduzir deste evangelho aquilo que Jesus não pretendeu dizer, uma vez que nem lhe perguntaram, é manipular (por ignorância) o que disse Jesus.

JOSÉ ANTONIO PAGOLA
Biblista e teólogo espanhol

ACOLHER OS PEQUENOS

O episódio parece insignificante. No entanto, contém um fundo de grande importância para os seguidores de Jesus. Segundo o relato de Marcos, alguns procuram aproximar de Jesus umas crianças que estão por perto. A única coisa que pretendem é que aquele homem de Deus lhes possa tocar para comunicar-lhes algo da sua força e da sua vida. Ao que parece, era uma crença popular.

Os discípulos aborrecem-se e procuram impedir. Pretendem levantar um muro em torno de Jesus. Atribuem-se o poder de decidir quem pode chegar até Jesus e quem não pode. Interpõem-se entre ele e os mais pequenos, frágeis e necessitados daquela sociedade. Em vez de facilitar o seu acesso a Jesus, obstaculizam-no.

Esqueceram-se do gesto de Jesus que, uns dias antes, colocou no centro do grupo uma criança para que aprendessem bem que são os pequenos aqueles que hão de ser o centro de atenção e cuidado dos seus discípulos. Esqueceram-se de como o abraçou diante de todos, convidando-os a acolher em seu nome e com o seu mesmo carinho.

Jesus indigna-se. Aquele comportamento dos seus discípulos é intolerável. Aborrecido, dá-lhes duas ordens: «Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais». Quem os ensinou a atuar de uma forma tão contrária ao Seu Espírito? São, justamente, os pequenos, fracos e indefesos, os primeiros que hão de ter aberto o acesso a Jesus.

A razão é muito profunda pois obedece aos desígnios do Pai: «o Reino de Deus é dos que são como elas». No Reino de Deus e no grupo de Jesus, os que incomodam não são os pequenos, mas os grandes e poderosos, os que querem dominar e ser os primeiros.

O centro da sua comunidade não tem de estar ocupado por pessoas fortes e poderosas
que se impõem aos outros desde cima.
Na sua comunidade necessitam-se homens e mulheres que procurem
o último lugar para acolher, servir, abraçar e bendizer
os mais fracos e necessitados.

O Reino de Deus não se difunde com a imposição dos grandes, mas a partir do acolher e defender os pequenos. Onde estes se convertem no centro da atenção e cuidado, aí está chegando o Reino de Deus, a sociedade humana que quer o Pai.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fontes: José María Castillo. La religión de Jesús: comentarios al evangelio diario – ciclo B (2017-2018). Bilbao: Desclée De Brouwer, 2017, página 356; Sopelako San Pedro Apostol Parrokia – Sopelana – Bizkaia (Espanha) – J. A. Pagola – Ciclo B (Homilías) – Internet: clique aqui.

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