«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Até quando?

Fausto Macedo
Repórter Especial

Brumadinho, Mariana e tantas outras infelicidades são
uma rotina no nosso País.
A elas nos habituamos e nos embrutecemos
BRUMADINHO - MG
Moradores se reuniram na entrada da cidade em uma vigília na noite de terça-feira

Foto: Wilton Jr/Estadão

Caro leitor,

Na sexta, 25, com a lama ainda escorrendo sobre Brumadinho, o ex-procurador-geral Rodrigo Janot postou no Twitter sua indignação. «Até quando?»

Até por todo o sempre, prezado Janot, arrisco-me a uma previsão.

Ora, o mesmo assombro e o mesmo inconformismo que tiram o sono do combativo e corajoso ex-procurador-geral já nos haviam arrebatado quando Mariana viveu a sua tragédia, que é de todos nós, afinal, ou quando o Palace II do Sérgio Naya desmanchou assim do nada, no Rio, em 1998, o Bateau Mouche naufragou no Réveillon de 1988, o voo TAM 3054 que espatifou em Congonhas em 2007... para ficar em capítulos mais recentes, todos marcados pela impunidade ou, quando muito, uma e outra liçãozinha de araque.

Brumadinho, Mariana e tantas outras infelicidades são uma rotina no nosso País. A elas nos habituamos e nos embrutecemos.

O que dizer da desgraceira nossa de cada dia? Metrópoles mergulhadas no caos. Tudo é confuso, tudo é no improviso, na gambiarra.

O poder público? Ora, o poder público continua aquele velho carimbador de papel, ente burlesco, só criativo e desvelado quando mira o seu, o meu, o nosso bolso, via impostos, multas, taxações e afins. Ah, como ele é arguto nessas horas, caro Janot!

* Quantos pais de família executados à bala nas esquinas, à luz do dia?
* Quantos acidentes de proporções absurdas nas rodovias esburacadas e sem luz deixam rastros de mortos e feridos?
* Quantos pontilhões e vias desabam da noite para o dia e infernizam a vida do contribuinte desarmado?
* Quantos eletrocutados na via pública porque deram o azar de tocar no fio solto que algum inconsequente deixou ali chicoteando o nada?

Qual o tamanho do prejuízo de tantas calamidades que poderiam ter sido evitadas não fossem a omissão e a leniência?

Quem são os responsáveis? Que punição receberam?

«Que mais precisa acontecer?», prostra-se o juiz Jayme de Oliveira, ante Brumadinho.
Cerca de 100 indígenas que habitam a aldeia de Naô Xohã estão preocupados
com a contaminação do rio Paraopeba pelos rejeitos da barragem da Vale

Foto: Funai/Divulgação/via EFE

A lama seria «mero» crime ambiental? No entendimento da advogada Janaína Paschoal, com seus dois milhões de votos para mandato na Assembleia Legislativa de São Paulo, há uma outra definição. Em sua conta no Twitter, ela diz que «há um equívoco na abordagem».

«Será que ainda não perceberam que não se trata de crime ambiental? Estamos diante de homicídios

Nesta terça, 29, a Polícia prendeu cinco suspeitos pelo mar de lama de Brumadinho. Prisões temporárias. E daí?

Ouvi do José Nêumanne, um desses jornalistas que não se dobram, ponderação muito oportuna. Ele disse que o Brasil não tem tragédias naturais, mas o brasileiro cuida naturalmente de produzi-las. Tem razão, meu amigo.

Sim, há instituições neste país que nos dão algum alento. Poderia citar aqui a do Janot, o Ministério Público, que, dentro dos seus limites e atribuições, como órgão persecutório, tenta acuar malfeitores do colarinho-branco, políticos, empresários. Faz bem o que está ao seu alcance. Não basta.

Testemunhamos outras corporações empenhadas na busca por um Brasil menos avacalhado. A Polícia Federal, a Controladoria... Não basta.

A Justiça, ao seu ritmo e modo, vai tocando. Vive mergulhada na sua rotina de processos, que são milhões, e no emaranhado de leis que travam sanções imediatas.
Imagem feita por drone durante enterro registra várias covas abertas à espera de mais vítimas do desastre
Foto: Antonio Lacerda/EFE

O problema do Brasil é cultural:
* A bandalheira entranhada.
* Viceja a propina.
* A fiscalização que alivia.
* O gestor mandrião [= preguiçoso, indolente].

Imaginemos um bolo monumental sabor Brasil. Selecione os ingredientes que lhe dão consistência. Claro, não podem faltar:
* negligência,
* imprudência e
* imperícia, que formam a base sólida.
* Adicione pitadas generosas de corrupção,
* desfaçatez,
* dolo.
* A cereja, claro, é a «vantagem indevida», assim denominada.

O resultado já é do conhecimento de todos.

Não à toa, o Brasil ocupa o 105º lugar no ranking da Transparência Internacional – caiu nove posições no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) e está empatado com Argélia, Armênia, Costa do Marfim, Egito, El Salvador, Peru, Timor Leste e Zâmbia, informa o repórter Igor Moraes.

Até quando, caro Janot?

Fonte: O Estado de S. Paulo – Sustentabilidade – Super coluna – Quinta-feira, 31 de janeiro de 2019 – 13h19 (Horário de Verão – Brasília – DF) – Internet: clique aqui.

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