«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Sínodo sobre Juventude começa...

«Ou se entende os jovens agora ou
será tarde demais»

Entrevista com Thomas Leoncini
Jornalista e escritor italiano

Hernan Reyes Alcaide
Religión Digital
02-10-2018

Fazem falta respostas concretas para salvar os jovens da espiral 
da raiva e frustração em que estão absorvidos
THOMAS LEONCINI

Depois de ter publicado o livro-entrevista Deus é Jovem no ano passado, juntamente com o papa Francisco, o jornalista italiano Thomas Leoncini (La Spezia, 1985) participará este ano como auditor do Sínodo dos Bispos dedicado à juventude, que ocorre de 3 a 28 de outubro.

Nesse marco, apresentou em entrevista suas expectativas ante o sínodo, defendeu a ação do pontífice nos casos de abusos e advertiu sobre os perigos de que a humanidade caia em uma esfera de “pensamento único”.

Eis a entrevista:

O que significa para você essa convocatória do papa Francisco a um Sínodo sobre o tema da juventude?

Thomas Leoncini: Significa continuar confirmando um conceito-chave que emerge em nosso livro “Deus é jovem”. Utilizo as palavras do papa Francisco: “os jovens estão feitos da mesma massa de Deus”. O que para mim significa que uma sociedade que descarta os jovens, descarta também Deus. Os jovens serão os adultos e os velhos que governarão a sociedade dentro de poucos anos, porém parece que são poucos os que refletiram sobre isso, e os jovens são descartados como se fossem permanecer imaturos para sempre. E tudo isso é ridículo, mas também perigoso. E o papa Francisco entendeu a gravidade da situação dos jovens no mundo e dedicou um Sínodo especial para esse tema. Para analisar, discutir e fazer as coisas corretamente. Quantos outros líderes do mundo estão fazendo algo pelos jovens?

No Sínodo se verão cara a cara jovens de todo o mundo. Cada um com sua própria problemática, embora a globalização tenha tornado global muitos problemas locais, e vice-versa. Quais podem ser os pontos comuns entre eles?

Thomas Leoncini: Os pontos em comum entre os jovens do mundo são muitos, muito mais que as diferenças. Se só existisse a vontade de criar pontes entre os jovens a nível internacional, nos daríamos conta de como o mundo é sempre um grande país. E o Sínodo é uma grande ponte, e isso é uma benção em tempos de muros. O Sínodo também será útil para fazer com que todos entendam a grande relevância da globalização dos problemas, das tragédias, das incoerências e das incertezas dos jovens de todo mundo. Fazem falta respostas concretas para salvar os jovens da espiral de raiva e frustração pela qual estão absorvidos.

Por que creem que o Papa é tão popular entre esses jovens que chegam a cada semana ao Vaticano de diversos pontos do mundo?

Thomas Leoncini: Porque o papa Francisco não julga, não faz proselitismo: fala ao coração e à alma, inclusive antes que à mente. E sabe por que é credível tudo isso? Porque ele é o primeiro a testemunhar o que professa, diz o que pensa e pensa o que diz. E se for necessário sujar as mãos, vai lá e o faz. Em agosto se reuniu com 70 mil jovens no Circo Massimo de Roma, e eles fizeram perguntas e escutaram suas respostas. Havia tantos jovens ateus que veem nele um verdadeiro guia moral e espiritual. Falei com alguns deles, e me disseram: “é nosso líder, o único que nos entende profundamente, que nos dá esperança”. E tudo é uma autêntica benção para a própria Igreja.

Da falta de trabalho ao ciberbullying e os descartados... o Papa fala frequentemente dos problemas dos jovens. Crê que agora é necessário um documento pontifício que escreva esses temas de forma clara?

Thomas Leoncini: Creio que seria muito útil, porque nossa época líquida requer atualizações constantes. Hoje a eternidade dura cinco anos... ou se entende os jovens agora ou será tarde demais.

Pensa que o tema dos abusos terá um lugar predominante nas discussões dos padres sinodais depois desses meses em que se deram a conhecer tantos casos no mundo?

Thomas Leoncini: É um tema que requer muita atenção e deve envolver a todos, não é um problema somente da Igreja. Creio que a pedofilia é uma imensa vergonha da humanidade: abusando de uma criança não se mata apenas ela, mas o adulto que crescerá, provavelmente também a família que terá, e a corrente pode se estender. Sobre esse tema, tem me feito refletir um artigo recente, escrito para a revista “Vida Nova” pelo embaixador espanhol Francisco Vázquez, intitulado “Assumindo os riscos”, e aconselho a todos a sua leitura. O papa Francisco está fazendo muitos esforços para lutar contra a pedofilia e, obviamente, isso pode trazer inimigos.

Quais são os desafios da Igreja para que Deus não perca essa juventude que dá título ao seu livro?

Thomas Leoncini: Não posso falar em nome da Igreja. Posso dizer, sim, que o papa Francisco é o maior revolucionário do nosso tempo, e que sua revolução e provocações fazem muito bem dentro e fora da Igreja. Desperta a consciência de todos.

No Pré-Sínodo os jovens pediram uma Igreja mais transparente, autêntica e aberta. Pensa que essa é a última oportunidade da Igreja para falar aos jovens do mundo?

Thomas Leoncini: Não sei se será a última, mas estou seguro que o papa Francisco é uma oportunidade única, porque ele quer verdadeiramente ajudá-los a emergir, a saírem do seu rol de descartados da sociedade. Ele se concentra nos jovens sem preconceito. Você citou o Pré-Sínodo: recorda quando o Papa falou das tatuagens? Disse que não há que julgar os jovens pelas tatuagens e sobretudo não ter medo da diversidade. Esse é o caminho fecundo para o diálogo, para construir. E a construção que dura é sempre compartilhada.

Quais são os riscos para a Igreja se não escutar os jovens?

Thomas Leoncini: A Igreja do papa Francisco é a Igreja da escuta e do caminho. Como costuma dizer, “em saída”. Escuta todos os jovens, nenhum está excluído. E o conselho que dou aos jovens é o de se expressar sem medo. O Papa entende os problemas das pessoas e não os julga.

Você disse que o Papa não tem medo de sujar as mãos. Pensa que há muitos na Igreja a nível mundial que ainda têm esse medo?

Thomas Leoncini: Penso que na Igreja, como no mundo do trabalho ou na sociedade em geral, muitas vezes existe a tendência de termos alguém diferente de “nós”. Os jovens representam uma descontinuidade em relação aos adultos e, portanto, normalmente são vistos como “estranhos” que têm dificuldades para se integrarem e se comprometerem. O ato de maturidade dos adultos deve ser perceber e valorizar essa descontinuidade, porque na realidade é uma riqueza, não um defeito. Estou convencido de que a verdadeira beleza da humanidade está na diversidade dos seus membros e não na homogeneidade. Mais diferentes somos, mais humanos e democráticos somos. Mais iguais somos, e em troca seremos mais iguais às máquinas a serviço do pensamento único. E não há mal pior que esse.

Traduzido do espanhol por Wagner Fernandes de Azevedo. A versão original desta entrevista, está acessível aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 3 de outubro de 2018 – Internet: clique aqui.

Discurso do Papa Francisco na 1ª Congregação
Geral do Sínodo dos Bispos

«Que o Sínodo desperte os nossos corações!
O momento presente, mesmo da Igreja, aparece carregado de canseiras, problemas, pesos. Mas a fé diz-nos que é também o kairos
no qual o Senhor vem ao nosso encontro para nos amar e chamar à plenitude da vida.
O futuro não constitui uma ameaça que devemos temer,
mas é o tempo que o Senhor nos promete para podermos
experimentar a comunhão com Ele, com os irmãos e com toda a criação.»

A mensagem é do Papa Francisco, proferida durante a abertura da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos.

Eis o discurso.
Congregação de Abertura da XV Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos
que trata do tema da JUVENTUDE
Sala Sinodal - Vaticano - Quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Prezadas Beatitudes, Eminências, Excelências,
Amados irmãos e irmãs, Queridos jovens!

Ao entrar neste Auditório para falar dos jovens, já se sente a força da sua presença, que exala positividade e entusiasmo capazes de invadir e alegrar não só este Auditório, mas toda a Igreja e o mundo inteiro.

Por isso mesmo, não posso começar sem vos dizer obrigado! Obrigado a vós que estais presentes; obrigado a tantas pessoas, que ao longo dum caminho de preparação de dois anos – aqui na Igreja de Roma e em todas as Igrejas do mundo –, trabalharam com dedicação e paixão para nos fazer chegar a este momento. De coração, obrigado ao Cardeal Lorenzo Baldisseri, Secretário Geral do Sínodo, aos Presidentes Delegados, ao Cardeal Sérgio da Rocha, Relator Geral; ao Bispo D. Fabio Fabene, Subsecretário, aos Oficiais da Secretaria Geral e aos Assistentes; obrigado a todos vós, Padres sinodais, Auditores, Auditoras, peritos e consultores; aos Delegados Fraternos; aos tradutores, aos cantores, aos jornalistas. De coração, obrigado a todos pela vossa participação ativa e fecunda.

Um sentido obrigado merecem os dois Secretários Especiais, o padre jesuíta Giacomo Costa, e o padre salesiano Rossano Sala, que trabalharam com generoso empenho e abnegação.

Desejo também agradecer vivamente aos jovens que neste momento estão conectados conosco e a todos os jovens que fizeram ouvir, de muitos modos, a sua voz. Agradeço-lhes por terem querido apostar que vale a pena sentir-se parte da Igreja ou entrar em diálogo com ela; vale a pena ter a Igreja como mãe, como mestra, como casa, como família, capaz – não obstante as fraquezas humanas e as dificuldades – de fazer resplandecer e transmitir a mensagem sem ocaso de Cristo; vale a pena agarrar-se à barca da Igreja que, mesmo através das tempestades implacáveis do mundo, continua a oferecer a todos refúgio e hospitalidade; vale a pena colocar-se à escuta uns dos outros; vale a pena nadar contracorrente e aderir a valores altos, como a família, a fidelidade, o amor, a fé, o sacrifício, o serviço, a vida eterna.

A nossa responsabilidade aqui, no Sínodo, é não os desmentir; antes, é demonstrar que têm razão em apostar: verdadeiramente vale a pena, verdadeiramente não é tempo perdido!

E, de modo particular, agradeço a vós, queridos jovens presentes! O caminho de preparação para o Sínodo ensinou-nos que o universo juvenil é tão variado que não pode estar aqui totalmente representado, mas vós sois seguramente um sinal importante daquele. A vossa participação enche-nos de alegria e esperança.

O Sínodo que estamos vivendo é um momento de partilha. Assim, no início do percurso da Assembleia sinodal, a todos desejo convidar a falarem com coragem e parresia, isto é, aliando liberdade, verdade e caridade. Só o diálogo nos pode fazer crescer. Uma crítica honesta e transparente é construtiva e ajuda, ao contrário das bisbilhotices inúteis, das murmurações, das ilações ou dos preconceitos.

À coragem de falar deve corresponder a humildade de escutar. Como dizia aos jovens na Reunião Pré-sinodal, «se [alguém] falar de algo que não gosto, ainda o devo ouvir melhor; pois cada um tem o direito de ser ouvido, como cada um tem o direito de falar». Esta escuta aberta requer coragem para tomar a palavra e fazer-se voz de tantos jovens no mundo que não estão presentes. É esta escuta que abre espaço ao diálogo. O Sínodo deve ser um exercício de diálogo, antes de mais nada entre os que participam nele. E o primeiro fruto deste diálogo é cada um abrir-se à novidade, estar pronto a mudar a sua opinião face àquilo que ouviu dos outros. Isto é importante para o Sínodo. Muitos de vós já prepararam, antes de vir, a sua intervenção – e agradeço-vos por este trabalho –, mas convido a sentir-vos livres para considerar aquilo que preparastes como um projeto provisório aberto a eventuais acréscimos e alterações que o caminho sinodal possa sugerir a cada um. Sintamo-nos livres para aceitar e compreender os outros e, consequentemente, para mudar as nossas convicções e posições: é sinal de grande maturidade humana e espiritual.
PAPA FRANCISCO
Discursa na 1ª Congregação do Sínodo dos Bispos - Vaticano

O Sínodo é um exercício eclesial de discernimento. Franqueza no falar e abertura na escuta são fundamentais para que o Sínodo seja um processo de discernimento. O discernimento não é um slogan publicitário, não é uma técnica organizativa, nem uma moda deste pontificado, mas um procedimento interior que se enraíza num ato de fé. O discernimento é o método e, simultaneamente, o objetivo que nos propomos: baseia-se na convicção de que Deus atua na história do mundo, nos acontecimentos da vida, nas pessoas que encontro e me falam. Por isso, somos chamados a colocar-nos à escuta daquilo que nos sugere o Espírito, segundo modalidades e direções muitas vezes imprevisíveis. O discernimento precisa de espaços e tempos próprios. Por isso estabeleço que, durante os trabalhos tanto na assembleia plenária como nos grupos, depois de cada cinco intervenções se observe um tempo de silêncio – cerca de três minutos – para permitir que cada um preste atenção às ressonâncias que as coisas ouvidas suscitam no seu coração, para aprofundar e apreender o que mais o impressiona. Esta atenção à interioridade é a chave para se efetuar o percurso reconhecer, interpretar e escolher.

Sejamos sinal duma Igreja à escuta e em caminho. A atitude de escuta não se pode limitar às palavras que trocaremos entre nós nos trabalhos sinodais. O caminho de preparação para este momento destacou uma Igreja «com déficit de escuta» inclusive para com os jovens, que muitas vezes se sentem não-compreendidos pela Igreja na sua originalidade e, por conseguinte, não aceites pelo que são verdadeiramente e, às vezes, até rejeitados. Este Sínodo possui a ocasião, a tarefa e o dever de ser sinal da Igreja que se coloca verdadeiramente à escuta, que se deixa interpelar pelas solicitações daqueles que encontra, que não tem uma resposta pré-confeccionada sempre pronta. Uma Igreja que não escuta mostra-se fechada à novidade, fechada às surpresas de Deus, e não poderá ser credível, especialmente para os jovens, os quais, em vez de se aproximar, afastar-se-ão inevitavelmente.

Deixemos para trás preconceitos e estereótipos. Um primeiro passo rumo à escuta é libertar as nossas mentes e os nossos corações de preconceitos e estereótipos: quando pensamos já saber quem é o outro e o que quer, então teremos verdadeiramente dificuldade em escutá-lo seriamente. As relações entre as gerações são um terreno onde preconceitos e estereótipos pegam com facilidade proverbial, a ponto de muitas vezes nem nos darmos conta disso. Os jovens são tentados a considerar ultrapassados os adultos; os adultos são tentados a julgar os jovens inexperientes, a saber como são e sobretudo como deveriam ser e comportar-se. Tudo isto pode constituir um forte obstáculo ao diálogo e ao encontro entre as gerações. A maioria dos presentes não pertence à geração dos jovens, pelo que devemos claramente ter cuidado sobretudo com o risco de falar dos jovens a partir de categorias e esquemas mentais já superados. Se soubermos evitar este risco, então contribuiremos para tornar possível uma aliança entre gerações. Os adultos deveriam superar a tentação de subestimar as capacidades dos jovens e de os julgar negativamente. Uma vez li que a primeira menção deste fato remonta a 3000 a.C., tendo sido encontrada num vaso de barro da antiga Babilônia, onde está escrito que a juventude é imoral e que os jovens não são capazes de salvar a cultura do povo.

Por sua vez, os jovens deveriam superar a tentação de não prestar ouvidos aos adultos e considerar os idosos «coisa antiga, passada e chata», esquecendo-se que é insensato querer partir sempre do zero, como se a vida começasse apenas com cada um deles. Na realidade, apesar da sua fragilidade física, os idosos permanecem sempre a memória da nossa humanidade, as raízes da nossa sociedade, o «pulso» da nossa civilização. Desprezá-los, abandoná-los, fechá-los em reservas isoladas ou então ignorá-los é índice de cedência à mentalidade do mundo que está a devorar as nossas casas a partir de dentro. Negligenciar o tesouro de experiências que cada geração herda e transmite à outra é um ato de autodestruição.
SALA SINODAL
Congregação de Abertura da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, tema:
"Os jovens, a fé e o discernimento vocacional"

Por conseguinte, é preciso, por um lado, superar decididamente o flagelo do clericalismo. De fato, a escuta e o abandono dos estereótipos são também um forte antídoto contra o risco do clericalismo, ao qual uma assembleia como esta, independentemente das boas intenções de cada um de nós, está inevitavelmente exposta. O clericalismo nasce duma visão elitista e excludente da vocação, que interpreta o ministério recebido mais como um poder a ser exercido do que como um serviço gratuito e generoso a oferecer; e isto leva a julgar que se pertence a um grupo que possui todas as respostas e já não precisa de escutar e aprender mais nada. O clericalismo é uma perversão e é raiz de muitos males na Igreja: destes devemos pedir humildemente perdão e sobretudo criar as condições para que não se repitam.

Mas, por outro lado, é preciso curar o vírus da autossuficiência e das conclusões precipitadas de muitos jovens. Diz um provérbio egípcio: «Se não houver um idoso na tua casa, compra-o, porque ser-te-á de proveito». Repudiar e rejeitar tudo o que foi transmitido ao longo dos séculos leva apenas àquele perigoso extravio que está, infelizmente, a ameaçar a nossa humanidade; leva ao estado de desilusão que invadiu os corações de gerações inteiras. A acumulação das experiências humanas ao longo da história é o tesouro mais precioso e fiável que as gerações herdam uma da outra; sem nunca esquecer a revelação divina, que ilumina e dá sentido à história e à nossa existência.

Que o Sínodo desperte os nossos corações! O momento presente, mesmo da Igreja, aparece carregado de canseiras, problemas, pesos. Mas a fé diz-nos que é também o kairos no qual o Senhor vem ao nosso encontro para nos amar e chamar à plenitude da vida. O futuro não constitui uma ameaça que devemos temer, mas é o tempo que o Senhor nos promete para podermos experimentar a comunhão com Ele, com os irmãos e com toda a criação. Precisamos de reencontrar as razões da nossa esperança e sobretudo de as transmitir aos jovens, que estão sedentos de esperança. Como justamente afirmava o Concílio Vaticano II, «podemos legitimamente pensar que o destino futuro da humanidade está nas mãos daqueles que souberem dar às gerações vindouras razões de viver e de esperar» (Constituição pastoral Gaudium et spes, 31).

O encontro entre as gerações pode ser extremamente fecundo para gerar esperança. Assim no-lo ensina o profeta Joel naquela que considero – lembrei-o também aos jovens da Reunião Pré-sinodal – ser a profecia dos nossos tempos: «Os vossos anciãos terão sonhos e os vossos jovens terão visões» (3,1).

Não há necessidade de sofisticados raciocínios teológicos para demonstrar o nosso dever de ajudar o mundo atual a caminhar para o reino de Deus, sem falsas esperanças e sem ver apenas ruínas e problemas. De fato, São João XXIII, referindo-se a pessoas que avaliam os fatos sem objetividade suficiente nem prudente discernimento, afirmava: «Nos tempos atuais, não veem senão prevaricações e ruínas; vão repetindo que a nossa época, em comparação com as passadas, tem piorado; e comportam-se como quem nada aprendeu da história, que é também mestra da vida» (Discurso na abertura solene do Concílio Vaticano II, 11 de outubro de 1962).

Assim, não nos deixemos tentar pelas «profecias de desgraças», não gastemos energias a «contabilizar falências e recordar amarguras», mantenhamos o olhar fixo no bem que «muitas vezes não faz barulho, não é tema dos blogs nem chega às primeiras páginas» dos jornais, nem nos assustemos «diante das feridas da carne de Cristo, sempre infligidas pelo pecado e, não raramente, pelos filhos da Igreja» (cf. Discurso aos Bispos recentemente nomeados que participaram no curso promovido pelas Congregações para os Bispos e para as Igrejas Orientais, 13 de setembro de 2018).

Esforcemo-nos, pois, por procurar «frequentar o futuro» e por fazer sair deste Sínodo não só um documento – que geralmente é lido por poucos e criticado por muitos – mas sobretudo propósitos pastorais concretos, capazes de realizar a tarefa do próprio Sínodo, que é fazer germinar sonhos, suscitar profecias e visões, fazer florescer a esperança, estimular confiança, faixar feridas, entrançar relações, ressuscitar uma aurora de esperança, aprender um do outro, e criar um imaginário positivo que ilumine as mentes, aqueça os corações, restitua força às mãos e inspire aos jovens – a todos os jovens, sem excluir nenhum – a visão dum futuro repleto da alegria do Evangelho.

Veja, em italiano, a fala do papa Francisco:


 Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quinta-feira, 5 de outubro de 2018 – Internet: clique aqui.

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