«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 21 de novembro de 2020

O papel da tristeza na vida

                                     Quem avisa o presidente?

 Daniel Martins de Barros

Psiquiatra 

Pode não parecer, mas existe uma ligação íntima entre tristeza, raiva e desistência

DANIEL MARTINS DE BARROS

 Ao lado de “homem não chora”, um dos mitos prejudiciais para nossa saúde emocional mais difundido é “desistir não é uma opção”. O menino que ouve que homens não choram entende que a tristeza é uma emoção proibida para ele. 

É difícil para uma criança entender que é possível ficar triste e não chorar – nessa idade, uma coisa leva a outra quase automaticamente. Então, o certo deve ser nem ficar triste. Para não parecer fraco. 

Precisamos parar com essa distorção. Tal exercício contínuo de negação dos sentimentos leva a uma baixa capacidade de discerni-los, afetando o bem-estar e aumentando o risco de depressão.

De tanto querermos que os homens não fiquem tristes, eles acabam se tornando infelizes, veja só.

Além do que, tais ensinamentos criam um ambiente de negação da tristeza que estimula a raiva e a agressividade como únicos recursos para expressar as emoções negativas. 

Já o famigerado “desistir não é uma opção” é fruto de uma cultura que idolatra uma certa ideia de sucesso, valorizando apenas o que considera vitória. Enquanto não comprar a casa, ganhar a promoção, juntar um milhão, casar, ter filhos, o que for, a pessoa não acha que teve sucesso. 

E, cega por seu ídolo, não desiste até alcançar aquilo, mesmo que tenha de sacrificar tudo mais pelo caminho: amizades, relacionamentos, saúde, sanidade. Evidentemente, desistir tem de ser uma opção. Há tantas e tão graves situações em que o melhor a fazer seria mesmo desistir. Quanto sofrimento não seria evitado. 

À primeira vista, pode não parecer, mas existe uma ligação íntima entre tristeza, raiva e desistência. No reino animal, a raiva é a emoção que motiva as disputas, seja por território, comida, reprodução. 

Foto: REUTERS/Dinuka Liyanawatte

Um bicho rosna para o outro, mostra os dentes, faz cara de bravo, cada um tentando intimidar mais o seu adversário. E muitas dessas disputas terminam sem luta: se um dos animais consegue se mostrar realmente imbatível, o outro desiste da briga e abaixa a cabeça, assume uma postura encurvada, com uma queda brusca em sua energia que o ajuda a evitar entrar numa luta perdida. 

Algo muito semelhante à tristeza que sentimos quando perdemos definitivamente algo e acabamos cabisbaixos, sem força, acusando a derrota.

A RAIVA fica numa ponta, tentando fazer o outro desistir, enquanto a TRISTEZA fica na outra, nos ajudando a digerir essa perda.

Parece claro como pode ser tóxico um contexto em que a tristeza e a desistência não são permitidas. Ao contrário do que transmite essa visão superficial da vida interna humana, é preciso muito mais coragem para desistir do que para seguir numa luta perdida. 

Olhar a situação de frente e dizer “É demais para mim”, retirar-se estrategicamente e preservar vida e sanidade requer muita fibra moral. Quem nunca viu pessoas acreditando terem ido longe demais para desistir, escolhendo avançar em direção à tragédia alegando não ter força para desistir? 

Quando vemos alguém reagir com agressividade a situações adversas da vida, vale a pena ficarmos atentos. É alguém atravessando uma fase bastante difícil emocionalmente, mas sem recursos internos para o manejo das próprias emoções por acreditar que homem não chora. 

Se, ainda por cima, a pessoa acreditar que desistir não é uma opção, pode se ver presa numa situação em que não gostaria de estar, mas não consegue sair. Ela nem deixa chegar à própria consciência a sensação de que aquela luta era mais do que poderia enfrentar. No entanto, a percepção de que aquilo não era para si escapa de vez em quando, seja em atos ou em palavras. 

Sem saber muito bem por que o sujeito começa a se sabotar, criar situações embaraçosas para si mesmo, colocar-se em posições insustentáveis, tentando inconscientemente cruzar uma linha que ponha um fim naquele sofrimento. Devemos ficar atentos porque essa pessoa pode dar sinais de que está no limite com frases como “Estou a ponto de explodir”, “Não aguento mais”, ou “Minha vida é uma desgraça, é problema o tempo todo”. Quando ouvimos isso de alguém, é preciso avisar a pessoa que ela está colocando sua vida – e a das pessoas à sua volta – em risco. 

Quem avisa o presidente? 

Fonte: O Estado de S. Paulo – Saúde – Segunda-feira, 16 de novembro de 2020 – Pág. A12 – Internet: clique aqui (acesso em: 21/11/2020).

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