Sínodo sobre os Jovens: um balanço
“Com os jovens rumo a uma sinodalidade missionária.
Síntese de uma experiência eclesial”
Juan Bytton
Religión
Digital
28-10-2018
Padre
jesuíta, capelão da Pontifícia Universidade Católica do Peru,
participou
do Sínodo dos Bispos sobre os Jovens, nomeado pelo Papa Francisco
como auditor
no atual Sínodo dos Bispos, cujo tema foi a juventude
Fica claro que os jovens são também
aqueles que fazem uma Igreja participativa e corresponsável. Tornar realidade
esta metodologia nas Igrejas locais dependerá de quanto integramos os jovens no
próprio processo
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PAPA FRANCISCO Sua presença foi essencial no decorrer dos trabalhos sinodais |
Chega
o final de um mês de trabalho sinodal. Um mês intenso, na forma e na
profundidade. E esta é uma primeiríssima reflexão do que foi vivido. Já o Instrumentum Laboris expressava muito
bem qual era o objetivo do Sínodo: “como
o Senhor Jesus caminhou com os discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 13-35), também a Igreja está convidada a acompanhar
todos os jovens, sem excluir ninguém, para a alegria do amor” (n. 1).
O
tema que nos chamou era os jovens, e foi se descobrindo dia a dia, com a ajuda
do Espírito, que:
* os jovens não são um tema, mas uma realidade;
* que não são um objeto, mas sujeito de uma vida eclesial ativa;
* que não são o futuro, mas o presente da experiência cristã.
Os
jovens em aula [sala onde se realizavam os debates] e todo o trabalho
pré-sinodal permitiram que a Assembleia trabalhasse com abertura e “parresia” [= sinceridade, franqueza].
O ícone bíblico que foi
escolhido para embasar o documento final foi a passagem dos discípulos de
Emaús:
* Caminhar com...,
* abrir os olhos...,
* eles voltaram sem demora.
Esses
três momentos da relação entre Jesus e os discípulos foram os três momentos do Sínodo, do
documento final e, sem dúvida, dos
passos a seguir. Podemos dizer que o documento foi o próprio Sínodo, que
procurou espelhar o que foi refletido à luz da realidade do mundo – e nela os
jovens – e da fé em Jesus Cristo.
A
experiência sinodal ajudou a sentir o espírito e a descobrir o que Deus nos
pede hoje a partir da vida dos jovens. Foram
e são os jovens que despertam a Igreja e lhe pedem modos renovados de ser e
fazer. É por isso que a sinodalidade missionária começou a ocupar um espaço
muito especial. Assim, fica claro que os
jovens são também aqueles que fazem uma Igreja participativa e corresponsável.
Tornar realidade esta metodologia nas Igrejas locais dependerá de quanto
integramos os jovens no próprio processo.
A
metodologia tem sido a do DISCERNIMENTO, que nos deixou surpreender pela
novidade que cada um e cada uma trazia. A
novidade que ia acontecendo com os trabalhos cotidianos na aula: a
convivência diária, o trabalho em grupos, os intervalos, a vivência em cada
local de alojamento. “Assim como todo
crente, também a Igreja está sempre em discernimento”, nos diz o documento
final.
Os temas discutidos e que aparecem no
documento são os temas que tocam o
coração dos jovens de hoje:
* o ambiente digital com suas
vantagens e seus riscos,
* os migrantes,
* os pobres,
* o corpo,
* a sexualidade,
* a iniciação cristã,
* a política,
* a vida da Igreja local,
* a educação e
* o chamado à santidade, eixo
central das conclusões.
A
“arte do discernimento” nos ajudou e nos ajudará a responder fielmente ao
“evangelho da liberdade” e seu viver na Igreja ao longo dos séculos. Neste processo ocupa um lugar central o
compromisso fundamental com os pobres, pois, como observava um dos padres
sinodais [= nome dado aos bispos que participam do Sínodo], não se trata de integrar os pobres na vida
da Igreja, mas que a própria Igreja se integre na vida dos pobres.
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Participação de jovens do mundo todo no Sínodo |
Da
mesma maneira, levanta-se a voz diante da urgência
dos migrantes, muitos deles jovens, que faz com que os quatro verbos
dirigidos pelo Papa Francisco como um apelo ao mundo inteiro, sejam agora verbos sinodais:
* ACOLHER,
* PROTEGER,
* PROMOVER e
* INTEGRAR.
O
valor teológico e pastoral da escuta torna os
jovens “um lugar teológico”.
Por
outro lado, a presença do Papa foi crucial. Ele faltou a pouquíssimas sessões
devido a compromissos já assumidos. O
seu encontro diário e próximo com todos os participantes fez com que o próprio
Sínodo tivesse aquele ar de fraternidade e sinceridade. Neste momento em
que a Igreja está passando por não pequenas dificuldades, a trágica questão dos abusos sexuais não foi deixada de lado. A
Igreja está comprometida com:
* uma reforma na formação dos seminários e
* com um crescimento saudável da integração da sexualidade e da vocação.
A
fragilidade abre a possibilidade à conversão, e é isso que exige caminhar ao
lado de Jesus. O Ressuscitado quer
caminhar com os jovens, compartilhando sua vida inteira, como fez com os
discípulos de Emaús. Demos mais um passo em direção ao dinamismo que uma Igreja em saída nos pede. É um novo
Pentecostes porque reconhecemos a ação renovadora do Espírito. Falamos de uma
fé feita diaconia [= serviço], porque somente
o serviço tornará as palavras dignas de crédito.
O
que, concretamente, resta a ser feito?
Na
minha opinião, levar o Sínodo às Igrejas
locais [= dioceses] de três modos
diferentes:
1.
Compartilhar o que foi vivido e fazer o documento final ser conhecido;
2.
Convocar sínodos diocesanos com os jovens;
3.
Retomar o caminho de uma Igreja sinodal [= participativa, que escuta, que
integra].
Concluindo,
falamos de um tema: ser e fazer Igreja com os jovens; de uma
forma: a sinodalidade; e de um método:
o discernimento.
Os
jovens ajudaram a Igreja a avançar rumo
a uma sinodalidade missionária renovada. Todos os membros da Igreja são
necessários (1Cor 12). É o caminho da unidade
através da diversidade, um mosaico de vidas que mostra a beleza de ser
Igreja universal, que é e deve ser sempre a beleza do Evangelho, capaz de
superar todos os obstáculos que impedem o ser humano de estar à altura de sua
dignidade de filho e filha de Deus.
A íntegra do documento final, em italiano, pode ser lida
clicando aqui
Veja a seguir a carta do Sínodo aos Jovens:
Fonte: Instituto Humanitas
Unisinos – Notícias – Segunda-feira, 29 de outubro de 2018 – Internet: clique aqui.
Ao encerrar o Sínodo, o Papa Francisco destaca
“os três passos fundamentais para
o caminho da fé”
Gerard
O’Connell
America
28-10-2018
Escutar, fazer-se próximo e
testemunhar
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PAPA FRANCISCO Entra em procissão na Basílica de São Pedro para a Missa de Encerramento da XV Assembleia Sinodal - 28 de outubro de 2018 |
Há
“três passos fundamentais no caminho da
fé: escutar, fazer-se próximo e testemunhar”, disse o Papa Francisco em sua
homilia na missa de encerramento do Sínodo sobre os jovens na Basílica de São
Pedro, nesse domingo, 28 de outubro.
Ele
fez a sua desafiadora homilia sobre “o caminho da fé” ao concelebrar a missa
com os 260 Padres sinodais de mais de
130 países. Também participaram da missa os 36 jovens de todos os continentes que participaram ativamente desse
evento histórico e que entraram em procissão na basílica na frente dos padres,
bispos, cardeais e do papa. Durante a missa, os jovens leram as duas
primeiras leituras das Escrituras em inglês e em italiano, e depois leram as
preces em hindi, espanhol, polonês, português e chinês.
Comentando
a história do Evangelho de São Marcos sobre o cego e mendigo Bartimeu, que
gritou a Jesus enquanto caminhava na estrada de Jericó a Jerusalém, o papa
lembrou que, depois que Jesus parou,
escutou o que ele tinha a dizer e lhe
devolveu a visão, o homem tornou-se
discípulo e caminhou com ele e os outros discípulos até a cidade santa.
“Nós também caminhamos juntos, ‘fizemos sínodo’”, disse ele, antes de
oferecer um mapa para as suas vidas futuras.
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PAPA FRANCISCO Procissão de entrada da Missa de Encerramento da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos |
Primeiro
passo: ESCUTAR
Apontando
para como Jesus arrumou tempo para parar e ouvir o cego, Francisco disse que “o primeiro passo para ajudar o caminho da
fé” é “escutar”. “É o apostolado do ouvido:
escutar, antes de falar”.
Ele
lembrou que muitos daqueles que estavam com Jesus “repreenderam Bartimeu para
que se calasse”, consideraram esse “necessitado” como um mero “incômodo no
caminho, um imprevisto no programa pré-estabelecido. Preferiram os seus tempos
aos do Mestre, as suas palavras à escuta dos outros: seguiam Jesus, mas tinham em mente os seus próprios projetos”.
Francisco
advertiu os seguidores de Jesus de hoje que esse “é um risco para se proteger
sempre” e lembrou-lhes que “para Jesus o
grito de quem pede ajuda não é um incômodo que atrapalha o caminho, mas uma
demanda vital”. Ele lembrou que Deus
sempre nos ouve: “Deus nunca se
cansa; sempre se alegra quando o procuramos”.
Então,
olhando para os jovens sentados à sua frente, Francisco lhes pediu: “Em nome de todos nós, adultos: desculpem-nos
se, muitas vezes, não os escutamos, se, em vez de lhes abrir o coração,
enchemos os seus ouvidos”.
E
lhes assegurou: “Como Igreja de Jesus, desejamos nos colocar à sua escuta com
amor, certos de duas coisas: que a vida
de vocês é preciosa para Deus, porque Deus é jovem e ama os jovens; e que a vida de vocês é preciosa também para nós
ou, melhor, necessária para seguir em
frente”.
Segundo
passo: FAZER-SE PRÓXIMO
Ele,
então, explicou que “um segundo passo
para acompanhar o caminho da fé é fazer-se próximo”.
Ele lembrou que, no relato do Evangelho, Jesus
vai “pessoalmente” encontrar o mendigo cego, “não delega alguém” para fazer
isso. “É assim que Deus faz,
envolvendo-se em primeira pessoa com um amor de predileção por cada um. No seu modo de fazer, ele já passa a sua
mensagem”, disse Francisco.
Francisco
alertou que, “quando a fé se concentra
puramente em formulações doutrinais, corre o risco de falar só à cabeça sem
tocar o coração. E, quando se concentra apenas em fazer, corre o risco de se
tornar moralismo e de se reduzir ao social”.
O
papa jesuíta explicou que “a fé, por sua
vez, é vida: é viver o amor de Deus que mudou a nossa existência”. Ele
disse aos bispos e aos jovens: “Não podemos ser doutrinalistas ou ativistas.
Somos chamados a levar adiante a obra de Deus à maneira de Deus, na
proximidade: agarrados a Ele, em comunhão entre nós, próximos dos irmãos”. Ele
enfatizou que a proximidade é “o segredo
para transmitir o coração da fé”.
Além
disso, afirmou, “fazer-se próximo é levar
a novidade de Deus à vida do irmão, é o antídoto contra a tentação das receitas
prontas”. Fazer-se próximo significa
rejeitar “a tentação de se lavar as mãos”, disse; significa “imitar Jesus e, como ele, sujar as mãos”.
Francisco lembrou: “Jesus se fez meu
próximo: tudo começa a partir dali. E, quando, por amor a ele, também nós nos
fazemos próximos, nos tornamos portadores de vida nova” e “testemunhas do amor que salva”.
Terceiro
passo: TESTEMUNHAR
O
Papa Francisco falou em seguida sobre o terceiro passo no caminho da fé: “testemunhar”.
Retomando o relato do Evangelho, ele relembrou que Jesus enviou seus discípulos ao cego e mendigo “não com uma moedinha
tranquilizadora ou para dispensar conselhos”, mas apenas para lhe dizer: “Coragem! Levanta-te. Ele te chama”.
Jesus “cura o espírito e o corpo”,
disse o papa. “Só Jesus chama, mudando a
vida de quem O segue, pondo novamente de pé quem está no chão, levando a luz de
Deus para as trevas da vida”.
O
Papa Francisco lembrou aos bispos e jovens que, no mundo de hoje “tantos filhos, tantos jovens, como
Bartimeu, buscam uma luz na vida. Buscam o amor verdadeiro. E, assim como
Bartimeu, apesar da grande multidão, invoca apenas Jesus, assim também eles invocam vida, mas muitas vezes
encontram apenas promessas falsas e poucos que realmente se interessam por
eles”.
Ele
disse a eles e à toda a comunidade de fiéis que “não é cristão esperar que os
irmãos em busca batam nas nossas portas; devemos
ir ao encontro deles, não levando a nós mesmos, mas sim a Jesus. Ele nos
manda, como aqueles discípulos, a encorajar e a reerguer no seu nome. Ele nos
manda para dizer a cada um: ‘Deus te
pede que te deixes amar por ele’”.
O
Papa Francisco observou: “Quantas vezes,
em vez dessa libertadora mensagem de salvação, levamos a nós mesmos, as nossas
próprias ‘receitas’, os nossos ‘rótulos’ na Igreja! Quantas vezes, em vez de
assumir as palavras do Senhor, vendemos as nossas ideias como palavra d’Ele!”.
Ele
acrescentou: “Quantas vezes as pessoas
sentem mais o peso das nossas instituições do que a presença amiga de Jesus!
Então, passamos por ONG, por uma organização paraestatal, não pela comunidade dos salvos que vivem a alegria
do Senhor”.
Ele
concluiu a sua homilia lembrando que o “caminho da fé” expressado nesses três
passos fundamentais no Evangelho desse domingo termina de uma forma bela e
surpreendente, quando Jesus diz: “Vai,
tua fé te curou”.
Francisco
chamou a atenção para o fato de que “Bartimeu não fez profissões de fé, não fez
obra alguma; apenas pediu piedade”, e disse: “Sentir-se necessitado de salvação é o início da fé. É o caminho direto
para encontrar Jesus”.
Ele
explicou que “a fé que salvou Bartimeu
não estava nas suas ideias claras sobre Deus, mas em buscá-lo, em querer
encontrá-lo”. Francisco enfatizou que “a
fé é questão de encontro, não de teoria. No encontro, Jesus passa;
no encontro, palpita o coração da Igreja. Então, não as nossas pregações, mas o testemunho da nossa vida será eficaz”.
Ele
concluiu agradecendo a todos que participaram do Sínodo pelo seu “testemunho” e por terem “trabalhado em comunhão e com franqueza, com
o desejo de servir a Deus e ao seu povo”. Ele rezou para que o Senhor “abençoe os nossos passos, para que possamos
escutar os jovens, fazermo-nos próximos e testemunhar-lhes a alegria da nossa
vida: Jesus”.
No
fim da missa, o secretário geral do Sínodo, cardeal Lorenzo Baldisseri, leu “Uma carta dos Padres sinodais aos jovens”.
Para ler esta carta, clique aqui
Mais
tarde, no Ângelus, o Papa Francisco, depois de recordar que hoje é o 60º aniversário da eleição do Papa João
XXIII, falou novamente sobre o Sínodo dos jovens.
Ele o descreveu como “uma
boa colheita da uva”, que já está fermentando e “promete um bom vinho”. Depois, enfatizou que o “primeiro fruto” desse Sínodo deveria
estar não no documento final, mas “no exemplo de um método que se tentou
seguir, desde a fase preparatória”. Ele explicou que esse “estilo sinodal”
não tem como objetivo principal a redação de um documento, que, mesmo assim, “é
precioso e útil”. Ao contrário, disse, “mais
do que o documento [final], é importante que se difunda”, em toda a Igreja, “um
modo de ser e de trabalhar juntos, jovens e idosos, na escuta e no
discernimento, para chegar a escolhas pastorais que respondem à realidade”.
O
Papa Francisco deixou claro que deseja que o método de escutar, discernir e chegar a conclusões, que foi usado no Sínodo sobre os jovens,
se estenda e se torne operativo em toda a Igreja Católica, construindo assim “uma Igreja sinodal”.
Traduzido do inglês por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão original deste artigo, clicando
aqui.
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