«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Sínodo sobre os Jovens: um balanço

“Com os jovens rumo a uma sinodalidade missionária. Síntese de uma experiência eclesial”

Juan Bytton
Religión Digital
28-10-2018
Padre jesuíta, capelão da Pontifícia Universidade Católica do Peru,
participou do Sínodo dos Bispos sobre os Jovens, nomeado pelo Papa Francisco
como auditor no atual Sínodo dos Bispos, cujo tema foi a juventude

Fica claro que os jovens são também aqueles que fazem uma Igreja participativa e corresponsável. Tornar realidade esta metodologia nas Igrejas locais dependerá de quanto integramos os jovens no próprio processo
PAPA FRANCISCO
Sua presença foi essencial no decorrer dos trabalhos sinodais

Chega o final de um mês de trabalho sinodal. Um mês intenso, na forma e na profundidade. E esta é uma primeiríssima reflexão do que foi vivido. Já o Instrumentum Laboris expressava muito bem qual era o objetivo do Sínodo: “como o Senhor Jesus caminhou com os discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 13-35), também a Igreja está convidada a acompanhar todos os jovens, sem excluir ninguém, para a alegria do amor” (n. 1).

O tema que nos chamou era os jovens, e foi se descobrindo dia a dia, com a ajuda do Espírito, que:
* os jovens não são um tema, mas uma realidade;
* que não são um objeto, mas sujeito de uma vida eclesial ativa;
* que não são o futuro, mas o presente da experiência cristã.
Os jovens em aula [sala onde se realizavam os debates] e todo o trabalho pré-sinodal permitiram que a Assembleia trabalhasse com abertura e “parresia” [= sinceridade, franqueza].

O ícone bíblico que foi escolhido para embasar o documento final foi a passagem dos discípulos de Emaús:
* Caminhar com...,
* abrir os olhos...,
* eles voltaram sem demora.
Esses três momentos da relação entre Jesus e os discípulos foram os três momentos do Sínodo, do documento final e, sem dúvida, dos passos a seguir. Podemos dizer que o documento foi o próprio Sínodo, que procurou espelhar o que foi refletido à luz da realidade do mundo – e nela os jovens – e da fé em Jesus Cristo.

A experiência sinodal ajudou a sentir o espírito e a descobrir o que Deus nos pede hoje a partir da vida dos jovens. Foram e são os jovens que despertam a Igreja e lhe pedem modos renovados de ser e fazer. É por isso que a sinodalidade missionária começou a ocupar um espaço muito especial. Assim, fica claro que os jovens são também aqueles que fazem uma Igreja participativa e corresponsável. Tornar realidade esta metodologia nas Igrejas locais dependerá de quanto integramos os jovens no próprio processo.

A metodologia tem sido a do DISCERNIMENTO, que nos deixou surpreender pela novidade que cada um e cada uma trazia. A novidade que ia acontecendo com os trabalhos cotidianos na aula: a convivência diária, o trabalho em grupos, os intervalos, a vivência em cada local de alojamento. “Assim como todo crente, também a Igreja está sempre em discernimento”, nos diz o documento final.

Os temas discutidos e que aparecem no documento são os temas que tocam o coração dos jovens de hoje:
* o ambiente digital com suas vantagens e seus riscos,
* os migrantes,
* os pobres,
* o corpo,
* a sexualidade,
* a iniciação cristã,
* a política,
* a vida da Igreja local,
* a educação e
* o chamado à santidade, eixo central das conclusões.

A “arte do discernimento” nos ajudou e nos ajudará a responder fielmente ao “evangelho da liberdade” e seu viver na Igreja ao longo dos séculos. Neste processo ocupa um lugar central o compromisso fundamental com os pobres, pois, como observava um dos padres sinodais [= nome dado aos bispos que participam do Sínodo], não se trata de integrar os pobres na vida da Igreja, mas que a própria Igreja se integre na vida dos pobres.
Participação de jovens do mundo todo no Sínodo

Da mesma maneira, levanta-se a voz diante da urgência dos migrantes, muitos deles jovens, que faz com que os quatro verbos dirigidos pelo Papa Francisco como um apelo ao mundo inteiro, sejam agora verbos sinodais:
* ACOLHER,
* PROTEGER,
* PROMOVER e
* INTEGRAR.
O valor teológico e pastoral da escuta torna os jovens “um lugar teológico”.

Por outro lado, a presença do Papa foi crucial. Ele faltou a pouquíssimas sessões devido a compromissos já assumidos. O seu encontro diário e próximo com todos os participantes fez com que o próprio Sínodo tivesse aquele ar de fraternidade e sinceridade. Neste momento em que a Igreja está passando por não pequenas dificuldades, a trágica questão dos abusos sexuais não foi deixada de lado. A Igreja está comprometida com:
* uma reforma na formação dos seminários e
* com um crescimento saudável da integração da sexualidade e da vocação.

A fragilidade abre a possibilidade à conversão, e é isso que exige caminhar ao lado de Jesus. O Ressuscitado quer caminhar com os jovens, compartilhando sua vida inteira, como fez com os discípulos de Emaús. Demos mais um passo em direção ao dinamismo que uma Igreja em saída nos pede. É um novo Pentecostes porque reconhecemos a ação renovadora do Espírito. Falamos de uma fé feita diaconia [= serviço], porque somente o serviço tornará as palavras dignas de crédito.

O que, concretamente, resta a ser feito?

Na minha opinião, levar o Sínodo às Igrejas locais [= dioceses] de três modos diferentes:
1. Compartilhar o que foi vivido e fazer o documento final ser conhecido;
2. Convocar sínodos diocesanos com os jovens;
3. Retomar o caminho de uma Igreja sinodal [= participativa, que escuta, que integra].

Concluindo, falamos de um tema: ser e fazer Igreja com os jovens; de uma forma: a sinodalidade; e de um método: o discernimento.

Os jovens ajudaram a Igreja a avançar rumo a uma sinodalidade missionária renovada. Todos os membros da Igreja são necessários (1Cor 12). É o caminho da unidade através da diversidade, um mosaico de vidas que mostra a beleza de ser Igreja universal, que é e deve ser sempre a beleza do Evangelho, capaz de superar todos os obstáculos que impedem o ser humano de estar à altura de sua dignidade de filho e filha de Deus.

A íntegra do documento final, em italiano, pode ser lida
clicando aqui

Veja a seguir a carta do Sínodo aos Jovens:


 Traduzido do espanhol por André Langer. Para acessar a versão original deste artigo, clique aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Segunda-feira, 29 de outubro de 2018 – Internet: clique aqui.

Ao encerrar o Sínodo, o Papa Francisco destaca
“os três passos fundamentais para
o caminho da fé”

Gerard O’Connell
America
28-10-2018

Escutar, fazer-se próximo e testemunhar
PAPA FRANCISCO
Entra em procissão na Basílica de São Pedro para a Missa de Encerramento da
XV Assembleia Sinodal - 28 de outubro de 2018

Há “três passos fundamentais no caminho da fé: escutar, fazer-se próximo e testemunhar”, disse o Papa Francisco em sua homilia na missa de encerramento do Sínodo sobre os jovens na Basílica de São Pedro, nesse domingo, 28 de outubro.

Ele fez a sua desafiadora homilia sobre “o caminho da fé” ao concelebrar a missa com os 260 Padres sinodais de mais de 130 países. Também participaram da missa os 36 jovens de todos os continentes que participaram ativamente desse evento histórico e que entraram em procissão na basílica na frente dos padres, bispos, cardeais e do papa. Durante a missa, os jovens leram as duas primeiras leituras das Escrituras em inglês e em italiano, e depois leram as preces em hindi, espanhol, polonês, português e chinês.

Comentando a história do Evangelho de São Marcos sobre o cego e mendigo Bartimeu, que gritou a Jesus enquanto caminhava na estrada de Jericó a Jerusalém, o papa lembrou que, depois que Jesus parou, escutou o que ele tinha a dizer e lhe devolveu a visão, o homem tornou-se discípulo e caminhou com ele e os outros discípulos até a cidade santa.

Nós também caminhamos juntos, ‘fizemos sínodo’”, disse ele, antes de oferecer um mapa para as suas vidas futuras.
PAPA FRANCISCO
Procissão de entrada da Missa de Encerramento da
XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos

Primeiro passo: ESCUTAR

Apontando para como Jesus arrumou tempo para parar e ouvir o cego, Francisco disse que “o primeiro passo para ajudar o caminho da fé” é “escutar. “É o apostolado do ouvido: escutar, antes de falar”.

Ele lembrou que muitos daqueles que estavam com Jesus “repreenderam Bartimeu para que se calasse”, consideraram esse “necessitado” como um mero “incômodo no caminho, um imprevisto no programa pré-estabelecido. Preferiram os seus tempos aos do Mestre, as suas palavras à escuta dos outros: seguiam Jesus, mas tinham em mente os seus próprios projetos”.

Francisco advertiu os seguidores de Jesus de hoje que esse “é um risco para se proteger sempre” e lembrou-lhes que “para Jesus o grito de quem pede ajuda não é um incômodo que atrapalha o caminho, mas uma demanda vital”. Ele lembrou que Deus sempre nos ouve:Deus nunca se cansa; sempre se alegra quando o procuramos”.

Então, olhando para os jovens sentados à sua frente, Francisco lhes pediu: “Em nome de todos nós, adultos: desculpem-nos se, muitas vezes, não os escutamos, se, em vez de lhes abrir o coração, enchemos os seus ouvidos”.

E lhes assegurou: “Como Igreja de Jesus, desejamos nos colocar à sua escuta com amor, certos de duas coisas: que a vida de vocês é preciosa para Deus, porque Deus é jovem e ama os jovens; e que a vida de vocês é preciosa também para nós ou, melhor, necessária para seguir em frente”.

Segundo passo: FAZER-SE PRÓXIMO

Ele, então, explicou que “um segundo passo para acompanhar o caminho da fé é fazer-se próximo. Ele lembrou que, no relato do Evangelho, Jesus vai “pessoalmente” encontrar o mendigo cego, “não delega alguém” para fazer isso. “É assim que Deus faz, envolvendo-se em primeira pessoa com um amor de predileção por cada um. No seu modo de fazer, ele já passa a sua mensagem”, disse Francisco.

Francisco alertou que, “quando a fé se concentra puramente em formulações doutrinais, corre o risco de falar só à cabeça sem tocar o coração. E, quando se concentra apenas em fazer, corre o risco de se tornar moralismo e de se reduzir ao social”.

O papa jesuíta explicou que “a fé, por sua vez, é vida: é viver o amor de Deus que mudou a nossa existência”. Ele disse aos bispos e aos jovens: “Não podemos ser doutrinalistas ou ativistas. Somos chamados a levar adiante a obra de Deus à maneira de Deus, na proximidade: agarrados a Ele, em comunhão entre nós, próximos dos irmãos”. Ele enfatizou que a proximidade é “o segredo para transmitir o coração da fé”.

Além disso, afirmou, “fazer-se próximo é levar a novidade de Deus à vida do irmão, é o antídoto contra a tentação das receitas prontas”. Fazer-se próximo significa rejeitar “a tentação de se lavar as mãos”, disse; significa “imitar Jesus e, como ele, sujar as mãos”. Francisco lembrou: “Jesus se fez meu próximo: tudo começa a partir dali. E, quando, por amor a ele, também nós nos fazemos próximos, nos tornamos portadores de vida nova” e “testemunhas do amor que salva”.

Terceiro passo: TESTEMUNHAR

O Papa Francisco falou em seguida sobre o terceiro passo no caminho da fé: testemunhar. Retomando o relato do Evangelho, ele relembrou que Jesus enviou seus discípulos ao cego e mendigo “não com uma moedinha tranquilizadora ou para dispensar conselhos”, mas apenas para lhe dizer: “Coragem! Levanta-te. Ele te chama”. Jesus “cura o espírito e o corpo”, disse o papa. “Só Jesus chama, mudando a vida de quem O segue, pondo novamente de pé quem está no chão, levando a luz de Deus para as trevas da vida”.

O Papa Francisco lembrou aos bispos e jovens que, no mundo de hoje “tantos filhos, tantos jovens, como Bartimeu, buscam uma luz na vida. Buscam o amor verdadeiro. E, assim como Bartimeu, apesar da grande multidão, invoca apenas Jesus, assim também eles invocam vida, mas muitas vezes encontram apenas promessas falsas e poucos que realmente se interessam por eles”.

Ele disse a eles e à toda a comunidade de fiéis que “não é cristão esperar que os irmãos em busca batam nas nossas portas; devemos ir ao encontro deles, não levando a nós mesmos, mas sim a Jesus. Ele nos manda, como aqueles discípulos, a encorajar e a reerguer no seu nome. Ele nos manda para dizer a cada um: ‘Deus te pede que te deixes amar por ele’”.

O Papa Francisco observou: “Quantas vezes, em vez dessa libertadora mensagem de salvação, levamos a nós mesmos, as nossas próprias ‘receitas’, os nossos ‘rótulos’ na Igreja! Quantas vezes, em vez de assumir as palavras do Senhor, vendemos as nossas ideias como palavra d’Ele!”.

Ele acrescentou: “Quantas vezes as pessoas sentem mais o peso das nossas instituições do que a presença amiga de Jesus! Então, passamos por ONG, por uma organização paraestatal, não pela comunidade dos salvos que vivem a alegria do Senhor”.

Ele concluiu a sua homilia lembrando que o “caminho da fé” expressado nesses três passos fundamentais no Evangelho desse domingo termina de uma forma bela e surpreendente, quando Jesus diz: “Vai, tua fé te curou”.

Francisco chamou a atenção para o fato de que “Bartimeu não fez profissões de fé, não fez obra alguma; apenas pediu piedade”, e disse: “Sentir-se necessitado de salvação é o início da fé. É o caminho direto para encontrar Jesus”.

Ele explicou que “a fé que salvou Bartimeu não estava nas suas ideias claras sobre Deus, mas em buscá-lo, em querer encontrá-lo”. Francisco enfatizou que “a fé é questão de encontro, não de teoria. No encontro, Jesus passa; no encontro, palpita o coração da Igreja. Então, não as nossas pregações, mas o testemunho da nossa vida será eficaz”.

Ele concluiu agradecendo a todos que participaram do Sínodo pelo seu “testemunho” e por terem “trabalhado em comunhão e com franqueza, com o desejo de servir a Deus e ao seu povo”. Ele rezou para que o Senhor “abençoe os nossos passos, para que possamos escutar os jovens, fazermo-nos próximos e testemunhar-lhes a alegria da nossa vida: Jesus”.

No fim da missa, o secretário geral do Sínodo, cardeal Lorenzo Baldisseri, leu “Uma carta dos Padres sinodais aos jovens”.

Para ler esta carta, clique aqui

Mais tarde, no Ângelus, o Papa Francisco, depois de recordar que hoje é o 60º aniversário da eleição do Papa João XXIII, falou novamente sobre o Sínodo dos jovens.

Ele o descreveu como “uma boa colheita da uva”, que já está fermentando e “promete um bom vinho”. Depois, enfatizou que o “primeiro fruto” desse Sínodo deveria estar não no documento final, mas “no exemplo de um método que se tentou seguir, desde a fase preparatória”. Ele explicou que esse “estilo sinodal” não tem como objetivo principal a redação de um documento, que, mesmo assim, “é precioso e útil”. Ao contrário, disse, “mais do que o documento [final], é importante que se difunda”, em toda a Igreja, “um modo de ser e de trabalhar juntos, jovens e idosos, na escuta e no discernimento, para chegar a escolhas pastorais que respondem à realidade”.

O Papa Francisco deixou claro que deseja que o método de escutar, discernir e chegar a conclusões, que foi usado no Sínodo sobre os jovens, se estenda e se torne operativo em toda a Igreja Católica, construindo assim “uma Igreja sinodal”.

Traduzido do inglês por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Segunda-feira, 29 de outubro de 2018 – Internet: clique aqui.

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