O falso sobre o fake
Falando a verdade
sobre acreditar em mentiras
Marcus André Melo
Professor da
Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT
e da Universidade Yale
(EUA)
Fake
news produzem polarização, mas não alteram voto
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MARCUS ANDRÉ MELO |
Exposição às fake news
podem levar as pessoas a mudar o voto? Esta pergunta adquiriu grande
centralidade no debate público e a ciência política já produziu algumas
respostas.
Um grupo de 16 pesquisadores
de diversas áreas — da ciência política à economia comportamental— produziu uma
avaliação do estado da arte das notícias falsas. Em “The Science of Fake
News”, publicado na revista Science (2018), os autores concluem que não
existem evidências robustas sobre o efeito da exposição às fake news no
comportamento político (por exemplo, comparecimento às urnas ou como se
vota). A afirmação vale para fake news, não para campanhas políticas.
A análise mais rigorosa sobre
a influência das fake news nas eleições norte-americanas de 2016 — quando
a questão adquiriu centralidade na agenda pública— foi levada a cabo por Matthew
Gentzkow (Universidade Stanford) e colaboradores.
Os pesquisadores utilizaram
várias técnicas para estimar o efeito das fake news sobre o voto e
fizeram testes de robustez. É complexa a tarefa de identificar este efeito: uma
grande proporção de notícias falsas pró-Trump foi vista por eleitores que já
iriam votar nele.
Por outro lado, saber quantas
pessoas se depararam ou compartilharam as notícias não é a mesma coisa que
saber quantas efetivamente as leram ou foram de fato afetadas.
Embora considerem ainda
preliminares os achados da pesquisa, os autores concluíram que o efeito não
é estatisticamente significante: «É da ordem de centésimos de um ponto
percentual, o que é muito menor que a margem de erro da vitória de Trump nos
estados pivotais, dos quais o resultado dependeu».
Em «Falando a Verdade
Sobre Acreditar em Mentiras», o cientista político Adam Berinsky
(MIT) relata um experimento buscando resposta para a seguinte questão: Quando
as pessoas circulam fake news, estão revelando crenças arraigadas, ou trata-se
apenas de “respostas expressivas”, voltadas para demonstrar sua rejeição a
políticos e políticas, e não crença genuína em informação falsa?
Sua conclusão é que ao
receber e compartilhar fake news nas suas redes, elas estão refletindo
crenças arraigadas. Notícias falsas produzem polarização, mas não alteram o
voto de forma significativa. Esta conclusão sugere que as notícias só «pegam»
quando ancoradas em uma estrutura de crenças estabelecida.
As pessoas preferem
informação que confirme as atitudes pré-existentes (exposição seletiva), consideram informação
consistente com suas crenças como mais persuasiva que informação dissonante
(viés confirmatório), e são mais propensas a aceitar informação que lhes
agrade (viés de desejabilidade).
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