«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 14 de novembro de 2020

Reflita...

                                      Estende a tua mão ao pobre

 Dom Odilo Pedro Scherer

Cardeal-Arcebispo de São Paulo – SP 

Aonde levam um mundo e uma vida sem fraternidade, senão ao sofrimento, à violência e à destruição?

 

Neste domingo, 15 de novembro, a Igreja Católica celebra em todo o mundo o Dia Mundial dos Pobres, como já faz há vários anos. Para a ocasião, o Papa Francisco publicou uma mensagem significativa, com o título Estende a tua mão ao pobre, tirado do livro bíblico do Sirácida, ou Eclesiástico. 

O autor sagrado reúne uma série de ditos de sabedoria, que ensinam a viver bem; entre esses conselhos, há os que tratam da relação do homem com Deus e também da maneira como devem ser tratados os pobres, doentes e aflitos. Nesses textos sapienciais já aparece uma síntese das obras de misericórdia, nas quais Jesus, no Evangelho, resume o caminho de perfeição para todos e condição para ter parte na vida eterna feliz (cf. Mt 25). 

Estende a tua mão ao pobre, para que tua propiciação e tua bênção sejam perfeitas” (Sir 7,36). Oferenda a Deus e amor ao próximo são inseparáveis e complementares. O exercício das obras de misericórdia nunca deveria ser apenas um apêndice opcional à adoração e ao louvor a Deus. 

O Dia Mundial dos Pobres foi instituído no final do Ano da Misericórdia – 2016 – para incentivar a cultura do amor ao próximo e a prática do amor aos pobres:

* dar de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede;

* vestir quem está sem roupa, acolher quem está sem casa;

* cuidar dos doentes, consolar os aflitos,

* sepultar com dignidade os mortos e

* não fechar o coração diante de quem sofre. 

A pobreza só aumenta no mundo e deveria interpelar-nos continuamente, levando-nos a perguntar: como podemos ajudar? O que fazer para superar a situação de pobreza e sofrimento de tantas pessoas ao nosso redor? Somos chamados a envolver-nos na experiência de partilha pessoalmente. “O clamor silencioso de tantos pobres deve encontrar o povo de Deus na vanguarda, sempre e em toda parte, para lhes dar voz, defendê-los, solidarizar-se com eles (...) e para os convidar a participarem na vida da comunidade” (n.º 4). 

Na sua mensagem, Francisco observa que, durante a pandemia, muitas mãos generosas se estenderam para os doentes ou aflitos: mãos de médicos, enfermeiros, familiares dos doentes, administradores de estruturas sanitárias, sacerdotes, vigilantes, voluntários. E tantas outras mãos estendidas para aliviar o sofrimento dos pobres, consolar e confortar quem foi atingido pela pandemia. Isso precisa ser valorizado e lembrado. Se a pandemia chegou de surpresa, o ensinamento não chegou de surpresa, pois já era uma lição presente no Evangelho, que fez surgirem tantos belos frutos. “Não nos improvisamos como instrumentos da misericórdia” e todos sabemos que também nós precisamos, muitas vezes, da mão estendida para nos ajudar (n.º 7). 

A pandemia fez-nos experimentar nossa fragilidade e limitação. Muitas certezas caíram por terra e nos demos conta de nossa vulnerabilidade. Sozinhos não resolvemos os problemas e todos precisamos dos outros. A partir dessa experiência, compreendemos melhor a exigência de uma nova fraternidade, que não exclua ninguém, como o Papa Francisco também expressou na encíclica Fratelli Tutti (2020): a solução para os grandes problemas do mundo, como a pobreza, as graves injustiças sociais, o subdesenvolvimento econômico e social, a carências nos serviços públicos básicos para uma vida digna, a violência e a guerra, o cuidado da natureza, tudo clama por uma renovada fraternidade. 

Mesmo assim, ainda há tantas mãos fechadas e tantos braços cruzados, insensíveis diante das necessidades e dos sofrimentos dos outros. A indiferença e o cinismo diminuem a capacidade de se compadecer com os clamores do próximo, de chorar diante do seu drama e de cuidar deles.

“Há mãos estendidas e prontas para apertar o teclado dum computador e deslocar somas de dinheiro duma parte do mundo a outra, decretando a riqueza de restritas oligarquias e a miséria de multidões, ou a falência de inteiras nações. Mãos estendidas para fechar negócios com a venda de armas e outras, (...) prontas para pegar nessas armas para semear morte e pobreza. Mãos estendidas que, na sombra, trocam doses de morte para se enriquecer e viver no luxo e num efêmero desregramento. Mãos estendidas que, às escondidas, trocam favores ilegais para um lucro fácil e corrupto” (n.º 9). 

Enquanto continuar essa lógica das mãos estendidas com cinismo, os pobres e excluídos deste mundo continuarão a sofrer e esperar.

É preciso superar o grande egoísmo concentrador e acumulador e passar da globalização da indiferença a uma nova cultura da fraternidade e da solidariedade.

Aonde levam um mundo e uma vida sem fraternidade, senão ao sofrimento, à violência e à destruição? O sábio da Bíblia, no mesmo contexto citado no início desta reflexão, tem mais um conselho: “Em todas as tuas obras, lembra-te do teu fim” (Sir 7,40). Afinal, qual é o objetivo final da vida, senão o amor, a partilha e a fraternidade? A motivação boa e justa de nossas mãos estendidas ao próximo só poderá ser uma: a expressão do amor, que edifica a convivência e traz a verdadeira alegria. 

Fonte: O Estado de S. Paulo – Espaço aberto – Sábado, 14 de novembro de 2020 – Pág. A2 – Internet: clique aqui (acesso em: 14/11/2020).

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