«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 14 de janeiro de 2012

A reinvenção da crítica ao capital

Carla Rodrigues
Valor Econômico
13.01.2012

O inglês David Harvey [foto ao lado]frequenta as referências bibliográficas de quem discute os efeitos da pós-modernidade. Seu "Condição Pós-Moderna" [foto da capa - abaixo] foi apontado pelo "Independent" como um dos 50 trabalhos de não ficção mais influentes desde a Segunda Guerra. Publicado no Brasil em 1992, está na 21ª edição e é leitura obrigatória para a discussão sobre as consequências, na contemporaneidade, dos efeitos do capitalismo tardio na vida social. Com o lançamento de "O Enigma do Capital e as Crises do Capitalismo", Harvey pretende tornar-se referência indispensável no debate desta segunda década do século XXI: a crise financeira global e as suas perspectivas críticas.


As 238 páginas da tradução brasileira cujo original é de 2010 começam anunciando que se trata de um livro sobre fluxo de capital. O preâmbulo data de 2009, antes, portanto, da tragédia grega, do aprofundamento da crise europeia de 2011, e sobretudo antes, muito antes, de Ocupem Wall Street ter se tornando o símbolo de um movimento de resistência à força do tal fluxo de capital sobre o qual o autor se debruça.


O primeiro capítulo é uma apresentação didática sobre a crise americana, no qual os empréstimos conhecidos como subprime e a acalentada desregulamentação do mercado financeiro levaram os Estados Unidos a perder US$ 11 trilhões em ativos - números do Federal Reserve, o banco central americano, compilados por Harvey para sustentar seu argumento de que essa foi "a mãe de todas as crises", maior e mais profunda do que as registradas nos anos 1930, no pós-guerra, ou nos anos 1970 e 1980.


Depois de reunir números alarmantes e de explicar, como geógrafo, o que chamou de "geografia da crise", numa leitura sobre as ligações entre globalização e crise financeira, e de articular a crise do capital à degradação do ambiente, Harvey chega ao capítulo mais instigante do seu livro: "Que fazer? E quem vai fazê-lo?". Primeiro, porque as duas perguntas já supõem que haja algum tipo de resistência possível. Depois, porque as respostas de Harvey apontam para a reinvenção da crítica ao capital, crítica que, nos termos do filósofo Vladimir Safatle, havia entrado em falência.


Em seu livro "O Cinismo e a Falência da Crítica", lançado em 2008 também pela Boitempo, Safatle recorre aos sociólogos franceses Luc Boltanski e Ève Chiapello, que desde 1999 já haviam apontado para a coincidência entre a falência da crítica e a emergência de um tipo de pensamento que exaltava o fim das estruturas hierárquicas e das instituições - como igreja, família ou empresa -, o que teria aberto espaço para a apropriação, pelo capital, dos discursos e práticas que pretendiam criticá-lo.


Nesse processo, deu-se a precarização do trabalho em nome do fim da rigidez, a valorização da flexibilidade, sobretudo no quesito remuneração, e instituiu-se a terceirização como modelo de negócios em que as garantias trabalhistas foram trocadas pela promessa nunca cumprida de liberdade de escolha.


No longo processo de esvaziamento da crítica, o livro de Harvey oferece um alento. Não porque pretenda responder a essas perguntas incômodas, como o que fazer e quem fará, mas por partir do pressuposto de que a crise é incontornável se não houver a possibilidade de enunciar as duas questões que dão título ao último capítulo de "O Enigma do Capital". Quando pergunta se o capitalismo será capaz de sobreviver ao trauma da crise, Harvey responde com um sonoro "sim", mas ao mesmo tempo se afasta de qualquer ilusão ingênua ao reconhecer que o momento é de inflexão na história do capitalismo e propor que "o questionamento a respeito do futuro do próprio capitalismo como um sistema social adequado deve, portanto, estar na vanguarda do debate atual".


O autor admite, no entanto, que se há uma reinvenção da crítica essa ainda é muito incipiente. "A existência de rachaduras no edifício ideológico não significa que está definitivamente quebrado", reconhece. A partir daí, entram em cena diversos exemplos de movimentos anticapitalistas, cujo único traço em comum seria a ausência de unidade em termos de objetivo estratégia ou tática.


"O problema central é que, no total, não há movimento anticapitalista suficientemente unificado e decidido capaz de desafiar de modo adequado a reprodução da classe capitalista e a perpetuação de seu poder no cenário mundial", atesta Harvey. 


Quando escreve essas e outras constatações que seguem a mesma linha, o autor não parece pretender abrir mão da crítica, mas, ao contrário, reanimá-la. "Há uma vaga noção de que outro mundo é possível", dizia ele no fim de 2009.


Em epílogo assinado em janeiro de 2011, ele já dá sinais mais otimistas, quando conclui o livro afirmando que uma alternativa terá que ser encontrada. Mais peremptório, menos cauteloso, mais afirmativo, menos cético, Harvey toma para si a tarefa de crítica, quando diz: "A tarefa da transição está conosco". Ocupem Wall Street se torna, assim, uma referência obrigatória em qualquer retrospectiva de 2011, que termina mostrando que Harvey está certo e há muito trabalho a fazer.


O livro

Título: O Enigma do Capital e as Crises do Capitalismo
Autor: David Harvey
Tradução: João Alexandre Peschanski
Editora: Boitempo
Páginas: 240
Preço: R$ 39,00

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Sexta-feira, 13 de janeiro de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/505696-areinvencaodacriticaaocapital

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.