«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O BRILHO DE SÃO PAULO ESTÁ SE APAGANDO

Ruth Alexandre de Paulo Mantoan
   O titulo parece inadequado para a festa dos 458 anos da maior cidade do país, fundada pelos  padres jesuítas. A velha mídia vai passar o dia mostrando pontos turísticos, falando de shows, lazer, destacando a gastronomia da cidade. Copa São Paulo e blá, blá, blá.  Luzes no Ibirapuera, samba no mercadão. Missa...


Eu estou deprimida, vendo os fogos no mercadão, só consigo lembrar das bombas de gás atiradas sobre os dependentes químicos da cracolândia [foto acima] por Alckmin e Kassab [foto abaixo]. O  incêndio da Favela Moinho. Aliás alguém já contabilizou quantos incêndios ocorrem nas favelas que estão sob ameaça de reintegração nesta cidade? 


Alguma coisa acontece no coração do Caetano Veloso quando ele cruza a Av. São João com a Av. Ipiranga. No meu fígado também. Existe ali uma amostra importante do número de prédios abandonados, reservados por especuladores para o melhor momento para ganhar mais dinheiro.  Se famílias sem-teto ocupam a justiça/prefeitura apóiam o especulador e colocam os pobres com seus filhos nas ruas. Se você for passear no Troleibus do turismo pelos prédios históricos, passeio bem interessante,  não se iluda, isso não será destacado.


Em dia de Festa só o belo. Se alguma televisão mostrar o minhocão será imagem aérea. Lá embaixo  o número de moradores de rua aumentou. Lembra dos desgraçados da cracolândia? Depois da chuva de bombas de gás, se espalharam pela área central. Parte se juntou aos que já moravam embaixo daquele viaduto [ver foto mais abaixo].


“Terra da garoa”??? Terra das enchentes. Neste momento em que escrevo famílias da Zona Leste estão preparando seu café com água até o joelho dentro de casa. Não existe política pública de habitação de interesse social, pra valer.  Os trabalhadores que ganham até 3 salários mínimos se viram como podem para comer e morar. Continuam pendurados em  encostas, chafurdando nas várzeas, entulhados em cortiços ou nas ruas. O movimento de moradia estima que metade da população de São Paulo more de forma precária. Cerca de cinco milhões de pessoas. Cidade que não dorme, tem atividades 24 horas. Aqui milhares de famílias sonham em apenas dormir com seus filhos em uma casa decente.


O poetinha chamou de “Tumulo do Samba”, errou, nosso samba é de primeira. Mas é túmulo caiado. Por dentro está apodrecendo.


Serra/Kassab estraram nesta prefeitura há oito anos, em 2006.  Antes de largar São Paulo nas mãos do Kassab, Serra deu um passo memorável para tirar a população das ruas: fez uma rampa para impedir que alguém dormisse próximo à Av. Paulista, o cartão postal do TC (túmulo caiado). Ali  passa a massa cheirosa, não pega bem gente dormindo na rua.


Este ano tem eleições, podem se preparar que o túmulo vai receber algumas demãos de cal. O quadro social do que foi feito nos últimos 8 anos está aí para quem quiser ver. 


Tenho vergonha de uma cidade, referência gastronômica,  onde uma criança negra de apenas seis anos, é colocada para fora de uma pizzaria.


Tenho vergonha de morar numa cidade onde 

  • estudantes universitários são presos por fazerem luta política
  • numa cidade onde impera a especulação imobiliária
  • onde política para dependentes químicos é bomba de gás e cassetete
  • política habitacional é rampa na calçada.

Espero  que nos próximos aniversários eu encontre motivos para comemorar.        


Fonte: e-mail da autora. 25/01/2012. Acesse: www.falapovo.com. Siga a autora pelo twitter  @ruthalexandre

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