«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

domingo, 29 de janeiro de 2012

A migração da violência

MAC MARGOLIS*
Há um novo recordista mundial em violência. Não é Cabul nem a Praça Tahrir. Segundo a ONU, a cidade mais sangrenta da atualidade chama-se San Pedro Sula [foto da catedral - acima], com 800 mil habitantes e localizada ao norte de Honduras. Sua taxa de homicídio: 159 por 100 mil habitantes, pior até que Ciudad Juárez, notória capital da guerra do tráfico mexicano.


Assaltos, sequestros, acertos de contas entre bandidos e assassinatos por encomenda. Hoje, Honduras sofre de tudo um pouco e já ostenta números de países em guerra aberta: 82 homicídios por 100 mil habitantes, outro recorde.


As raízes do surto do crime são complexas. Uma combinação de guerra de gangues, tráfico de drogas, sangrenta rivalidade política e uma crise de desgoverno que deixa as ruas à deriva. Mas não falta quem simplifique o flagelo como sintoma do desmando gringo.


A última a avançar nessa tese foi Dana Frank, professora de história da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, que, em artigo, debitou a explosão de violência na conta do presidente Barack Obama, suposto autor de um "desastre de política externa". Culpou também "grande parte da imprensa dos EUA" por espalhar a versão de que a carnificina hondurenha seria obra exclusiva do tráfico de drogas.


Segundo Dana, a perdição em Honduras tem origem no golpe de Estado contra o presidente Manuel Zelaya [foto ao lado], movimento que os EUA condenaram, mas depois mudaram de ideia, apoiando a eleição "fraudulenta" dos "golpistas".


Ela tem razão em apontar a tortuosa política internacional como uma agravante da situação hondurenha (sem mencionar o papelão do Brasil, cuja embaixada em Tegucigalpa Zelaya converteu em quartel de campanha). Mas ela - como muitos outros - erra ao contar a história pela metade.


Voltemos a 2009. Honduras estava em polvorosa. Zelaya, político conservador que se converteu à bandeira bolivariana de Hugo Chávez, convocou uma consulta pública para tentar a reeleição. Chocou-se com a Carta do país, que não só proíbe a reeleição como desqualifica quem tente se mobilizar para reprisar o mandato. Soa severo, mas em Honduras, onde a política virou jogo dos poderosos, o tabu era uma espécie de fio terra contra tiranos.


O Procurador da República entrou com um processo (de abuso de autoridade e traição à pátria) contra Zelaya e o Congresso e a Suprema Corte o acataram, votando para destituí-lo. Os juristas ainda debatem a manobra - não há impeachment em Honduras, mas a Constituição ampara a destituição do Executivo que abuse da lei. Erraram as Forças Armadas, quando prenderam Zelaya e o mandaram embora do país, ainda de pijama.


Na ausência de Zelaya, houve um mandato-tampão seguido por eleições gerais, em que Porfírio Lobo [foto ao lado], ex-aliado de Zelaya, elegeu-se por ampla maioria. Segundo os zelaystas, foi o início do fim. A quebra da ordem nacional teria sido a senha para revanches políticas, que desaguaram em violência.


Mas isso é a versão folhetim. O crime em Honduras segue um triste roteiro, da América do Sul para a América Central. Enquanto despenca a criminalidade na Colômbia e no Brasil, na América Central ela só aumenta. Cinco países do istmo amargam pioras na última década, com uma média de 43 homicídios a cada 100 mil - o dobro do México. Em Honduras, a violência mais do que dobrou entre 2005 e 2010, em pleno mandato de Zelaya.


Em Honduras, começou com um efeito bumerangue. Imigrantes hondurenhos caíram no crime pesado nas ruas de Los Angeles, foram presos e deportados, levando na bagagem toda a tecnologia das gangues americanas. Depois, veio o "efeito bexiga", quando a guerra do governo do mexicano Felipe Calderón contra o tráfico apertou os bolsões da droga, afugentando os bandidos para o sul.


Por fim, houve anos de disfunção governamental, enquanto zelaystas e porfiristas entraram em choque permanente, sem pacto nem perdão. A soma é um ambiente próspero para caos e crime, uma tragédia centro-americana em que os estrangeiros não passam de figurantes.


* MAC MARGOLIS É CORRESPONDENTE DA REVISTA NEWSWEEK NO BRASIL, COLUNISTA DO ESTADO, EDITA O SITE WWW.BRAZILINFOCUS.COM


Fonte: O Estado de S. Paulo - Internacional - Domingo, 29 de janeiro de 2012 - Pg. A17 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-migracao-da-violencia-,828535,0.htm

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