«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Como inventar um novo planeta

Washington Novaes
Afinal a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou, em 19 páginas, seu documento preliminar sobre a conferência mundial Rio+20, a realizar-se em junho no Rio de Janeiro. O texto O Futuro que Queremos está repleto de boas intenções, mas quase vazio de meios concretos, específicos, para a sua realização - reforçando os temores de tantos estudiosos, muitos deles já mencionados neste espaço, de que a conferência venha a ser um malogro, ou apenas um espaço para palavras, sem consequências práticas.


O documento reafirma "a determinação de livrar a humanidade da fome", por meio da "erradicação de todas as formas de pobreza". E assume o compromisso de "lutar para que as sociedades sejam equitativas e inclusivas", de modo a atingirem "estabilidade econômica e crescimento que beneficie todos".


Também reitera o desejo de atingir, em 2015, os "Objetivos do Milênio", que incluem essa erradicação da pobreza, a universalização do saneamento básico (do qual estão excluídos 40% da humanidade), renda mínima para todos (hoje 40% vivem abaixo da "linha da pobreza"). E que os países industrializados cumpram o compromisso, assumido na Rio-92, de ampliar de 0,37% de seu produto interno bruto (PIB) para 0,70% a ajuda aos países em desenvolvimento, para que se atinjam os objetivos - atualmente a ajuda é de 0,30%, inferior à de 20 anos atrás, e pouquíssimos países cumpriram o que assumiram.


Complicadíssimo. O próprio documento reconhece que hoje nada menos que 1,4 bilhão de pessoas vivem na pobreza; que 1,6 bilhão são subnutridas, sob a ameaça de pandemias e epidemias "onipresentes"; que o "desenvolvimento insustentável" agravou o estresse na área dos recursos naturais.


Por isso tudo e muito mais, diz o documento, o desenvolvimento sustentável é um "objetivo distante" - e a "governança global" dessa sustentabilidade é exatamente um dos temas centrais da conferência, juntamente com a "economia verde". Ainda mais que a ONU pressupõe, para chegar a esses objetivos, que haja "participação da sociedade nas decisões", a qual, por sua vez, depende de "acesso à informação". Pressupõe até a inclusão, nas estratégias, do que está escrito na Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas.


Da mesma forma, exige eliminar barreiras comerciais e subsídios, eliminar o "gap tecnológico" entre países desenvolvidos e os demais, criar até 2015 indicadores para avaliar as transformações, tendo ainda em conta que crescimento do PIB dos países é um indicador considerado insuficiente, porque não leva em conta fatores sociais e ambientais. Sem esquecer que tudo isso deverá estar no âmbito de uma "governança ambiental internacional", que pode exigir até a criação de uma agência especializada da ONU.


E vai por aí o documento das Nações Unidas, enumerando objetivos como reduzir o desperdício de água no mundo, planejar e implantar "cidades sustentáveis", impedir a perda da biodiversidade e a acidificação dos oceanos, proteger estoques pesqueiros ameaçados, combater a desertificação na África, a deposição de lixo eletrônicos e de plásticos no mar. E, em meio a isso tudo, reduzir os subsídios para combustíveis fósseis, para proteger a agricultura dos países centrais, para sustentar a pesca predatória. Assim como duplicar a porcentagem de energias renováveis na matriz mundial.


Este último item remete ao relatório recente da Agência Internacional de Energia, lembrando que o aumento de 5% no consumo de energia primária em 2010 levou a novo "pico" nas emissões de dióxido de carbono, graças inclusive aos subsídios ao consumo de energias derivadas de fontes fósseis, que estão em US$ 400 bilhões anuais. Ainda assim, 1,3 bilhão de pessoas não têm acesso à energia elétrica. E os cenários traçados para o período que vai até 2035 chegam a prever um aumento de um terço na demanda de energia, mantida a previsão de aumento de 1,7 bilhão de pessoas na população mundial nesse período e crescimento médio anual de 3,5% do PIB - 90% do aumento estará fora dos países industrializados. Tudo isso exigirá investimentos de US$ 38 trilhões em 25 anos, principalmente em estruturas para transporte de energia. O consumo de combustíveis fósseis deverá baixar apenas dos 81% totais de hoje para 75%. As energias renováveis - principalmente hidrelétrica e eólica - responderão por 50% da capacidade que será adicionada.


Num quadro tão difícil, com as dificuldades da conjuntura econômica mundial, a pouca praticidade dos objetivos da convenção tem gerado críticas fortes. O renomado economista Jeffrey Sachs [foto ao lado], da Universidade de Colúmbia, tem dito que a conferência do Rio "deve servir para admitir duas décadas de fracasso no campo ambiental"; para reconhecer que "não há propostas para a crise"; que "o lobby da indústria de energia venceu Obama" (Estado, 18/11/2011). Suzana Kahn, que representa o Rio de Janeiro na conferência, admite que há "um grande risco de a Rio+20 ser um evento sem consequência nenhuma", já que "não tem nada prático que vá sair do encontro" (Estado, 21/12/2011).


Muito mais complexa ainda é a questão levantada pelo teólogo Leonardo Boff [foto ao lado], ao lembrar que sustentabilidade é tema muito abrangente: "É toda ação destinada a manter condições energéticas, informacionais, físico-químicas que sustentam todos os seres, especialmente a Terra viva, a comunidade de vida e a vida humana" - e ainda assegurando os direitos das gerações futuras. Meio ambiente, diz ele, não é "algo secundário e periférico". Que fará a Rio+20 para abrir caminhos que assegurem tudo isso?


Como haverá também, paralela à conferência do Rio, uma Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental, certamente se dirá que esse avanço da consciência social poderá abrir caminhos para transformações políticas que levem à superação das lógicas apenas financeiras no mundo - e ao desejado desenvolvimento sustentável. Difícil, mas não é impossível.


Fonte: O Estado de S. Paulo - Espaço Aberto - Sexta-feira, 20 de janeiro de 2012 - Pg. A2 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,como-inventar-um-novo-planeta-,824937,0.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.