5º Domingo da Páscoa – Ano B – HOMILIA
Evangelho: João 15,1-8
Naquele tempo, Jesus disse a seus discípulos: 1 «Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. 2 Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais fruto ainda. 3 Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei. 4 Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim. 5 Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permaneceu em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. 6 Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados. 7 Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vós será dado.8 Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos.»
Alberto
Maggi
Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista
italiano
Dando frutos de vida, nos tornamos discípulos de Jesus
Existem algumas passagens do Evangelho que, se entendidas, mudam radical e profundamente a relação com Deus e a relação com os outros. Um deles é o capítulo 15 do Evangelho de João, onde Jesus se apresenta como a videira verdadeira. Vamos ler.
Jesus afirma que “eu sou”, e já reclama a plenitude da condição divina com o nome de Deus, sou a videira verdadeira, e Jesus continua na série de substituições dos grandes valores da tradição do Antigo Testamento com a sua própria pessoa. Jesus anunciou que ele é o verdadeiro pão que desce do céu e não o maná. Jesus disse que é a verdadeira luz e não a lei que ilumina as pessoas e agora diz que é a verdadeira videira. A videira era a imagem com a qual os profetas indicavam o povo de Deus, basta pensar no cântico de amor à sua vinha no capítulo 5 do profeta Isaías ou Jeremias quando o próprio Senhor diz “Eu plantei-te como videira escolhida/excelente” (Jr 2,21).
Bem, agora Jesus dá indicações muito precisas e muito claras. “Meu pai é o agricultor. Todo galho que não dá fruto em mim, ele o corta”. O que significa um ramo que, mesmo estando nele, não dá fruto? Como pode não dar frutos? Aqui, o evangelista faz alusão à comunidade que se reúne em torno da Eucaristia. Na Eucaristia, Jesus se faz pão, alimento de vida, porque quem o acolhe, e esta é a força vital da videira, quem o acolhe poderá então fazer-se pão, alimento de vida para os outros. Quem come o pão, mas não se faz pão para os outros, diz Jesus, não deve ficar na comunidade. Eis porque, não os outros ramos, mas é o Pai que sabe de tudo isso, aquele que corta, elimina.
“Mas todo ramo que dá fruto”, isto é,
quem sempre se faz pão e alimento de vida para os outros, e aqui o
evangelista não escreve poda-o, mas “purifica-o
para que dê mais fruto”. A ação do
Pai, do agricultor, é toda voltada para melhorar sempre a produção da videira
para que dê sempre cachos maiores.
Então é a atenção escrupulosa do Pai que, ao identificar os
elementos negativos nesse galho, é quem os elimina, mas é ele.
Por que isso? Naturalmente, cada um de nós tem limites,
defeitos, imperfeições. Se a pessoa se concentra totalmente em remover
essas imperfeições, esses limites, não faz nada além de centrar-se em si mesma,
e não há nada mais perigoso porque busca uma imagem de perfeição espiritual tão
distante e tão abstrata quanto grande é a sua ambição. Não, Jesus nos diz:
... pense em fazer-se pão, alimento de vida para os outros,
pense em viver para o bem e para bem-estar dos outros e, se há elementos
negativos em você, não você, muito menos os outros ramos, mas será o Pai que
continuamente, de forma sistemática, os eliminará.
Na primeira carta de João este conceito é retomado, onde o evangelista diz “Se o nosso coração nos acusa”, o coração, que significa a mente, “Deus é maior que o nosso coração e conhece todas as coisas” (1Jo 3,20). Então viva em paz, oriente sua vida para o bem dos outros e suas imperfeições, seus defeitos, seus limites, se eles são um impedimento para trazer mais amor – porque muitas vezes não o são, – o Pai cuida de eliminá-los, aqui está a plena serenidade.
Depois, Jesus afirma que: “Vós já
estais limpos por causa da palavra que eu vos anunciei”. A palavra
que Jesus proclamou é o amor que se torna serviço e que se concretiza no
lava-pés. E Jesus continua com o convite a permanecer nele: “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não
pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não
podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim”. Há uma dinâmica,
que é a dinâmica da Eucaristia, da vida comunitária de um amor recebido que
se transforma em amor comunicado. É isso que alimenta e fortalece essa
comunicação de vida.
O serviço ao próximo é a garantia da comunhão com Jesus.
Jesus novamente afirma: “Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto”. Quanto mais se dá, mais se recebe amor e a capacidade de amar, “porque sem mim nada podeis fazer”. Aqui, o verbo “fazer” é o verbo da criação, portanto, se não houver essa comunhão de amor ao fazer o pão, não podemos mais estar associados à ação criadora do Pai.
Aqui, esta imagem do ramo o evangelista explicita com
esta expressão: “Quem não permanecer em mim, será
lançado fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo
e queimados”. A referência é ao profeta Ezequiel, que no capítulo 15
do seu livro fala da inutilidade da madeira da videira. A madeira da
videira serve, apenas, para transmitir a linfa vital para as uvas, diz ele, é o
próprio Senhor quem fala:
“Filho do homem, o que tem o lenho da videira a mais que o lenho de
qualquer outro galho nas árvores da floresta? Tira-se madeira dela para fazer
algum móvel? Faz-se dela um cabide para pendurar algum utensílio? Jogando-a no
fogo para queimar, o fogo consome as duas pontas e a parte do meio fica
chamuscada. Terá alguma serventia? Ora, se ainda inteira não prestava para
nada, tanto menos consumida e chamuscada pelo fogo prestará para alguma
coisa" (Ez 15,2-5).
É por isso que Jesus pegou a videira entre as muitas imagens, porque é a única cuja madeira é inútil. Um objeto pode ser feito da macieira, de outra árvore. A madeira da videira não, ela só serve para carregar essa linfa vital.
Se “seca”, mesmo aqui
a imagem é uma referência ao profeta Ezequiel no capítulo 37 onde o povo de
Israel é retratado como um vale de ossos secos, portanto sem vida. E a
conclusão, “Se permanecerdes em mim”, existem
duas condições:
a) permanecer nele, portanto plena comunhão
com ele, nutrir-se e nutrir os outros; e
b) “minhas palavras
permanecerem em vós”,...
... portanto, não só Jesus, mas suas palavras devem ser absorvidas até mudarem o comportamento do homem, e eis a garantia final: “pedi o que quiserdes e vos será dado”. Mas há a condição de estar em plena comunhão com o Senhor e de que suas palavras tenham criado raízes na pessoa.
E aqui está a conclusão: “Nisto
meu Pai é glorificado”, glória é a visualização do nome, aqui
neste caso de Deus. A glória de Deus não consiste em manifestações
espetaculares ou grandiosas, fruto da ambição do homem, mas que “deis muito fruto”.
Fazer da própria vida um alimento de vida para os outros, um
alimento de amor para os outros, é isso que DÁ GLÓRIA A DEUS.
E “vos torneis meus discípulos”, é dar fruto que torna alguém discípulo, não é o caso de tornar-se discípulo para dar fruto, mas dar fruto é a garantia de ser discípulo de Jesus.
Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.
Reflexão Pessoal
Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo
Tem toda a razão o biblista italiano Alberto Maggi,
quando afirma em seu comentário que acabamos de reproduzir: “Existem algumas
passagens do Evangelho que, se entendidas, mudam radical e profundamente a
relação com Deus e a relação com os outros.”
Como é forte e clara a passagem do Santo Evangelho deste
domingo!
Esse Evangelho nos comunica algumas coisas
importantíssimas:
1º) Jesus somente considera
discípulo seu, aquela pessoa que esteja unida, intimamente e fielmente a ele.
Trocando em miúdos: aquela pessoa que se alimenta dele, pão vivo descido do
céu! Aquela pessoa que comunga de seu projeto de amor, de vida plena.
2º) Somente é discípulo
autêntico de Jesus, quem dá frutos! Quem é capaz de ser pão de vida plena para
os outros! O cristianismo, definitivamente, não é uma religião intimista!
Não é uma espiritualidade voltada para dentro, mas para os outros. Somente quem
alimenta de vida os demais é considerado, por Jesus, discípulos seu!
Há uma ótima e belíssima notícia para todos nós no
Evangelho deste domingo:
* Se
nós permanecermos (confira quantas vezes esse verbo é empregado no
Evangelho deste domingo!) unidos a Cristo, as nossas imperfeições, os nossos
defeitos, os nossos pecados serão purificados, tratados, curados pelo próprio
Pai dos Céus!
* Não
devemos ter a ambição de uma perfeição impossível! Deus Pai nos aceita como
somos, se buscarmos aquilo que ele busca: a paz e a felicidade de seus filhos e
filhas neste mundo! Se não nos colocarmos em primeiro lugar, Deus mesmo cuidará
de nós!
Quanta graça, quanta revelação a palavra do Santo Evangelho nos traz neste domingo!
Fonte: CENTRO STUDI BIBLICI “G. VANNUCCI” – Videomelie e trascrizione – V Domenica di Pasqua – 29 aprile 2018 – Internet: clique aqui (acesso em: 28/04/2021).
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