Um frade multitalentoso falece
Frei Carlos Josaphat Pinto de Oliveira O.P.
Frei Betto
Frade Dominicano e escritor
O
Brasil se despede de um de seus mais ilustres teólogos e intelectuais
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Frei Carlos Josaphat Pinto de Oliveira, dominicano (1921-2020) |
Em 1953, aos 32 anos, o padre Josaphat deixou os lazaristas e optou por ingressar na Ordem de São Domingos. Remetido à França para completar seus estudos, conviveu com eminentes teólogos católicos, como os dominicanos Congar e Chenu, e o jesuíta Karl Rahner. Foi amigo também de destacados filósofos, como Jacques Maritain, Etienne Gilson e Emmanuel Mounier.
Retornou ao Brasil em 1963, onde assumiu, em São Paulo, a função de regente de estudos dos frades dominicanos, e se aproximou na esquerda católica por meio da JUC (Juventude Universitária Católica) e da organização política Ação Popular (AP).
Homem multitalentoso, autor de “O Evangelho e a revolução social” (1962), conhecia em detalhes a vida e a obra de Santo Tomás de Aquino e, além da teologia, dominava a filosofia, psicologia, ética, economia política e comunicação social.
Em março de 1963, reuniu em São Paulo uma equipe de talentosos jornalistas, entre os quais Maria Olympia França, Josimar Melo, Roberto Freire e Ruy do Espírito Santo, e fundou o semanário “Brasil Urgente”, de alcance nacional, cujo lema era “A verdade, custe o que custar; a justiça, doa a quem doer”. Jornal apartidário, propagava politicamente as encíclicas sociais do papa João XXIII e defendia as reformas de base do governo João Goulart, em especial a reforma agrária.
O jornal foi empastelado e fechado
pela ditadura militar em abril de 1964, quando frei Carlos Josaphat,
antevendo os rumos do país, já se havia autoexilado na Europa. A manchete da
última edição do tabloide, de número 55, prenunciava: “Fascistas
preparam golpe contra Jango!”
Nossa igreja no bairro de Perdizes, na capital paulista, onde frei Carlos proferia concorridas homilias e dava cursos de doutrina social da Igreja, teve seus muros pichados: “Fora padre comuna!”
Após um período na França, onde obteve o doutorado, em 1965, com tese sobre ética da comunicação social, instalou-se por quase trinta anos na Suíça, onde foi professor de ética da comunicação no Instituto de Jornalismo e Comunicação Social da Universidade de Friburgo, da qual era professor emérito.
De retorno ao Brasil em 1994, voltou a lecionar na Escola Dominicana de Teologia, em São Paulo, e em várias universidades, além de atender sucessivos convites para proferir conferências. Entre as suas obras se destacam os estudos pioneiros sobre frei Bartolomeu de las Casas; a ética tomista; e a convergência entre Tomás de Aquino e Paulo Freire.
Frei Carlos era homem de permanente sorriso e visceral otimismo. A simplicidade de sua mineirice evitou que ostentasse sua vasta erudição. Publicou 63 livros e inúmeros artigos. Nesses últimos anos, trocou o convento de São Paulo pelo de Goiânia para merecer os cuidados que a sua avançada idade exigia. Foi sepultado em sua terra natal, Abaeté (MG), como tanto queria.
Fonte: CESEEP – Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular– Terça-feira, 10 de novembro de 2020 – Internet: clique aqui (acesso em: 12/11/2020).
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