Papa: é um escândalo ir à igreja e odiar os outros
Jackson Erpen
Vatican News
02-01-2019
A
oração feita em silêncio, do fundo do coração, e que gera mudanças
na
vida, e não aquela que desperdiça palavras
PAPA FRANCISCO Audiência Geral da Quarta-feira, 2 de janeiro de 2019 - Sala Paulo VI - Vaticano |
Na primeira Audiência
Geral do ano de 2019, o Papa deu continuidade ao ciclo de catequeses
sobre o Pai Nosso, iniciado em 5 de dezembro, inspirando-se nesta
quarta-feira na passagem de Mateus 6,5-6.
O Evangelho de Mateus – explicou Francisco aos 7 mil presentes na Sala
Paulo VI – coloca o texto do “Pai Nosso” em um ponto estratégico, no centro
do Sermão da Montanha (Mt 6,9-13). Reunidos em volta de Jesus no alto da
colina, uma “assembleia heterogênea” formada pelos discípulos mais íntimos e
por uma grande multidão de rostos anônimos é a primeira a receber a entrega do
Pai Nosso.
O
Evangelho é revolucionário
Neste “longo ensinamento”
chamado “Sermão da Montanha”, de fato, Jesus condensa os aspectos fundamentais
de sua mensagem:
“Jesus coroa de felicidade
uma série de categorias de pessoas que em seu tempo – mas também no nosso! –
não eram muito consideradas. Bem-aventurados os pobres, os mansos, os
misericordiosos, os humildes de coração ... Esta é a revolução do Evangelho. Onde
está o Evangelho há uma revolução. O Evangelho não deixa quieto, nos
impulsiona, é revolucionário”.
“Todas as pessoas capazes
de amar, os pacíficos que até então ficaram à margem da história, são, ao
contrário, construtores do Reino de Deus”. É como se Jesus - explica o Papa - estivesse dizendo: “em frente,
vocês que trazem no coração o mistério de um Deus que revelou sua onipotência
no amor e no perdão!”
Desta porta de entrada, que inverte
os valores da história, brota a novidade do Evangelho:
“A lei não deve ser abolida, mas precisa de uma nova interpretação,
que a leve de volta ao seu significado original. Se uma pessoa tem um bom
coração, predisposto a amar, então compreende que cada palavra de Deus deve
ser encarnada até suas últimas consequências.
O amor não tem limites:
pode-se amar o próprio cônjuge, o próprio amigo e até mesmo
o próprio inimigo com uma perspectiva completamente nova”.
Este é “o grande segredo
que está na base de todo o Sermão da Montanha: sejam filhos de vosso Pai que
está nos céus”, disse o Pontífice,
chamando a atenção para o fato de que em um primeiro momento, estes capítulos
do Evangelho de Mateus podem parecer um discurso moral, evocar uma ética tão
exigente a ponto de parecer impraticável. Mas pelo contrário, “descobrimos que
são sobretudo um discurso teológico”:
“O cristão não é alguém
que se esforça para ser melhor do que os outros: ele sabe que é pecador como
todos. O cristão é simplesmente o homem que para diante da nova Sarça
Ardente, da revelação de um Deus que não traz o enigma de um nome
impronunciável, mas que pede a seus filhos que o invoquem com o nome de
"Pai", para deixar-se renovar por seu poder e de refletir um raio
de sua bondade por este mundo tão sedento de bem, tão à espera de boas notícias”.
Coerência
cristã
E Jesus – explica o Papa –
introduz o ensinamento da oração do “Pai Nosso” distanciando dois grupos de seu
tempo, começando pelos hipócritas”, que rezam nas praças e sinagogas para serem
vistos. “Há pessoas – disse Francisco - que são capazes de tecer orações
ateias, sem Deus: fazem isso para serem admiradas pelos homens”,
completando:
“E quantas vezes nós vemos o escândalo daquelas pessoas que vão à
igreja, estão lá todo o dia, ou vão todos os dias, e depois vivem odiando os
outros e falando mal das pessoas. Isto é um escândalo. Melhor não ir à
igreja. Viva assim como ateu. Mas se você vai à igreja, viva como filho,
como irmão e dá um verdadeiro testemunho. Não um contratestemunho”.
A oração cristã, pelo
contrário, não tem outro testemunho crível senão a própria consciência, onde se
entrelaça intensamente um diálogo contínuo com o Pai.
Rezar
com o coração
Jesus então, continuou
Francisco – “toma distância das orações dos pagãos” - que acreditavam ser
ouvidos pela força das palavras. O Papa recorda a cena do Monte Carmelo,
onde diferentemente dos sacerdotes de Baal que gritavam, dançavam, pediam
tantas coisas, é ao Profeta Elias, que fica calado, que o Senhor se revela:
“Os pagãos pensam que
falando, falando, falando se reza. Também eu penso aos tantos cristãos que
acreditam que rezar – desculpem-me – é falar a Deus como um papagaio. Não! Rezar
se faz do coração, de dentro”.
O Pai Nosso – reitera o Santo
Padre - “poderia ser também uma oração silenciosa: basta no fundo colocar-se
sob o olhar de Deus, recordar-se de seu amor de Pai, e isto é suficiente para
serem ouvidos”.
Deus
não precisa de sacrifícios para conquistar seu favor
“Que bonito pensar que o
nosso Deus não precisa de sacrifícios para conquistar o seu favor! Ele não
precisa de nada, nosso Deus: na oração pede somente que tenhamos aberto um
canal de comunicação com ele, para nos descobrirmos sempre seus amados filhos”,
disse o Papa ao concluir.
Após o resumo da catequese
nas diversas línguas, houve a apresentação de um grupo cubano de dança e
malabarismo.
Assista a um trecho da
catequese, clicando sobre a imagem:
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