«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Cinco mitos sobre a Primavera Árabe

FOUAD AJAMI
THE WASHINGTON POST 

Há muitos comentários sobre as causas do levante, em parte equivocados

Quando, há um ano, começou a Primavera Árabe, o mundo ocidental ficou chocado. Até então, superficialmente, a impressão geral era que a liberdade tinha deixado os árabes para trás e eles pareciam resignados com a tirania. Mas assim que os levantes começaram foi impossível contê-los, instalou-se a desordem e brotaram as promessas nas ruas do mundo árabe. Desde então, as rebeliões provocaram rios de comentários e lugares comuns sobre a Primavera Árabe - em parte bastante equivocados. Vejamos o que havia realmente por trás das revoltas.


1. O discurso de Barack Obama no Cairo, em 2009, foi um dos elementos que inspiraram a Primavera Árabe.


Nada poderia estar mais longe da verdade do que isso. Na época em que as rebeliões eclodiram, o romance entre árabes e muçulmanos e Obama havia se dissipado há muito tempo. O presidente americano esteve no Cairo em junho de 2009 prometendo um novo enfoque americano para o mundo árabe-muçulmano. Mas os aguerridos liberais do mundo árabe (e do Irã) não se deixaram enganar. Embora Obama prometesse "um novo começo para as relações entre os EUA e os muçulmanos em todo o mundo, com base nos interesses e no respeito mútuos", os árabes perceberam que o novo líder estava muito à vontade com a situação. Obama procurou melhorar as relações dos Estados Unidos com a Síria e o Irã, e tratou de enterrar rapidamente a "diplomacia da liberdade" de George W. Bush.
Os árabes rapidamente perceberam que o cosmopolitismo de Obama - o pai queniano, os anos passados na Indonésia - servia de disfarce para um político preocupado com os problemas internos do seu país.


2. Estas são as revoluções do Facebook e do Twitter.


O Facebook e o Twitter ofereceram aos jovens dissidentes a possibilidade de comunicar entre si para atropelar as autocracias. Quando Wolf Blitzer da CNN perguntou a Wael Ghonim, o jovem executivo do Google que simbolizava a revolta da Praça Tahrir no Cairo, o que aconteceria após a queda de Hosni Mubarak, Ghonim respondeu: "Pergunte ao Facebook". Foram homens e mulheres comuns que depuseram o faraó. Estas rebeliões foram inflamadas pelos elementos tradicionais: as multidões que saíam das mesquitas após as orações da sexta-feira nas cidades sitiadas da Síria; o teste das vontades entre regimes brutais e os indivíduos dotados de coragem suficiente para desafiar o poder; e os jovens de Deraa, Homs e Hama que venceram a cultura do medo e contestaram o despotismo.
Mohammed Bouazizi, o jovem verdureiro tunisiano que se imolou em dezembro de 2010, não tinha uma página no Facebook.
Ele tinha motivos de sobra para estar indignado e desesperado. Deveríamos deixar de valorizar tanto a tecnologia, afinal, a penetração da internet no mundo árabe ainda é modesta.


3. O governo Obama sacrificou Mubarak.


O presidente egípcio foi o responsável por sua própria queda. Washington supôs que Mubarak domaria a tempestade. O Egito, um país paciente, deu a Mubarak 30 anos. Em troca, o governante brincou com o seu povo e o menosprezou. Ele se instalou no topo de um regime sem lei e nunca designou um sucessor legítimo. (Até a pessoa mais obtusa sabia que ele pretendia transmitir o poder ao filho favorito.) Neste drama egípcio, os políticos de Washington limitaram-se ao papel de meros espectadores.


4. A queda de Saddam Hussein no Iraque inspirou a Primavera Árabe.


Por ter apoiado a guerra do Iraque, gostaria de poder fazer esta ligação. Mas o Iraque, contrariamente às esperanças e às afirmações dos conservadores que defendiam a guerra, não é relevante para a Primavera Árabe.
Quando os protestos começaram no final de 2010, o Iraque já não despertava a atenção do mundo árabe.
O sangue era derramado nas ruas do país, havia sectarismo, e poucos os árabes consideravam o primeiro-ministro Nuri al-Maliki um importante líder de uma nova cultura política.
A Praça Tahrir inspirou outros levantes, pois o Egito sempre foi um pioneiro na vida política e cultural árabe.
Ocorre que o Iraque é um lugar peculiar. São pouquíssimos os árabes de outras partes do mundo, se é que há algum, que poderiam se identificar com o levante naquele país.


5. As rebeliões comprometerão ainda mais as perspectivas do processo de paz árabe-israelense.


É verdade que baderneiros invadiram a Embaixada de Israel no Cairo depois da queda de Mubarak. Mas o entendimento árabe-israelense nunca chegou a florescer no tempo das ditaduras.
Os líderes das rebeliões árabes talvez não sejam defensores fervorosos da paz com Israel, mas hoje já reconhecem que as ditaduras usaram o conflito com Israel como um álibi conveniente para seus fracassos políticos e econômicos. 


* FOUAD AJAMI [foto acima] É MEMBRO SÊNIOR DA HOOVER INSTITUTION DA UNIVERSIDADE DE STANFORD.


TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA.


Fonte: O Estado de S. Paulo - Internacional - Quinta-feira, 19 de janeiro de 2012 - Pg. A14 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,cinco-mitos-sobre--a-primavera-arabe-,824499,0.htm

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