Um País para poucos
A desastrosa marcha à ré do combate à pobreza e à desigualdade
Maria Hermínia Tavares
Professora titular aposentada de Ciência Política da USP e pesquisadora do Cebrap
Os
mais ricos ficaram com quase todo o crescimento da renda de 2017 para cá, no
Brasil
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MARIA HEMÍNIA TAVARES |
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Ali se lê que os ganhos conseguidos entre 2012 e 2014 – e que davam prosseguimento a uma longa trajetória virtuosa de redução do número de pobres e das disparidades de renda – cessaram com a crise econômica de 2015-2016 e foram literalmente revertidos nos dois anos seguintes.
O desarranjo da economia não atingiu a todos da mesma forma nem ao mesmo tempo. A derrocada começou no governo Dilma, provocada por uma leitura míope dos obstáculos da hora, conduzindo a soluções ineficazes para superá-los.
Mas foi ao longo da difícil recuperação que teve início em 2017, já sob o comando da centro direita de Temer & Meirelles, que a sorte dos mais pobres foi selada. Segundo os estudiosos citados, os brasileiros mais ricos se apropriaram de cerca de 80% do crescimento da renda no período, enquanto os ingressos da metade mais pobre caíram 4%. Na mesma proporção cresceu a desigualdade. Sem sombra de dúvida, esse aumento foi o responsável pela ampliação da pobreza.
Os pesquisadores demonstram que o inchaço do desemprego e a queda dos salários foram os vilões da tragédia que desfez sonhos e esperanças de milhões de famílias e multiplicou o número dos sem-teto nas grandes cidades.
A Previdência Social também teve seu papel: os maiores benefícios destinaram-se aos grupos de melhor remuneração. Finalmente, o estudo revela terem sido quase nulos os efeitos compensatórios dos programas de proteção da renda, como o Benefício de Prestação Continuada, o Seguro Desemprego e o Bolsa Família, cujos recursos não acompanharam o aumento dos que a ele teriam direito [Ou seja, os pobres foram intencionalmente abandonados à própria sorte, ou melhor, azar!].
Uma administração que produziu muito progresso, mas não as condições fiscais para sustentá-lo, seguida de outra que em dois anos promoveu impressionante retrocesso social são responsáveis pela marcha à ré do país e pela perda de uma década de mitigação das injustiças.
Não é provável que o quadro melhore neste governo: reduzir pobreza e desigualdade não faz parte de sua agenda retrógrada. Que, ao menos, os democratas com preocupações sociais aprendam com o estrago e se preparem para fazer melhor.
Fonte: Folha de S. Paulo – Colunas & Blog – Quinta-feira, 19 de novembro de 2020 – Pág. A2 – Internet: clique aqui (acesso em: 21/11/2020).
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