Inflação é fome, inflação é morte
Olhando por detrás dos números
Editorial
Jornal «O Estado de S. Paulo»
Para
dezenas de milhões de famílias, inflação significa maior dificuldade para
comer, morar, manter crianças na escola e pagar contas de água, luz e gás.
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A imagem diz tudo! Na frente de um cartaz de propaganda enganosa, a triste realidade! |
Fora do tal “mercado”, a realidade prosaica é bem menos
confortável.
Para começar, o recuo de 0,60% para 0,44% ocorreu na média da variação de preços. Há detalhes muito mais feios que a média e muito mais incômodos no dia a dia das pessoas “comuns”. Com alta de 0,48%, o custo da alimentação cresceu mais que no mês anterior:
1) O gás de botijão encareceu 1,45%, menos que em
abril (2,49%), mas esse preço aumentou pelo 12.° mês consecutivo. Mas é
outro o ponto mais importante, aparentemente esquecido por quem falou em
trégua.
Os novos aumentos, mesmo os mais limitados, ocorreram sobre preços já muito elevados. Para as famílias, a situação já era ruim e continuou piorando. Nos 12 meses até maio, o IPCA-15 subiu 7,27%. Essa foi a maior variação desse tipo desde aquela registrada nos 12 meses terminados em novembro de 2016, de 7,64%.
Não há como confundir aumento menor e diminuição de preços.
Nos 12 meses até maio, o custo da alimentação, medido pelos critérios do
IPCA-15, subiu 12,19%. Mas isso também é um número médio.
2) O grupo cereais, leguminosas e oleaginosas, no
qual se incluem feijão e arroz, encareceu 40,82% nesse período.
3) Os preços das carnes subiram
35,68%.
4) Leite e derivados passaram a custar 11,32%
mais.
5) No caso do gás, a alta chegou a 21,09%.
Esses níveis foram alcançados porque os novos aumentos, grandes ou pequenos, ocorreram sobre bases muito elevadas. Ninguém paga, no supermercado, apenas a variação de preço registrada nos últimos 7 ou 30 dias. Paga o preço anterior mais o novo aumento – ou, na melhor hipótese, o preço anterior menos a variação negativa. Esses detalhes talvez sejam menosprezados quando se cuida do dia a dia dos ativos financeiros, mas sua importância é vital para as famílias.
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O Brasil andou para trás mais de 12 anos! A extrema pobreza tem atingido níveis daqueles sombrios tempos que pensávamos ultrapassados |
É impressionante o ritmo dos aumentos de preços
Nem a fantasia da trégua, no entanto, durou uma semana. O IPCA-15, apurado entre 14 de abril e 13 de maio, foi divulgado no dia 25. Três dias depois, a Fundação Getulio Vargas publicou o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), pesquisado entre 21 de abril e 20 de maio. O indicador subiu 4,10%, contra 1,51% na apuração anterior, e acumulou alta de 14,39% no ano e de 37,04% em 12 meses.
O aumento foi puxado pelos preços no atacado, com alta
de 5,23% no mês e 50,21% em 12 meses. Esse componente tem peso de
60% na formação do IGP-M. No mês, as matérias-primas brutas encareceram 10,15%,
refletindo principalmente as cotações internacionais.
Os bons preços externos de mercadorias agrícolas e minerais têm
assegurado uma robusta receita comercial ao Brasil, mas têm afetado
perigosamente os preços internos.
Esse efeito tem resultado também da relação entre o dólar e o real, uma das moedas mais desvalorizadas do mundo. Essa desvalorização tem refletido a insegurança dos investidores quanto à evolução das contas públicas e diante das prioridades presidenciais.
Alta de preços no atacado acaba afetando os preços no varejo, embora o aperto das famílias dificulte o repasse. Os preços ao consumidor, segundo componente mais importante do IGP-M, subiram 0,61% na última apuração, bem mais que na anterior (0,44%). Em 12 meses, a alta chegou a 7,36%, número parecido com o do IPCA-15. Fora do mercado financeiro existe a inflação sem gravata. Esta é muito mais feia.
Fonte: O Estado de S. Paulo – Notas & Informações – Domingo, 30 de maio de 2021 – Pág. A3 – Internet: clique aqui (acesso em: 30/05/2021).
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