26° Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia
Evangelho: Lucas 16,19-31
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José María
Castillo
Teólogo
católico espanhol
Uma parábola muito atual!
Seguramente, nunca a parábola do rico fanfarrão e Lázaro teve
tanta atualidade como neste momento. O «rico fanfarrão» é o um porcento
dos multimilionários que a cada ano acumulam mais riqueza. O «Lázaro» atual
são os oitenta porcento da população mundial que não conseguem chegar ao
final do mês com suas contas. Faz-se necessário repensar a atualidade terrível
que entranha o pecado por omissão.
Quando fazemos algo mal, a consciência não nos deixa
tranquilos. Porém, quando deixamos de fazer coisas que teríamos de fazer, a
consciência costuma ficar tranquila. E, no entanto, a omissão do dever não
cumprido é a causa de demasiados desastres e sofrimentos. É o caso do rico
fanfarrão que esta parábola apresenta.
O rico, na realidade, não fez mal algum ao mendigo Lázaro.
Simplesmente o deixou, não mais à porta de sua casa, mas em seu «portal», um
cômodo já dentro da mansão do rico. Pecado de omissão foi aquele do
sacerdote e do levita na parábola do bom samaritano (Lc 10,31-32). E por
pecados de omissão se pronunciará a sentença de perdição, no juízo final,
contra aqueles que não deram de comer ao faminto, nem de beber ao sedento, nem visitaram
o enfermo... (Mt 25,41-46).
Porém, nesta parábola, há algo muito mais forte. Trata-se da insensibilidade
diante do sofrimento. E é capital tomar consciência de que essa
insensibilidade é causada pela boa vida, a abundância e o desperdício que
desfrutava o rico. Aquilo que descreve a parábola é um fato. E que costuma
ser um fato tão frequente e tão patente, que não necessita muita explicação.
Exceto em casos muito raros, todo aquele que vive bem, no
desperdício e no consumismo sem freio, torna-se insensível diante da dor alheia,
as desgraças dos outros e o sofrimento que invade os maiores setores da
população mundial. Trata-se, desse modo, de um caso tão patente, que não há
necessidade de apresentar evidências do crime.
Por que se produzem o pecado de omissão e de insensibilidade
diante do sofrimento?
São os efeitos inevitáveis da abundância de dinheiro
concentrado em poucas mãos. Quem possui dinheiro em abundância, por isso
mesmo e só por isso, torna-se insensível perante a maioria das situações de
sofrimento. Sente-se tranquilo, ainda que não mova um só dedo em tais circunstâncias.
Há pessoas religiosas com dinheiro que até buscam os «confessores sob medida», que lhes
infundem piedades e devoções, porém deixam-lhes a consciência tranquila.
O dinheiro abundante dá bem-estar, dá segurança e tem um
poder irresistível para responder ao desejo de satisfação imediata. Enquanto
que, as promessas da religião não têm esse poder. Isso está mais do que
comprovado. E aí temos as consequências. Na crise atual, a distância entre o
que ganham os que mais ganham e a escassez dos que menos têm tornou-se maior
que antes da crise.
Como
se explica semelhantes barbárie? Temos de pensar sobre isso diante do Senhor e
dos milhões de moribundos famintos que há neste momento.
Traduzido do espanhol por Pe. Telmo José Amaral de
Figueiredo.
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