«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 7 de maio de 2021

É verdade...

 Não basta ser bom, há que ser misericordioso

 Leonardo Boff* 

Quando Jesus manda amar o próximo, significa amar esse desconhecido e discriminado; implica amar os invisíveis, os zeros sociais, aqueles que ninguém olha e passam ao largo

O PAI MISERICORDIOSO: perdão sem medidas

A lei áurea, presente em todas as religiões e caminhos espirituais é: “ame o próximo como a ti mesmo”. Ou dito de outra forma: “não faças ao outro o que não queres que te façam a ti”.

O Cristianismo incorpora essa ética mínima e assim se inscreve dentro desta tradição ancestral. Entretanto, ele abole todos os limites ao amor para que seja realmente universal e incondicional. Afirma:

“Amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem para serdes filhos de vosso Pai. Pois Ele faz nascer o sol para bons e maus e chover sobre justos e injustos. Se amardes a quem vos ama, que vantagem tereis? Não o fazem também os cobradores de impostos? Se saudardes apenas vossos irmãos, que extraordinário há nisso? Não fazem também os pagãos?” (Mateus 5,44-47).

Instrutiva é a versão que São Lucas dá em seu evangelho:

“Amai vossos inimigos. Assim sereis filhos e filhas do Altíssimo porque é bondoso para com os ingratos e maus; sede misericordiosos como o Pai é misericordioso” (6,35-36).

Essa afirmação é profundamente consoladora. Quem não se sente, por vezes, “ingrato e mau”? É então que nos conforta estas animadoras palavras: o Pai é bondoso, apesar de nossas maldades. E assim aliviamos o fardo de nossa consciência que nos persegue por onde quer que vamos. Aqui, ressoam as consoladoras palavras da primeira epístola de São João: “se nosso coração nos acusa, saiba que Deus é maior do que seu coração” (1Jo 3,20). Estas palavras deveriam ser sopradas ao ouvido de todo o moribundo com fé. 

Tanta compreensão divina nos reporta às palavras de um dos mais alentadores salmos da Bíblia, o Salmo 103:

“O Senhor é rico em misericórdia. Não está sempre acusando nem guarda rancor para sempre. Quanto se elevam os céus sobre a terra, tanto prevalece sua misericórdia. Como um pai sente compaixão pelos filhos e filhas, assim o Senhor se compadece dos que o amam, porque conhece a nossa natureza e sabe de que somos pó” (9-14).

Uma das características do Deus bíblico é sua misericórdia, porque sabe que somos frágeis e fugazes “como as flores do campo; basta o bafejar do vento para não existirmos mais” (Salmo 103,15). Mesmo assim nunca deixa de nos amar como filhos e filhas queridos e de se compadecer de nossas debilidades morais. 

Uma das qualidades fundamentais da imagem do Deus que o Mestre nos comunicou foi exatamente sua misericórdia ilimitada.

Para ele não basta ser bom. Tem que ser misericordioso.

A parábola do filho pródigo o ilustra com rara ternura humana. O filho saíra de casa, malbaratou toda a herança numa vida dissoluta e, de repente, saudoso, resolveu voltar para casa. O pai ficava longo tempo, esperando-o, olhando para a esquina da estrada para ver se ele aparecesse. Eis que: “ainda longe” como diz o texto, “o pai viu o filho e, comovido, lhe correu ao encontro e se lançou ao pescoço cobrindo-o de beijos” (Lucas 15,20). Eis o supremo amor que se faz misericórdia. Nada lhe cobra. Basta com estar de volta à casa paterna. E preparou-lhe, cheio de alegria, uma grande festa. 

Esse pai misericordioso representa o Pai celeste que ama os ingratos e maus. Acolheu com infinita misericórdia o filho que se havia perdido na vida. O único filho que é criticado é o filho bom. Serviu o pai em tudo, trabalhou, observou todos os mandamentos. Era bom, muito bom. Mas para Jesus não bastava ser bom. Tinha que ser misericordioso. E não o foi. Por isso é o único a receber uma reprimenda por não compreender o irmão que regressou. 

Mas releva enfatizar um ponto que mostra a singularidade da mensagem do Nazareno. Ele quer ir além de simplesmente amar o próximo como nos amamos a nós mesmos. Quem é o próximo para Jesus? Não é o meu amigo, nem aquele que está próximo, ao meu lado.

Próximo para Jesus é todo aquele de quem eu me aproximo.

Pouco importa sua origem ou sua condição moral. Basta ser um humano. 

O BOM SAMARITANO exemplo de misericórdia

A parábola do bom samaritano é emblemática (Lucas 10,30-37). Jaz à beira da estrada, “semi-morto” um joão-ninguém, vítima de um assalto. Passa um sacerdote, talvez atrasado no seu serviço no templo; passa também um levita, apressado, na preparação do altar. Ambos o viram e “passaram ao largo”. Passa um samaritano, um herege para os judeus; “teve cuidado dele e teve misericórdia para com ele”, curando-lhe as feridas e levando-o a uma hospedaria e ainda deixando tudo pago e mais que fosse preciso. “Quem dos três foi o próximo?”, pergunta o Mestre. Foi o herege que se aproximou da vítima dos assaltantes.

O amor não discrimina, cada ser humano é digno de amor e de misericórdia.

Seguramente o sacerdote e o levita eram gente boa, mas lhes faltava o principal: a misericórdia, o coração que se comove diante da dor do outro. 

Resumindo, quando Jesus manda amar o próximo, significa amar esse desconhecido e discriminado; implica amar os invisíveis, os zeros sociais, aqueles que ninguém olha e passam ao largo, amar aqueles que no momento supremo da história, quando tudo será tirado a limpo, ele os chama de “os meus irmãozinhos menores”:

“Quando amastes a um desses, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40).

São Francisco foi aquele que melhor entendeu este “mais” singular da mensagem de Jesus. Por isso, em sua oração pede: “que eu procure mais consolar que ser consolado, mais compreender que ser compreendido e mais amar que ser amado”. 

A Covid-19 está mostrando, especialmente, nas periferias, junto aos criticados membros do Movimento dos Sem Terra e dos Sem Teto e de outros, que a mensagem do amor misericordioso, vivida pelo Filho do Homem, não se apagou e está ainda viva e acesa. 

* Leonardo Boff, pseudônimo de Genézio Darci Boff (nascido em Concórdia [SC], aos 14 de dezembro de 1938), é um teólogo, escritor, filósofo e professor universitário brasileiro. Boff é expoente da Teologia da Libertação no Brasil e conhecido internacionalmente por sua defesa dos direitos dos pobres e excluídos. Foi membro da Ordem dos Frades Menores (franciscanos) e atualmente é professor emérito de Ética, Filosofia da Religião e Ecologia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Seu trabalho atual está relacionado principalmente às questões ambientais. Recebeu mais de dez prêmios e títulos nacionais e internacionais. Autor de centenas de livros publicados no Brasil e em vários países do mundo. Seu site é acessível aqui. 

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sexta-feira, 7 de maio de 2021 – Internet: clique aqui (acesso em: 07/05/2021).

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