Uma revolução está acontecendo!!!
Papa alerta sobre “nova barbárie” na era da
inteligência artificial
Inés San Martín
«Crux»
28-09-2019
«Se o chamado
progresso tecnológico da humanidade se tornasse um inimigo do bem comum levaria
a uma infeliz regressão, a uma forma de barbárie ditada pela lei do mais forte»
PAPA FRANCISCO Discursa aos participantes no Seminário "O bem comum na era digital", promovido pelo Pontifício Conselho da Cultura Sala Clementina - Vaticano - 27 de setembro de 2019 |
Em declarações a executivos de
algumas das empresas de tecnologia mais importantes do mundo, o Papa
Francisco disse que a tecnologia precisa de
“princípios morais teóricos e práticos” e que os avanços em áreas como a
inteligência artificial não podem levar a uma nova “forma de barbárie”, em que
o bem comum é abandonado ao estado de direito dos mais fortes.
Falando aos participantes de todos
os continentes e de países como os Estados Unidos e a Rússia, Francisco
também alertou contra o uso da inteligência artificial para “fazer circular
opiniões tendenciosas e dados falsos, ‘envenenar’ os debates públicos e até
manipular as opiniões de milhões de pessoas, a ponto de pôr em perigo as
próprias instituições que garantem a pacífica convivência civil”.
“Se o chamado progresso tecnológico
da humanidade se tornasse um inimigo do bem comum levaria a uma infeliz
regressão, a uma forma de barbárie ditada pela lei do mais forte”, disse
Francisco.
As palavras de Francisco foram
ditas quando ele se dirigia aos participantes de uma reunião promovida pelo
Vaticano intitulada “o bem comum na era digital”. O seminário explorou
os dilemas éticos em torno do desenvolvimento tecnológico,
concentrando-se em três coisas próximas ao coração do pontífice:
a) o futuro
do trabalho,
b) a
construção da paz,
c) a guerra e
os novos horizontes para o bem comum.
Os participantes incluíram executivos
de gigantes do Vale do Silício, como Facebook, Mozilla, LinkedIn e Western
Digital. Também participaram prêmios Nobel, autoridades governamentais,
empresários da internet e eticistas católicos.
PAPA FRANCISCO saúda o cardeal italiano Gianfranco Ravasi, responsável pelo congresso |
De acordo com o chefe do Conselho
da Cultura do Vaticano, o cardeal italiano Gianfranco Ravasi, as
complexidades da pesquisa científica em andamento no campo da cultura digital
levaram seu escritório a unir forças com o Dicastério para a Promoção do
Desenvolvimento Humano Integral, liderado pelo cardeal ganês Peter
Turkson.
Como Ravasi observou quando
apresentou o grupo ao papa, as discussões foram dos sistemas digitais às
armas autônomas, da inteligência artificial ao blockchain, da robótica ao
trans-humanismo.
A “estrela-guia” das suas
reflexões, disse o cardeal a Francisco, foi o “valor
do bem comum e a proteção da dignidade da pessoa humana”.
Em suas observações iniciais,
Turkson disse que o seminário queria testemunhar “o rosto sinodal da Igreja”.
Sínodo, disse ele, significa “caminhar juntos”, e a esperança para a reunião
era de que, caminhando juntos, os participantes pudessem descobrir “algumas
diretrizes com as quais podemos ajudar o avanço tecnológico a estar a serviço
do desenvolvimento humano integral, a serviço de toda a pessoa, de cada pessoa
e de todas as pessoas”.
O congresso dos dias 26 a 28 de
setembro é a mais recente tentativa do Vaticano de ficar à frente da curva
em questões sociais e de tecnologia, reunindo pessoas de diferentes origens
para promover discussões francas e abertas, independentemente da fé ou da
posição sobre qualquer questão.
O congresso abordou questões como:
* a espionagem
cibernética,
* o discurso
de ódio online e
* o uso
indevido de dados privados,
questões que estão em ascensão e
que, até o momento, não estão sendo adequadamente abordadas pelo setor de
tecnologia da informação.
Francisco agradeceu aos
participantes, observando que os desenvolvimentos tecnológicos “notáveis” da
era moderna exigem discussões “abertas e concretas” para abordar a presença
cada vez mais significativa da inteligência artificial em todas as áreas da
humanidade.
O papa também disse que há um
“paralelismo fundamental” entre o “indiscutível benefício” que a humanidade
poderá tirar dos avanços tecnológicos e a maneira ética pela qual as novas
possibilidades são empregadas.
“As áreas-chave exploradas por
vocês certamente terão impactos imediatos e concretos na vida de milhões de
pessoas”, disse Francisco. “A convicção que compartilhamos é que a
humanidade se encontra diante de desafios sem precedentes e completamente
inéditos. Problemas novos requerem soluções novas.”
PAPA FRANCISCO chega à Sala Clementina, local de sua alocução aos participantes do Seminário "O bem comum na era digital" |
Ele também os exortou a ter uma
“fidelidade criativa” aos princípios e tradições, pensando sempre no bem comum:
“As problemáticas que vocês são chamados a analisar dizem respeito a toda a
humanidade e requerem soluções que possam ser estendidas a toda a humanidade”.
Como exemplo, ele apontou para a
indústria da robótica, que geralmente substitui homens e mulheres no local
de trabalho: por um lado, os robôs podem realizar tarefas árduas e
arriscadas, mas, por outro lado, eles podem se tornar ferramentas “meramente
eficientistas” que privam milhares de trabalhadores, colocando em risco sua
dignidade.
Francisco também falou sobre o uso
da inteligência artificial em debates sobre grandes questões sociais. Essa
prática, disse ele, pode possibilitar o acesso a informações confiáveis e
garantir análises corretas; por outro lado, pode ser usado para difundir
opiniões tendenciosas e dados falsos que envenenam os debates públicos e
manipulam a opinião de milhões de pessoas, “a ponto de pôr em perigo as
próprias instituições que garantem a pacífica convivência civil”.
Leia o artigo abaixo, ele lhe ajudará a compreender
o que é a REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 4.0,
que já está em curso.
Traduzido
do italiano por Moisés Sbardelotto.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos
– Notícias – Segunda-feira, 30 de setembro de 2019 – Internet: clique aqui.
Um guia para compreender a
quarta Revolução Industrial
Cesar Sanson*
Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte –
UFRN
KLAUS SCHWAB |
“As mudanças são tão profundas que,
na perspectiva da história da humanidade, nunca houve um momento tão
potencialmente promissor ou perigoso”, dessa forma Klaus Schwab
anuncia o nascedouro daquela que já é considerada a mais desconcertante
revolução produtiva em curso na história da humanidade.
Schwab é o autor
do livro A quarta revolução industrial, editado no Brasil pela
Edipro (2016). O livro foi escrito para o encontro de 2016 do Fórum Econômico
Mundial que teve como tema “Para dominar a Quarta Revolução Industrial”.
O autor é economista e um dos idealizadores do encontro que reúne anualmente
a meca do capitalismo mundial em Davos (Suíça).
A
4ª Revolução Industrial já está entre nós
O livro A quarta revolução
industrial é apresentado por seu autor como “porta de entrada” e “guia”
para a compreensão das implicações econômicas, política e social da quarta
Revolução Industrial. O autor assim define o seu objetivo com a obra:
“Minha intenção é oferecer uma cartilha sobre a quarta revolução industrial: O
que é? O que gerará? Que impactos causará a nós?”
Na opinião de Schawb já está em
curso a quarta Revolução Industrial. Segundo ele, alguns acadêmicos e
profissionais consideram que a inovações tecnológicas em curso - inteligência
artificial, robótica, internet das coisas, veículos autônomos, impressão em 3D,
nanotecnologia, biotecnologia, armazenamento de energia e computação quântica –
são somente mais um aspecto da terceira Revolução Industrial. Três razões, no
entanto, sustentam para o autor a convicção da ocorrência de uma quarta e
distinta revolução: a velocidade, profundidade e impacto
sistêmico que a conduz.
Revoluções produtivas desencadeiam
alterações profundas no modo de produzir e por extensão nas estruturas sociais
e econômicas. Mudam radicalmente as sociedades. Deixaram para trás um
modelo – uma forma e uma visão – de vida e de mundo que não retorna mais. Para
Schwab é isso que está acontecendo.
Ele cita as revoluções anteriores
para dar força ao seu argumento.
a) A Revolução
Agrícola (10 mil anos atrás) se fez possível pelas inovações tecnológicas
que permitiram domesticar a terra;
b) a 1ª
Revolução Industrial (1760 e 1840) foi possível graças à máquina a vapor e
ferrovias;
c) a 2ª
Revolução Industrial (final do séc. XIX) pelo advento da eletricidade e da
linha de montagem;
d) a 3ª Revolução
Industrial (década de 60) em função da revolução digital, do computador.
Agora, nessa virada de século,
iniciamos a 4ª Revolução Industrial e como nas revoluções anteriores, inovações
tecnológicas a impulsionam:
*
inteligência artificial,
* robótica,
* internet
das coisas,
* veículos
autônomos,
* impressão
em 3D,
*
nanotecnologia,
* biotecnologia,
*
armazenamento de energia.
“O que torna a quarta revolução industrial
fundamentalmente diferente das anteriores
é a fusão de tecnologias e a interação entre
os domínios físicos, digitais e biológicos”, afirma o
autor.
A premissa é de que a quarta revolução
irá mudar tudo. Segundo o autor, a velocidade das inovações e seus impactos
são gigantescos. Para dar números de sua grandiosidade cita o fato de que
na década de 1990, pouco tempo atrás, as três grandes de Detroit valiam no
mercado US$ 36 bilhões e empregavam 1,2 milhões de trabalhadores. Hoje, as
três maiores do Vale do Silício valem US$ 247 bilhões e empregam apenas 137 mil
trabalhadores.
Assistimos, diz ele, a disruptores
que evidenciam o caráter vertiginoso das mudanças: Airbnb, Uber, Alibaba,
Google (carro autônomo), WhatsApp são manifestações de algo recentíssimo. O
capitalismo está mudando: “O Uber, a maior empresa de táxis do
mundo, não possui sequer um veículo. O Facebook, o proprietário de mídia
mais popular do mundo, não cria nenhum conteúdo. Alibaba, o varejista
mais valioso, não possui estoques. E o Airbnb, o maior provedor de
hospedagem do mundo, não possui sequer um imóvel”, destaca Tom Goodwin citado
por pelo autor.
Schwab faz um alerta: “A questão
para todas as indústrias e empresas, sem exceção, não é mais ‘haverá ruptura em
minha empresa?’, mas ‘quando ocorrerá a ruptura, quanto irá demorar e como ela
afetará a mim e a minha organização?’”.
As
megatendências da 4ª Revolução Industrial
Quais são as tecnologias que
irão impulsionar a quarta Revolução Industrial? Segundo o autor, situam-se
em três categorias: física, digital e biológica e todas as
três estão inter-relacionadas.
a) Categoria física da
4ª revolução:
Na categoria física, as quatro
principais manifestações são:
* veículos
autônomos,
* impressão
em 3D,
* robótica
avançada e
* novos
materiais.
Veículos autônomos diz
respeito a carros, caminhões, aviões, barcos e drones que sem condutor
serão capazes de executar várias tarefas.
Impressão 3D: Consiste
na fabricação de um objeto por impressão, camada sobre camada, de um modelo ou
desenho digital em 3D. O processo é o oposto da fabricação substrativa, isto é,
a forma como os objetos foram construídos até agora: as camadas são removidas
de um bloco de material até que a forma desejada seja obtida. Por contraste, a
impressão em 3D começa com um material desarticulado e, em seguida, cria um
objeto em três dimensões por meio de modelo digital.
Robótica avançada: Superação
de tarefas rígidas e interação. Avanço de sensores que capacitam os robôs a
compreenderem melhor o seu ambiente e empenharem-se em tarefas variadas.
Novos materiais: Mais
leves, mais fortes, recicláveis e adaptáveis. Destacam-se aqui os nanomateriais
como o grafeno (200 vezes mais forte que o aço, milhões de vezes mais
fino que um cabelo humano e eficiente condutor de calor e eletricidade).
b) Categoria digital da
4ª revolução:
A categoria digital, diz respeito a
Internet das coisas – IdC – relação entre as coisas serviços e
pessoas através de plataformas digitais – aplicativos, a possibilidade de
rastreamento, monitoramento de produtos e também de pessoas.
c) Categoria biológica
da 4ª revolução:
Na categoria biológica, o autor
destaca as inovações no campo da biologia, particularmente na genética.
Cita os avanços gigantescos no sequenciamento genético. Destaca que o
projeto genoma levou dez anos para ser concluído a um custo de US$ 2,7 bilhões.
Hoje, um sequenciamento de genoma é feito em poucas horas e custa menos de US$
1 mil. O próximo passo, diz ele, é a biologia sintética capaz de
modificar organismos já existentes, alterando seus códigos genéticos possibilitando
a criação de organismos personalizados. Os cientistas esperam criar
micróbios que possam combater o câncer e outras doenças para as quais ainda não
temos cura (medicina de precisão). Outra área é a da engenharia genética,
a capacidade de interferir e modificar seres vivos (animais, plantas) e
adaptá-los a condições adversas. Situa-se aqui a possibilidade dos
xenotransplantes, a recriação de órgãos.
Os
pontos de inflexão. As coisas já estão acontecendo
Klaus Schwab destaca 21 pontos
de inflexão já em curso na sociedade mundial que manifestam o caráter
disruptivo da 4ª Revolução Industrial. Esses pontos estão ancorados numa pesquisa
realizada com 800 executivos de todo o mundo para avaliar as expectativas
com as mudanças. Os resultados se encontram no relatório “Mudança Profunda –
Pontos de Inflexão Tecnológicos e Impactos Sociais” publicado em setembro
de 2015 e apresentado no livro.
Destacamos aqui alguns pontos:
Tecnologias
implantáveis
O ponto de inflexão: o
primeiro telefone celular implantável e disponível comercialmente.
Até 2025: 82% dos entrevistados
esperam que este ponto de inflexão ocorra.
Do que se trata: dispositivos
implantados no corpo permitindo a comunicação, localização, monitoramento
(saúde).
A
visão como uma nova interface
O ponto de inflexão: 10% de
óculos de leitura conectados à internet.
Até 2025: 86% dos entrevistados
esperam que esse ponto de inflexão ocorra.
Do que se trata: Óculos,
lentes/fones de ouvido e dispositivo de rastreamento podem se tornar “inteligentes”
e levar os olhos e a visão a se tornarem a conexão com a internet e os
dispositivos conectados.
Tecnologia
vestível
O ponto de inflexão: 10% das
pessoas com roupas conectadas à internet.
Até 2025: 91% dos entrevistados
esperam que esse ponto de inflexão ocorra.
Do que se trata: As tecnologias
que se encontram nos celulares estar integrada em roupas e acessórios (ex.
baba eletrônica vestível – pais sendo substituído pelos sensores).
Armazenamento
de dados para todos
O ponto de inflexão: 90% das
pessoas com armazenamento de dados ilimitados e gratuito.
Até 2025: 91% dos entrevistados
esperam que esse ponto de inflexão ocorra.
Do que se trata: usuários terão
acesso a plataformas (nuvens) para armazenar os seus dados gratuitamente sem se
preocupar em “apagar” para liberar mais espaço.
A
internet das coisas e para as coisas
O ponto de inflexão: 1
trilhão de sensores conectados à internet.
Até 2025: 89% dos entrevistados
esperam que esse ponto de inflexão ocorra.
Do que se trata: Sensores
inteligentes para monitorar “tudo” conectado à internet – percepção do
ambiente de forma integral.
A
casa conectada
O ponto de inflexão: 50% do
tráfego da internet consumida nas casas e aparelhos dispositivos.
Até 2025: 71% dos entrevistados
esperam que esse ponto de inflexão ocorra.
Do que se trata: Controle da
energia, ventilação, ar-condicionado, áudio e vídeo, eletrodomésticos, sistema
de segurança, robôs para serviços.
Cidades
inteligentes
O ponto de inflexão: A
primeira cidade com mais de 50 mil pessoas e sem semáforos.
Até 2025: 64% dos entrevistados
esperam que esse ponto de inflexão ocorra.
Do que se trata: cidades conectarão
serviços, redes públicas e estradas à internet.
Big
data e as decisões
O ponto de inflexão: O
primeiro governo a substituir o censo por fontes de big data.
Até 2025: 83% dos entrevistados
esperam que esse ponto de inflexão ocorra.
Do que se trata: coleta e
automatização de dados para servir cidadãos e clientes.
Carro
sem motorista
O ponto de inflexão: Carros
sem motoristas chegarão a 10% de todos os automóveis em uso nos EUA.
Até 2025: 79% dos entrevistados
esperam que esse ponto de inflexão ocorra.
Do que se trata: carros que
dispensam o motorista, mais eficientes e seguros.
A
inteligência artificial (IA) e a tomada de decisões
O ponto de inflexão: A
primeira máquina de IA a fazer parte de um conselho de administração.
Até 2025: 45% dos entrevistados
esperam que esse ponto de inflexão ocorra.
Do que se trata: armazenamento
de dados e informações que auxiliam nas decisões complexas (algoritmos).
Robótica
e serviços
O ponto de inflexão: O
primeiro farmacêutico robótico dos EUA.
Até 2025: 86% dos entrevistados
esperam que esse ponto de inflexão ocorra.
Do que se trata: robôs agilizando
as cadeias de fornecimento.
Bitcoins
e blockchain
O ponto de inflexão: 10% do
PIB armazenado pela tecnologia de blockchain.
Até 2025: 58% dos entrevistados
esperam que esse ponto de inflexão ocorra.
Do que se trata: moedas e
transações digitais.
Economia
compartilhada
O ponto de inflexão:
globalmente, mais viagens/trajetos por meio de compartilhamento do em carros
particulares.
Até 2025: 67% dos entrevistados
esperam que esse ponto de inflexão ocorra.
Do que se trata: compartilhamento e
uso de um bem/ativo físico, exemplo: uso do carro em comum, da casa... etc.
Impressão
em 3D e fabricação
O ponto de inflexão: a
produção do primeiro carro em 3D.
Até 2025: 84% dos entrevistados
esperam que esse ponto de inflexão ocorra.
Do que se trata: Produtos complexos
sem equipamentos complexos. A impressora 3D utilizando plástico, alumínio,
aço inoxidável, ligas de cerâmica simultaneamente em processo de fabricação
aditiva.
Impressão
em 3D e saúde humana
O ponto de inflexão: o
primeiro transplante de um fígado impresso em 3D.
Até 2025: 76% dos entrevistados
esperam que esse ponto de inflexão ocorra.
Do que se trata: utilização de
material específicos para produzir órgãos a partir de um modelo digital.
Impressão
em 3D e produtos de consumo
O ponto de inflexão: 5% dos
produtos aos consumidores impressos em 3D.
Até 2025: 81% dos entrevistados
esperam que esse ponto de inflexão ocorra.
Do que se trata: impressão de
eletrodomésticos, por exemplo, feitos por qualquer um que tenha uma impressora.
Seres
projetados
O ponto de inflexão:
nascimento do primeiro ser humano cujo genoma foi direta e deliberadamente
editado.
Do que se trata: o barateamento
do sequenciamento do genoma humano possibilita a expansão de experimentos.
Neurotecnologias
O ponto de inflexão: O
primeiro humano com memória totalmente artificial implantada no cérebro.
Do que se trata: monitorar e
comandar a atividade do cérebro.
Impactos da quarta Revolução Industrial
Mercado
de trabalho
Na escala e amplitude, a atual
revolução tecnológica irá desdobrar-se em mudanças econômicas, sociais e
culturais de proporções tão fenomenais que chega ser quase impossível
prevê-las, alerta Klaus Schwab.
Particularmente, no mundo do
trabalho, a 4ª Revolução Industrial será devastadora. O autor comenta que
há duas posições em debate: Aqueles que acreditam num final feliz
(trabalhadores deslocados pela tecnologia encontrarão novos empregos
desencadeados pelas novas tecnologias) e aqueles que veem um processo crescente
de destruição de empregos. O que está claro é que a onda de inovações irá
alterar profundamente a estrutura ocupacional.
Um estudo da Oxfam Martin
School afirma que os efeitos das inovações tecnológicas afetarão 702
profissões. O estudo aponta ainda que 47% do emprego total nos EUA está
em risco, ou seja, sofrerá profunda transformação. Haverá alteração também
da remuneração: cargos criativos e cognitivos de
altos salários e ocupações manuais de baixos
salários. Muitas relações de trabalho serão alteradas (no sentido de
mudança do padrão do emprego tradicional). Cada vez um número maior de
empregadores utilizará a “nuvem humana” – trabalhadores que podem ser
localizados em qualquer parte do mundo para resolução de problemas e projetos.
As vantagens são a flexibilidade no trabalho, tempo e local. As desvantagens,
porém, é de que se trata de trabalho não regulamentado.
Uma coisa é certa, ainda não é
possível prever o que exatamente acontecerá, mas o talento,
mais que o capital, representará o fator crucial de produção, diz Schwab.
Teremos um mercado de trabalho cada vez mais segregado em segmentos de baixa
competência/baixo salário e alta competência/alto salário.
A quarta revolução
industrial exigirá e enfatizará a capacidade dos trabalhadores em se
adaptar continuamente e aprender novas habilidades.
Negócios
Teremos um grande impacto sobre
como as empresas deverão ser lideradas, organizadas e administradas. Segundo
Schwab, a capacidade do líder de continuamente aprender, adaptar-se e
desafiar os seus próprios modelos conceituais e operacionais de sucesso é o
que irá distinguir a próxima geração de líderes comerciais bem-sucedidos.
A quarta Revolução Industrial
obrigará as empresas a imaginar o funcionamento prático entre os mundos
off-line e on-line e estabelecer parcerias, principalmente com aquelas que
estão na ponta do capitalismo cognitivo. Por exemplo, a parte eletrônica de
um carro hoje já custa 40% do seu valor.
Essa revolução exigirá também que
as empresas consigam combinar as dimensões digitais, físicas e biológicas.
O exemplo bem-sucedido nesse caso é o Uber: “A popularidade do
aplicativo Uber começa com a melhor experiência do cliente – acompanhamento da
posição do carro através de um dispositivo móvel, uma descrição dos padrões do
carro e um processo de pagamento dinâmico, evitando atrasos para chegar ao
destino”. Temos aqui a combinação dos bens digitais com o físico e o biológico
(aplicativo-carro-pessoa).
A questão central colocada para as
empresas com a chegada da quarta Revolução Industrial, segundo o autor:
“Empresas, indústrias e corporações enfrentarão pressões darwinianas contínuas
e, como tal, a filosofia para sempre na versão beta (sempre evoluindo) vai
se tornar mais predominante”.
Nacional
e Global
Os impactos da quarta Revolução
Industrial no mundo da política. Os governos – nacionais, regionais e
locais – precisam se reinventar encontrando novas formas de colaboração com os
seus cidadãos e o setor privado. Essa revolução coloca em perspectiva a situação
de “lidar” com o empoderamento dos cidadãos. Citando Moisés Naím:
“No séc. XXI, será mais fácil chegar ao poder, mas difícil usá-lo e mais
fácil perdê-lo”.
Como exemplo é mencionado o
WikiLeaks, o confronto entre uma entidade não estatal e minúscula e um Estado
gigantesco. O autor, porém, faz um alerta, as tecnologias que podem
empoderar o cidadão, também podem vigiá-lo.
A quarta Revolução Industrial terá
um impacto profundo sobre a natureza dos estados e a segurança internacional,
destaca o autor. Estamos diante da possibilidade da guerra cibernética; dos
robôs voadores (drones); de armas autônomas que atacam alvos de acordo com
critérios pré-definidos; da real militarização espacial – nova geração de
armas hipersônicas (12 mil km); de dispositivos vestíveis – produção de
exoesqueletos que melhoram o desempenho dos soldados; da fabricação aditiva; da
reposição de peças no lugar do conflito; de energias renováveis, a produção de
energia no local sem necessidade de deslocamento ou abastecimento remoto.
Ainda mais, os avanços na
nanotecnologia permitirão armas mais leves, móveis e inteligentes e aumentarão
os riscos de armas biológicas: armas letais que podem se propagar pelo ar;
de armas bioquímicas: armas do tipo “faça você mesmo”. Há ainda o desenvolvimento
de neurotecnologias para uso de fins militares. Computadores ligados ao
cérebro ou partes do corpo que poderão desenvolver o soldado biônico. “O cérebro será o próximo campo de batalha”,
afirma James Giordano, citado pelo autor.
Destaca também o crescente uso
da “mídia social”, plataformas digitais para recrutamento de “militantes”.
Como exemplo tem-se o Estado Islâmico do Iraque e da Síria – ISIS em inglês.
Sociedade-Comunidade-Indivíduo
Na opinião de Klaus Schwab, a
quarta Revolução Industrial poderá levar a um aumento da desigualdade.
Lembra que metade dos ativos do mundo é hoje controlado por 1% (os mais ricos)
da população mundial, enquanto a metade mais pobre da população mundial
possui em conjunto menos de 1% da riqueza global. Há uma tendência que a
riqueza continue concentrada, uma vez que o domínio das inovações
tecnológicas estará e será controlado por um pequeno grupo de empresas.
A quarta revolução industrial, por
outro lado, não está mudando apenas o que fazemos, mas também o que somos.
Estamos frente ao surgimento da sociedade centrada no
indivíduo. “Ao contrário do passado, a noção de pertencer, de fazer
parte de uma comunidade, é hoje definida pelos interesses e valores individuais
e por projetos pessoais que pelo espaço (comunidade local), trabalho e
família”, destaca o autor.
Schwab destaca estudo do MIT em que
44% dos adolescentes nunca se desplugam, mesmo ao praticar esportes ou
durante a refeição com a família e amigos. “As interrupções frequentes
dispersam nossos pensamentos, enfraquecem nossa memória e nos deixam tensos e
ansiosos”, afirma Nicholas Carr, escritor de tecnologia e cultura,
citado pelo autor.
Por outro lado, a revolução
industrial está redefinindo o que significa ser humano:
* Crianças
podem ser feitas sob encomendas?
* Podemos
nos livrar de doenças?
* Viver mais
tempo?
* Ser mais
inteligente?
* Correr
mais rápido?
* Ter certa
aparência? – pergunta o autor.
Isso é desejável? Quais são as
implicações éticas?
O
caminho a seguir – Epílogo
Concluindo o livro, o autor
expressa a sua posição sobre a quarta revolução industrial: Segundo ele, “o
eventual curso tomado pela quarta revolução industrial será, em última
instância, determinado por nossa capacidade de moldá-lo de modo que ela
desencadeie todo o seu potencial (...) os desafios são assustadores como
as oportunidades convincentes. Juntos, devemos trabalhar para transformar
esses desafios em oportunidades, ao nos prepararmos de forma adequada – e
proativa – para seus efeitos e impactos”.
Sugere que “assumamos uma
responsabilidade coletiva por um futuro em que a inovação e a tecnologia
estejam focadas na humanidade e na necessidade de servir ao interesse público,
e estejamos certos de empregá-las para conduzir-nos para um desenvolvimento
mais sustentável”.
Finalmente, conclui: “Acredito
firmemente que a nova era tecnológica, caso seja criada de forma ágil e
responsável, poderá dar início a um novo renascimento cultural que irá
permitir que nos sintamos parte de algo muito maior que nós mesmos – uma
verdadeira civilização global”.
* CESAR SANSON atua nas áreas de docência e pesquisa na Universidade
Federal do Rio Grande do Norte - UFRN com o tema sociologia do trabalho. Possui
graduação em Filosofia e História pela Pontifícia Universidade Católica -
PUC-PR, com especialização em Economia e Trabalho pela Universidade Federal do
Paraná - UFPR, mestrado e doutorado na área da sociologia do trabalho pela
UFPR. É autor de Trabalho e Subjetividade. Da Sociedade Industrial à
Sociedade Pós-Industrial (Natal: UFRN, 2014).
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