«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

JUVENTUDE – Urgente!

Em que a igreja precisa avançar em sua
relação com as juventudes?

Pe. Maicon Malacarne
Coordenador de pastoral na Diocese de Erexim (RS),
especialista em juventude no mundo contemporâneo e
membro da Comissão Nacional de Assessores da Pastoral da Juventude (CNBB)

Pensar a evangelização das juventudes significa pensar, também, um paradigma de Igreja. Precisamos ter coragem de conversar sobre isso

Talvez seja interessante iniciar tendo clareza do que significa “Igreja”. O papa Francisco vive uma eclesiologia e, a partir dela, propõe um caminho. Suas práticas e pregações, inclusive a convocação do Sínodo sobre “juventude, fé e discernimento vocacional”, estão alicerçadas num “modelo” de Igreja.  O Concílio Vaticano II cunhou a concepção “Igreja – Povo de Deus” (Lumen Gentium [LG] n. 9). Passou a tratar, assim, do que diz respeito a todas as pessoas. A Igreja está “dentro do mundo” e se faz, nele, sacramento, sinal do Reino de Deus (LG 13). Trata-se de todos os batizados, com seus dons, carismas, serviços e ministérios, estarem com os pés no chão da vida, abertos às realidades e iluminados pelo Espírito, numa mística profundamente pascal.

A Igreja, povo de Deus, tem desafios enormes na missão com as juventudes. Nas muitas reuniões comunitárias, nas assembleias, congressos e conversas afins, apresenta-se a enorme preocupação para com essa categoria social. Claro que pensar a evangelização das juventudes significa pensar, também, um paradigma de Igreja. Precisamos ter coragem de conversar sobre isso. Quando o Papa Francisco pede uma Igreja pobre e para os pobres ele se posiciona eclesiologicamente também com as juventudes que vivem as “pobrezas” em todos os sentidos. Não é por acaso, também, que na convocação do Sínodo ele diz: “também a Igreja deseja colocar-se na escuta da vossa voz, da vossa sensibilidade, da vossa fé; até mesmo das vossas dúvidas e das vossas críticas […]. Fazei ouvir o vosso grito, deixai-o ressoar nas comunidades e fazei-o chegar aos pastores” (carta do papa aos jovens na apresentação do Documento preparatório do Sínodo).

Penso, com isso, em 3 desafios urgentes que se apresentam e já encontram eco nesse Sínodo: 1) abertura e diálogo com o universo juvenil; 2) superação dos doutrinamentos; e 3) acreditar em processos de educação na fé.

1) Abertura e diálogo com o universo juvenil. Toda evangelização pressupõe diálogo. Correlaciona-se, assim, com a educação. A igreja dialógica e aberta tem o desafio de agir coletivamente no que se refere aos problemas comuns que tocam os jovens. Não há questões “intocáveis”. Temas como o sexo, o aborto, o feminismo, a homossexualidade precisam encontrar espaço para serem conversados. Não dá para negar que há muitos grupos eclesiais que conseguem dialogar com maturidade sobre esses temas, no entanto, na maioria das vezes ainda são tabus. “Fazei ouvir vosso grito” é trazer para o centro as questões do universo juvenil que ficam na “periferia do diálogo”. O diálogo exige sempre movimentos: escutar e falar. Falar sem “doutrinar”. E a fala precisa estar em profunda conexão com a vida. A práxis (prática refletida) é a referência do diálogo. Abrir-se e dialogar com as juventudes também significa participação dos jovens em todos os espaços eclesiais. Verifica-se, em muitos lugares, que os jovens são “mão de obra” na execução de momentos da vida comunitária – arrumar mesa, carregar símbolos, ajudar na festa – e, praticamente, não participam da tomada de decisões. Não se trata de dizer que os jovens não possam fazer isso, todo serviço amoroso é importante e necessário, o problema é “ficar” nesses setores e fechar outros. A evangelização das juventudes necessariamente deve ser com participação ativa no diálogo, na palavra e nas tomadas de decisões da Igreja. As comunidades eclesiais precisam abraçar essa tarefa evangélica e política que parte das realidades mais específicas da vida juvenil e trazem-nas para o centro da roda eclesial dando vez e voz aos sujeitos envolvidos.

2) Evitar doutrinamentos. Logicamente a Igreja como instituição milenar tem uma doutrina, uma Tradição que apresenta para nós um caminho. Não vejo problemas em dialogar sobre o caminho. A atitude de abertura e diálogo deve evitar qualquer tipo de “doutrinamento” no sentido bem específico. Antes de tudo vem a vida. “Enfiar” alguns sistemas definidos ou esquemas de ação na cabeça dos jovens é autoritarismo.  Toda forma autoritária de evangelizar mais divide do que congrega, formando “melhores e piores” ou “puros e impuros” conforme um código doutrinal de pureza. Há que se ter cuidado também com uma evangelização por “convencimento”. Convencer não é educativo. Ação e constante reflexão é que vão ajudar no crescimento e no acompanhamento da fé. Aqui, gostaria de trazer presente essa urgência de uma ação evangelizadora com a juventude: acompanhamento. O Papa, na oração do Sínodo, pede por adultos que tenham coragem de acompanhar: guias sábios. Não se trata de adultos que doutrinem, mas que acompanhem, que estejam próximos, que dialoguem com as alegrias e tristezas das juventudes. Percebe-se uma crescente escassez desse ministério ao acompanhamento a juventude. Certamente não é uma tarefa fácil quando se exige:
* um caminhar junto,
* uma abertura às questões mais humanas,
* uma atitude de potencializar os jovens, “escondendo-se” a si mesmo.
Adultos doutrinadores de jovens, talvez, hajam aos montes. 

3) Acreditar e potencializar processos de educação na fé. Aproximamos bastante a tarefa de evangelizar com a educação. Toda evangelização é uma ação educativa. Abrir-se, dialogar, evitar doutrinamentos, participar, acompanhar os sujeitos (além de outras) são tarefas de uma educação na fé. Penso que também se coloque para a Igreja o desafio de ter clareza desses processos de educação na fé que ajudam a pensar pontos de partida, de chegada e possibilidades de caminhos para os jovens. Cada jovem é um e único. Nisso também está a resposta a um projeto de vida, ao discernimento vocacional, como pede o Sínodo. Não é colocar tudo no “mesmo saco”, mas pensar e agir com cada jovem na sua especificidade, levando em conta a heterogeneidade desse universo. O caminho de educação na fé precisa ser sempre integral: olhar as juventudes no seu todo e nas suas relações (consigo, com o outro, com Deus, com o mundo, com a organização). Não há como crescer e amadurecer a fé sem pensar uma trajetória – não estamos prontos – “estamos sendo” diz Paulo Freire. Viver isso é mais do que uma técnica, é uma espiritualidade que brota do seguimento a Jesus e começa, às vezes, pelo campo afetivo, pela aproximação, pela amizade, pela festa e vai crescendo, amadurecendo e se tornando estilo e projeto de vida.
PADRE MAICON MALACARNE
Autor deste artigo

Para concluir, é importante dizer que esses (de tantos) desafios precisam estar alicerçados num elã, numa mística profundamente comprometida com o Reino de Deus. Para além da técnica que é muito importante, está na raiz de toda evangelização uma espiritualidade que vai se traduzindo:
* em amor às juventudes,
* simpatia às suas características,
* bem-querer,
* afeto e
* compromisso.
Nasce, assim, uma ação libertadora e que supera toda alienação. É a mística de “tocar as feridas” como o teólogo checo Tomáš Halík sugere para transformar todas as coisas.

Observação: eu, padre Telmo José Amaral de Figueiredo, realizei algumas correções ortográficas, gramaticais e informativas no presente artigo.

Fonte: Dom Total – Religião – Sexta-feira, 19 de outubro de 2018 – Internet: clique aqui.

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