Fomos e somos espionados!
Autobiografia de Snowden detalha como
os Estados Unidos espionaram o mundo
Daniel Avelar
Livro descreve a
trajetória do garoto que passou a trabalhar
como freelancer para
a NSA e a CIA, até sua decisão de
vazar segredos de
Estado o forçar a viver no exílio
Exemplares da autobiografia de Edward Snowden expostos nos Estados Unidos. A foto na capa é a do autor |
Esqueça os equipamentos
mirabolantes do agente secreto James Bond. Hoje, a principal arma de
espionagem é o smartphone, o computador ou o tablet em que você pode estar
lendo este texto.
Parece obra de ficção, mas não é. Se
hoje sabemos que nossas comunicações digitais são monitoradas a todo instante,
isso se deve, em parte, ao esforço de Edward Snowden, ex-agente da NSA (Agência
de Segurança Nacional dos Estados Unidos) que veio a público em 2013 para
delatar um sistema de vigilância em massa que ele ajudou a montar.
Os detalhes do escândalo que mudou
para sempre a relação com a tecnologia ocupam as páginas de “Eterna Vigilância”, recém-publicada autobiografia
de Snowden.
“Nas profundezas de um túnel sob
uma plantação de abacaxis [...] eu me sentava diante de um terminal do
qual tinha acesso praticamente ilimitado às comunicações de quase todos os
homens, mulheres e crianças da Terra”, conta Snowden na obra, sobre o tempo
em que trabalhou em uma base secreta no Havaí.
O livro descreve a trajetória do
garoto nerd que cresceu na Carolina do Norte e passou a trabalhar como
freelancer para a NSA e a CIA, até sua decisão de vazar segredos de Estado o
forçar a viver no exílio.
Nascido em 1983, Snowden pertence à
geração moldada pela proliferação da internet. No livro, ele lamenta que o
anonimato on-line tenha sido substituído pela perda quase completa de
privacidade. É nesse abismo entre o sonho do que a internet poderia ter
sido e o pesadelo em que se tornou que reside a frustação de Snowden.
As informações
reveladas por ele mostram como o
governo
dos Estados Unidos, sob
a justificativa de combater seus inimigos
após o 11 de
Setembro, criou um vasto sistema de coleta de dados.
Snowden segue exilado na Rússia,
sem saber se e quando poderá voltar ao país de origem. Longe de reconhecer
qualquer interesse público que tenha motivado sua delação, os Estados Unido
continuam tratando-o como um traidor que colocou a segurança da nação em risco.
Lançado na terça-feira (17 de
setembro), “Eterna Vigilância” já provocou reações das autoridades
americanas. O Departamento de Justiça entrou, no mesmo dia, com uma ação
para reter os lucros que resultem da publicação — para o governo, Snowden
violou regras da CIA e da NSA, que exigem que seus ex-funcionários submetam
suas obras à revisão prévia.
O livro é particularmente
interessante para o público brasileiro: entre as revelações de Snowden
estava a de que o governo americano rastreava comunicações da então
presidente Dilma Rousseff. [Quem é ingênuo o
bastante, para pensar que Tio Sam – os Estados Unidos – não tenha nada a ver
com tudo o que aconteceu no Brasil nesses últimos anos?!]
A obra atravessa questões debatidas
hoje no país, dos riscos representados por autoridades que violam
prerrogativas legais à legitimidade das ações de hackers e jornalistas
que expõem essas violações em prol do interesse público.
Considere-se Snowden herói ou
traidor, “Eterna Vigilância” é fundamental para compreender o potencial
criativo e destrutivo das novas tecnologias de comunicação.
L I V R O
Título: Eterna vigilância:
como montei e desvendei o maior sistema de vigilância do mundo
Autor: Edward Snowden
Editora: Planeta
Publicação: Setembro – 2019
Páginas: 288
Preço de capa: R$ 44,90
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