«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Pensar diferentemente. Por uma ecologia da civilização planetária

Entrevista com
Serge Latouche
Marino Niola
La Repubblica (Roma - Itália)
14.01.2012

"Um certo modelo de sociedade de consumo acabou. Agora, o único caminho para a abundância é a frugalidade, pois permite satisfazer todas as necessidades sem criar pobreza e infelicidade". 
É a tese provocadora de Serge Latouche [foto], professor emérito de ciências econônicas da Universidade de Paris-Sud, universalmente conhecido como o profeta do decrescimento feliz.


O paladino do novo pensamento crítico que não dá descontos nem para a direita nem para a esquerda será o protagonista do congresso internacional Pensar diferentemente. Por uma ecologia da civilização planetária, organizado pelo Polo de Ciências Humanas da Universidade Federico II, a ser realizado de 16 a 20 de janeiro.


A turnê italiana do economista herege coincide com o lançamento do seu novo livro Per un'abbondanza frugale. Malintesi e controversie sulla decrescita (Bollati Boringhieri). Uma feroz acusação contra a ilusão do desenvolvimento infinito. Contra a catástrofe produzida pela bulimia consumista.


Eis a entrevista.


O que é a abundância frugal? Dito assim, parece um oximoro*.
Eu falo de "abundância" no sentido atribuído à palavra pelo grande antropólogo norte-americano Marshall Sahlins no seu livro Economia da Idade da Pedra. Sahlins demonstra que a única sociedade da abundância da história humana foi a do paleolítico, porque então os homens tinham poucas necessidades e podiam satisfazer todas elas com apenas duas ou três horas de atividade por dia. O resto do tempo era dedicado ao jogo, à festa, ao estar juntos.


Quer dizer que não é o consumo que faz a abundância?
Na realidade, precisamente por ser uma sociedade de consumo, a nossa sociedade não pode ser uma sociedade de abundância. Para consumir, deve-se criar uma insatisfação permanente. E a publicidade serve justamente para nos deixar descontentes com o que temos para nos fazer desejar o que não temos. A sua missão é nos fazer sentir perenemente frustrados. Os grandes publicitários gostam de repetir que uma sociedade feliz não consome. Eu acredito que pode haver modelos diferentes. Por exemplo, eu não defendo a austeridade, mas sim a solidariedade, esse é o meu conceito-chave. Que também prevê o controle dos mercados e o crescimento do bem-estar.


Por que o senhor define Joseph Stiglitz como uma alma bonita?
Stiglitz ficou na concepção keynesiana que funcionava bem nos anos 1930, mas que hoje, também por causa da exploração excessiva dos recursos naturais, me parece impraticável. No pós-guerra o Ocidente passou por um aumento do bem-estar sem precedentes, baseado principalmente no petróleo barato. Mas ainda nos 1970 o crescimento já era fictício. Certamente, o PIB aumentava, mas graças à especulação imobiliária e financeira. Uma idade do ouro que não voltará mais.


É também o caso da Itália?
Certamente, o boom econômico italiano do pós-guerra se deve principalmente a personagens como Enrico Mattei, que conseguiu dar ao seu país o petróleo que não tinha. Foi um verdadeiro milagre. E os milagres não se repetem.


Os sacrifícios que os governos europeus, incluindo o italiano, estão pedindo aos cidadãos servirão para alguma coisa?
Infelizmente, os governos muitas vezes são incapazes de sair do velho software econômico. E então tentam a todo custo prolongar a sua agonia, mas isso – eles o sabem bem – nada mais faz do que criar deflação e recessão, agravando a situação até o momento em que explodirá.


O senhor define a sociedade ocidental como a mais heterônoma da história humana. Porém, comumente, pensa-se que ela é aquela que garante o máximo de autonomia democrática. Quem decide por nós?
De fato, estamos todos submetidos à mão invisível do mercado. O exemplo da Grécia é emblemático: o povo não tem o direito de decidir o seu destino, porque é o mercado financeiro que escolhe por ele. Mais do que autônoma, a nossa sociedade é individualista e egoísta, não criando sujeitos livres, mas sim consumidores coagidos.


Qual o papel do dom e da convivialidade na sociedade do decrescimento?
A alternativa ao paradigma da sociedade de consumo, baseado no crescimento ilimitado, é uma sociedade convivial, que não seja mais submissa à única lei do mercado. Que destrói na raiz o sentimento do vínculo social que está na base de toda sociedade. Como demonstrou o antropólogo Marcel Mauss [imagem ao lado], na origem da vida em comum está o espírito do dom, a trilogia inseparável do dar, receber, trocar. Devemos, portanto, recompor os fragmentos pós-modernos de socialidade usando como cola a gratuidade, o antiutilitarismo. Nisso, eu concordo com os expoentes italianos da economia da felicidade, como Luigino Bruni e Stefano Zamagni, que se referem à grande lição da economia civil napolitana do século XVIII de Antonio Genovesi.


O capitalismo é o último pugilista que ficou em pé no ringue da história?
Não sei se é ele é realmente o último pugilista, porque nunca sabe no que ele é capaz de se transformar. Há cenários ainda piores, como o ecofascismo dos neoconservadores norte-americanos. O que é certo é que estamos em uma reviravolta na história. Se antes se dizia "ou socialismo ou barbárie", hoje eu diria "ou barbárie ou decrescimento". É preciso um projeto ecossocialista. É tempo de que os homens de boa vontade se tornem objetores do crescimento.


Francis Fukuyama reafirmou recentemente que o o modelo liberal-capitalista continua sendo o horizonte único da história. Sem alternativas. O que o senhor pensa a respeito?
Que ele é um grande cara de pau. Antes, ele havia se equivocado totalmente sobre o fim da história e hoje repropõe a mesma história. A sua profecia foi esvaziada pela tragédia do 11 de setembro, que demonstrou que a história não estava em nada acabada. Fukuyama chama de fim da história aquele que é simplesmente o fim do modelo liberal capitalista.


Para aqueles que dizem que a abundância frugal é uma utopia, o senhor responde que é uma utopia concreta. Não é uma contradição em termos?
Não, porque, para mim, a utopia concreta não significa algo irrealizável, mas sim o sonho de uma realidade possível. De um novo contrato social. Abundância frugal em uma sociedade solidária. Cabe a nós querê-lo.


Tradução de Moisés Sbardelotto.


* Oximoro: figura de linguagem em que se combinam palavras de sentido oposto que parecem excluir-se mutuamente, mas que, no contexto, reforçam a expressão.


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Quarta-feira, 18 de janeiro de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/505842-pensar-diferentementeporumaecologiadacivilizacaoplanetaria

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