Quem ama, torna-se luz!
Telmo José
Amaral de Figueiredo
Padre,
teólogo e biblista
Diocese
de Jales – SP
Estamos em pleno mês de setembro,
tradicionalmente, dedicado à Bíblia. Como acontece todos os anos, a Igreja
escolhe um livro ou texto das Sagradas Escrituras para ser lido, estudado e
meditado durante este mês. Neste ano, o mês da Bíblia tem como tema “Para que
n’Ele nossos povos tenham vida”, a partir da primeira Carta de João (1Jo), e o
lema é “Nós amamos porque Deus primeiro nos amou” (cf. 1João 4,19). A carta faz
parte dos Escritos Joaninos, que incluem o Evangelho de João e três
cartas.
Apesar de ser chamada de “carta” ou
“epístola”, ela não tem a forma de carta. Não possui nome do remetente,
destinatário, local, saudações e bênçãos, como acontece com a segunda e
terceira cartas de João. Seria, então, mais uma homilia (uma pregação) escrita.
No entanto, a primeira Carta de João faz parte da tradição “joanina” com uma
linguagem muito semelhante ao evangelho de João, é provável que a origem deste
escrito tenha sido a comunidade de Éfeso, na Ásia Menor, onde uma tradição
secular coloca a residência do apóstolo João. Essa carta foi escrita, talvez,
entre o final do século I e começo do II século (entre os anos 100 a 130).
Quando a primeira Carta de João foi
escrita, a comunidade passava por uma crise, pois um grupo de cristãos
dissidentes propunha uma doutrina estranha, que afirmava que o homem se salva
graças a um conhecimento religioso especial e pessoal. Esse grupo negava que
Jesus fosse o Messias. Ele não dava valor ao amor ao próximo, pois dizia que a
comunhão consiste, sobretudo, no conhecimento intelectual (gnose, como
se dizia na língua grega). Por isso, os que promoviam esta teoria eram chamados
de gnósticos.
O
centro da primeira Carta de João é o AMOR, que traduz a fé em vida concreta.
Amar ao próximo significa conhecer a Deus, viver na luz, estar unido a Deus e
aos irmãos, não pertencer ao mundo e cumprir os mandamentos. Portanto, amar a
Deus é praticar a justiça, é ser filho de Deus, obter o perdão dos pecados e
libertar-se do medo. Na primeira Carta de João 2,7.10, lemos: “Filhinhos, que
ninguém vos engane. Quem pratica a justiça é justo, assim como ele [Deus] é
justo... Nisto se manifestam os filhos de Deus e os filhos do diabo: quem não
pratica a justiça não vem de Deus, e quem não ama o seu irmão também não”.
Como
é atual e oportuna essa advertência da primeira Carta de João! Vivemos em temos
sombrios, tempos em que várias AMEAÇAS pairam sobre nós: a vida sobre a
Terra está ameaçada pelo aquecimento; as florestas e os mares
pela avidez dos exploradores humanos; os recursos do planeta pelo
consumismo desenfreado; a paz social pela desigualdade escandalosa e
crescente entre ricos e pobres; a verdade pelas fake News; a fé
autêntica em Deus pela promessa fácil de prosperidade; a democracia
pelo populismo autoritário; a liberdade de pensamento e expressão pelo
patrulhamento ideológico que vê “comunismo” atrás de qualquer ideia mais
crítica; a economia solidária pelo capitalismo ultraliberal e
excludente; a harmonia entre as pessoas pela polarização e radicalização
das posturas políticas, sociais e culturais.
Sobre
tudo isso, vem nos chamar a atenção a 25ª edição do “Grito do(as)
excluídos(as)” deste ano. O lema é: “Este sistema não vale!” A vida, o amor, a
paz e a fraternidade entre as pessoas e entre estas e a natureza estão
ameaçados! Por isso, o “Grito” diz, em seu sugestivo cartaz, que “não vale”: o
feminicídio, a intolerância, a guerra, a desunião, a violência, o racismo, a
injustiça, a corrupção, o ódio, a miséria, o latifúndio. O que vale é a VIDA. É
por ela que todos devemos lutar e nos mobilizar: em nossas famílias, em nossas
escolas, em nossas comunidades e em nossos locais de trabalho.
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